A ARTE GÓTICA (2ª Parte)

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Autoria do Prof. Pierre Santos

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Com a descrita estrutura armada pelo arquiteto gótico, as paredes perderam a função de sustentar, como antes, conservando apenas a de mera vedação. O resultado foi que, deste modo, pôde o arquiteto multiplicar à sua vontade os vãos de iluminação interna e soube tirar extraordinário partido do fato, pondo nessas aberturas imensos vitrais coloridos, os quais filtravam a luz desde o exterior, fazendo-a penetrar no seio da igreja em feixes multicores a lembrarem o sonho e a fantasia. Assim, banhada de luz, ampliada para os lados e para a profundidade e impulsionada para o alto, numa grandiosidade que – guardadas as proporções das possibilidades tecnológicas das épocas – nem pela armação do concreto armado se verá superada dentro de suas preocupações (sabendo-se que as da época do cimento são bem diversas), a catedral gótica, esbelta e leve, como que suspensa num vôo, cumpriu soberbamente o programa da igreja em seu grande sonho de traduzir, na linguagem das formas de seus templos, os ideais de enlevo e êxtase, tal um cântico reboando pelo espaço afora, infinitamente a modular-se.

Embora em seu aparecimento o gótico tenha sido saudado como um milagre construtivo, o fato é que as suas primeiras realizações ainda eram acanhadas perto daquelas que viriam depois, cujas propostas iriam amadurecendo pausadamente ao longo de quatro séculos a partir do final do século XII, e se dariam em cinco períodos bem caracterizados:

1º Período – do final do século XII ao século XIII – foi chamado de Gótico primitivo, quando apenas algumas soluções foram incorporadas às construções, como aconteceu com a Igreja de Saint Denis, de Paris, na verdade o primeiro templo gótico edificado.

2º Período – do final do século XIII ao século XIV – foi chamado de Gotico lanceolado ou de lanceta, quando se acentuam o verticalismo com o emprego do arco mais agudo e o uso do vitral, aparecendo externamente e em profusão o elemento decorativo denominado lancete. Foi a época das grandes construções, principalmente pela França afora.

3º Período – do final do século XIV ao século XV – foi chamado de Gótico Irradiante, com suntuosa decoração interna e nas fachadas.

4º Período – do final do século XV ao século XVI – foi chamado de Gótico Flamboyant  ou Flamejante, pelo excesso na decoração dos templos da época de um elemento em forma de labareda, donde o nome.

5º Período – século XVI – foi chamado de Gótico Manuelino, em homenagem a D. Manoel, Rei de Portugal à época e exclusivo daquele País, estilo que tem sido muito admirado ao longo do tempo. O arquiteto português usou em suas construções, sobretudo nas civis, elementos decorativos inspirados nas navegações e descobrimentos marítimos de seu povo.

Mas a roldana das sucessões estéticas não para de girar: tendo explorado até ali todas as possibilidades do equacionamento de seus problemas arquitetônicos, nos inúmeros sub estilos que vai assumindo em seus vários séculos de existência, a Arte Gótica chega à sua exaustão e será em seguida superada pelas novas formas e novo vocabulário de expressão artística da Renascença que, havia muito, se vinha preparando para dominar a cena. Mas, não vai sem méritos o seu declínio. O templo medieval, em sua esteira o gótico, primara pela fusão das artes, vindas colaborar em uma finalidade comum; nessa colaboração, a arquitetura subordinava à sua expressão as demais artes. As épocas posteriores vão primar pela libertação das artes, fazendo-as autônomas e independentes umas das outras, cuja independência haveria de manter-se, inclusive quando reunidas no mesmo complexo artístico, sem que uma delas subjugasse as outras, embora nesses períodos se tenha dado a predominância da arte pictórica, mas apenas em sua condição de veículo mais propício às expressões humanas. Entretanto, quando vemos nas portadas de Chartres, de Compostela e de outras catedrais e nas suas fachadas sempre movimentadas, ao contrário das igrejas românicas, aquelas esplêndidas esculturas que as decoram, produzidas pelo artista gótico, parece-nos que, saindo dos interiores, vieram à porta reclamar liberdade – e na elegância de seu porte, na fluidez natural das linhas que as compõem e, principalmente, na luz transbordante de reflexos humanos que lhes animam a fisionomia, começamos, também com um sorriso, a vislumbrar os primeiros clarões do humanismo, que se aproximava.

Nascido na França onde conheceu o seu maior desenvolvimento, o gótico logo se expandiu principalmente para Inglaterra, Alemanha, Espanha e Portugal. Mas não teve na Itália boa receptividade, onde os arquitetos optaram por certo aperfeiçoamento do estilo românico e poucas soluções do gótico foram ali acolhidas, mas nunca a ponto de caracterizar as suas construções como tais, à maneira francesa. As manifestações puramente góticas em certas cidades no norte, como Milão (cujo Duomo se tornou famoso) e Veneza (que empregou o estilo, sobretudo em construções civis, tais como o Palácio Ducal e a Cà d’Oro), são meras exceções. É que os italianos, quando o estilo atingia a maturidade em outros países, já começavam, de Giotto a Masaccio, a preparar o Renascimento; além disso, desde então demonstravam certo desprezo pelo estilo, denominando-o ora de “obra de francês”, ora de “estilo gótico”, pejorativamente, talvez como revanche contra a dominação dos godos na Península. Embora o estilo nada tivesse a ver com os godos, o nome dado pelo visto por pilhéria, acabou pegando e batizando o estilo.

Suas mais importantes edificações foram, na França: as Igrejas de Saint-Denis, Neuilly, Issoire, as Catedrais de Paris (Notre-Dame é apontada como síntese do estilo e a Sainte-Chapelle a jóia do vitral), Laon, Chartres, Soissons, Amiens, Beauvais (a mais ampla de todos), Reims, Auxerre, Dijon, Rouen (tantas vezes pintada por Monet), Clermont, Limoges, Narbona, Albi, Lyon, Estrasburgo; na Inglaterra: as Catedrais de Lincoln, Salisbury, Lichfield, York, Canterbury, Wells, Exeter, Gloucester, Ely e a famosa Abadia de Westminster; na Alemanha: Dortmund, Berlim, Colônia, Friburgo, Naumburgo; na Espanha: Burgos, Toledo, Leon, Compostela, Valladolid; e, em Portugal: Mosteiro da Batalha, Catedrais de Setubal, Moura,        Viana de Alentejo e Santarém (onde estão os restos mortais de Pedro Álvares Cabral). Outros países também adotaram o estilo, nas as versões do gótico tardio, adaptando-as às próprias criações e necessidades, como a Áustria, onde não se pode deixar de citar a bela Igreja de Santo Estêvão, na cidade de Viena.

Ilustrações
1.Fachada belamente decorada da Catedral de Notre-Dame de Reims – séc. XIII/
2.Detalhe dos Profetas do Pórtico da Glória, da Catedral de Santiago de Compostela – 1168-88.

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