Autoria de LuDiasBH
Ele me toca o corpo com mãos macias.
Pelo correr dos dedos imagino a petição.
Meus desejos fecham-se com fortes elos.
Meu corpo refuga-se de tal relação.
Sinto-me vazia, desértica de sentimentos.
O passado inexiste, esvaiu-se em fumaça,
depois daquela carta má, rabiscada à mão,
só me resta o bote perverso da vingança.
Martírio, inda não lhe poder jogar na cara
minha raiva soturna, transida de emoção.
Os elos são árvores de ramos retorcidos
que se desfazem no bosque da decepção.
Rompeu-se a cortina vaporosa e ilusória
de um grande amor por tolos acalentado.
Que retumbe a melodia vil do desespero,
e que a desilusão ressoe forte pelos ares.
Não sei mais em que parte do caminho,
nós soltamos nossas mãos antes amigas.
Agora, ele vagueia feito um cavalo afoito,
e abrasa o leito de “damas” e raparigas.
A missiva, com cheiro de perfume ruim,
boca fina pintada com batom escarlate,
veio atada com uma fita de renda barata,
escrita: “Meu grande amor, morro por ti!”
Ele não colheu a prova cabal da desdita,
pois, a dita veio acabar em minhas mãos.
Amanhã é o dia fatal: ele e eu, cara a cara.
Pro diabo coa vida de macho, decaída.
Cedo-lhe meu corpo inânime, indiferente,
enquanto viajo nas asas ágeis do tempo.
E, com pena, oferto-lhe a minha esmola:
pela última vez servir-lhe de recipiente.
Canalha!
Nota: Danae e Cupido (1544/1546) de Ticiano (ou Tiziano) Vecellio (1488 – 1576)
Lu
Como diz um velho ditado: Vingança é um prato que se come frio.
Beijos
Nel
Nel
Você tem toda a razão, embora o melhor mesmo é o esquecimento.
Beijos,
Lu