Dürer – MELANCOLIA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

melanc

Segundo Vasari, esta obra causou perplexidade no mundo inteiro e, no início do século XX, Heinrich Wölfflin afirmou que ao longo dos séculos a obra teria sido ‘um campo de batalha das interpretações’ ou, no dizer de Philip Sohn, um ‘pântano de interpretações’. (Lages, op. cit., p. 210).

(…) aliança entre geometria e melancolia tem uma longa tradição: aqueles dotados para a geometria são predispostos à melancolia, porque a consciência de uma esfera situada fora de seu alcance faz sofrer àqueles que têm o sentimento da limitação e insuficiência no plano do espírito.” (Matos, 1989, pág. 152)

Esta obra é não só um marco na história da gravura e na história da arte em geral, como também na história específica da representação da melancolia nas artes plástica e na história da melancolia tout court. (Lages, 2004, p. 209).

Melancolia, clássico do Renascimento alemão, é uma das obras simbólicas do artista alemão Albrecht Dürer, toda feita em cobre. Ao observamos os elementos contidos na composição, notamos que, separadamente, cada um tem uma simbologia específica, mas reunidos denotam uma tristeza indefinida, um estado depressivo, um vazio existencial, como se tudo houvesse perdido o sentido. A obra, riquíssima em detalhes, é um complexo objeto de estudo desde aqueles tempos aos dias de hoje.

Nesta composição nós podemos observar como o artista fez uso da geometria, ao misturar imagens religiosas com outras do cotidiano. A pintura apresenta-nos um local em ruínas, tendo como personagem central uma figura alada, provavelmente um anjo, com o rosto apoiado na mão esquerda e o cotovelo na perna. Traz o olhar enraivecido, perdido no nada, e o semblante moldado por visível descontentamento, como só os melancólicos sabem ter. Tem na cabeça uma coroa de louros. Os cabelos em desalinho despencam-se por suas costas e ombros. Na cintura de suas vestes desarrumadas estão penduradas chaves e uma bolsa de dinheiro. Na mão esquerda segura um compasso sobre um livro aberto, como se pretendesse desenhar algo.

Em torno do anjo vários objetos encontram-se espelhados desordenadamente pelo chão: uma esfera, uma pedra multifacetada, pregos, torquês, régua, plaina, serrote, madeira e frascos, entre outros não identificáveis. Dependurados num minarete, atrás do anjo, estão: uma balança, uma ampulheta com a areia pela metade, uma escada, um sino e uma tabuleta com números (quadrado mágico). À direita do anjo grande encontra-se um triste anjinho sentado sobre uma roda de moinho, com um livro no colo, perdido em seus devaneios, e um cão enrodilhado. Até o rosto do animalzinho é triste.

À direita do anjo, ao fundo, um semicírculo, representando o arco-íris, tem dentro o sol que emite fachos de luz nas diversas direções. Abaixo, nota-se o oceano e uma vila. Pelos reflexos vistos nas vestes do lado esquerdo do anjo e em outros elementos presentes na composição presume-se que outra fonte de luz entra pela esquerda da cena. Dentro do semicírculo, um cartaz é segurado por um animal não identificado, onde está escrita a palavra que dá nome à composição: Melancolia I.

Esta obra de Albrcht Dürer vem sendo elemento de muitas interpretações ao longo dos anos. Dentre essas, a mais aceita é a de Walter Benjamin que a considera um ícone de nossos tempos, pois vivemos sob a ditadura do número, do peso e da medida, desprovidos do encantamento de um mundo divinizado que foi desaparecendo após o Renascimento.

“No deserto da evidência técnica e da grandeza, ela torna visível a angústia do homem privado da evidência do divino, prisioneiro do real que ele domina pela ‘geometresse’ da natureza por meio de uma ciência abstrata. A tragédia da perda da harmonia com o cosmo, a tragédia do afastamento e da distância divina – aprofundada e acentuada pela opacidade da matéria corpórea – deixa na melancolia uma marca ineludível; encontra na ‘patologia’ atrabiliar um resíduo ameaçador e resistente” (BENJAMIN, apud Matos, 1993, p. 84)

Curiosidades:

• O numeral romano “I”, após o título gravado, sugere que Dürer tinha em mente projetar e executar uma série de quatro gravuras de cobre, ilustrando os quatro temperamentos: melancólico, fleumático, colérico, e otimista, pensam alguns.

• Sugestões de que uma série de gravuras sobre o assunto foi planejado geralmente não são aceitos por outros. Parece-lhes mais provável que o “I” refere-se ao primeiro dos três tipos de melancolia definidos pelo escritor humanista alemão Cornelius Agrippa. Neste tipo — Melencholia Imaginativa — os artistas ficam sujeitos à “imaginação”, predominante sobre a “mente” ou “razão”.

• Os “Quatro Temperamentos” foram conectados imediatamente com os quatro humores do corpo (bile negra, fleuma, bile amarela, sangue). Um pouco mais remotamente eles estavam conectados com os quatro cores marcantes que indicavam os estágios da alquimia (preto, branco, citrino, vermelho).

• A escada de sete degraus é outra característica comum do simbolismo alquímico. Os degraus representam os sete metais, as operações da alquimia e os organismos associados celestes.

• Na Renascença o cão deitado aos pés do dono era considerado um símbolo de resistência e de coragem, mas também um símbolo de perseverança e dedicação.

• No passado, a melancolia era associada à inteligência. Michelangelo, o artista da capela Sistina, escreveu: “a minha alegria é a melancolia”. Escultor, naturalmente largo de corpo por via do ofício, trabalhador compulsivo, o florentino era dado a estados de alma.

• A data de 1514 é exibida na linha inferior do quadro mágico assim como acima do monograma de Dürer na parte inferior direita.

• Observem que a tabuleta traz o famoso Quadrado Mágico de Dürer. Clique no link para entendê-lo: Dürer – O QUADRADO MÁGICO

Dados técnicos:
Ano: 1514
Tipo: gravura
Dimensões: 24 x 18,8
Localização: Kunsthalle Staatliche, Karlsruhe, Alemanh

Fontes de pesquisa
http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/441119
http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S1518-95542009000200013&script=sci_arttext

Albrecht Durer’s Melencolia


http://linha-dos-nodos.blogspot.com.br/2005/10/melancolia-ou-alegoria-do-gnio-eprimid.html

6 comentaram em “Dürer – MELANCOLIA

  1. Antônio

    Lu

    A riquesa de elementos desconexos, um cão disforme ,um mix do terreno e celestial me faz reportar à abstração dos quadros figurativos surrealistas, cuja escola surgiu em 1920. Certamente uma arte que provocou muitas celeumas à época.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Antônio

      Trata-se de uma muito complexa. Mais para frente iremos estudar o estilo surrealista. Há muita coisa interessante nele.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  2. MichaelFup

    A vida não é perpétua. Claro, isso é uma verdade comum, mas lembre-se disso! Como podemos entender a essência da vida se hospedamos sempre no mesmo lugar? Se você não gosta do lugar onde está – mova-se, pois não é uma árvore. Pelo mesmo princípio, eu quero dizer que a viagem é um componente importante da vida feliz. Não vamos perder a vida sem sucesso, mas explorar esta maravilhosa Terra! Resta começar a mover-se, basta clicar em fenômenos naturais e você verá todas as riquezas do nosso mundo, que estão perto de nós. Muitas vezes, eles estão ao virar da esquina, mas não podemos encontrar tempo para conhecer o mundo. Um poema famoso diz: “O que é esta vida se, cheio de cuidados, não temos tempo para parar e olhar …” Vamos mudar a nossa vida!

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Michael

      Você tem toda a razão. Em vez de gastarmos nosso dinheiro ajuntando coisas materiais, nada como enriquecer a nossa vida fazendo belas viagens, conhecendo outros povos e outras culturas. Muitas vezes as maravilhas da Terra estão bem próximas de nós, sem que as percebamos.

      Um grande abraço,

      LuDias

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  3. célia

    Minha querida amiga Lu, parabéns!!!! Não vejo a hora de chegar aí prá nós tomarmos aquele chopp gelado para bebemorarmos o blog.
    Adorei!!!
    beijinhos

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Celita Linda

      Criei este cantinho para nós.
      Visite-o sempre.

      Estou aguardando você para o chop.

      Beijos,

      Lu

      Responder

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