Arquivo da categoria: Apenas Arte

Textos sobre variados tipos de arte

Ribalta – CRISTO ABRAÇANDO SÃO BERNARDO

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor barroco, desenhista e gravador espanhol Francisco Ribalta (1565-1628) foi o principal pintor de Madri no início do século XVII, tendo o abandonado o Maneirismo em favor do estilo realista. Foi o primeiro espanhol a ser influenciado pelo novo realismo iniciado por Caravaggio na Itália. Seu uso de luz e sombra a fim de dar solidez às suas formas fez dele o primeiro tenebroso espanhol nativo — um pintor que enfatiza as trevas em vez da luz. Serviu de grande influência para os pintores espanhóis posteriores, durante todo o restante do século XVII. Ele teve inúmeros seguidores, como Jerónimo Jacinto de Espinosa e seu filho Juan que faleceu ainda muito jovem — nove meses após a morte do pai — com 32 anos de idade. Executou vários quadros para o arcebispo Juan de Ribera em Valência.

A pintura religiosa intitulada Cristo Abraçando São Bernardo é uma obra-prima do artista. Trata-se de um trabalho monumental, com uma composição simples em que as formas são muito bem modeladas e de uma iluminação realista. A representação da visão é arrebatadora, obtendo Ribera o máximo efeito. A luz fortemente concentrada no Cristo e em São Bernardo tornam as figuras quase que reais. Obras tardias como esta antecipam os trabalhos de Diego Velázquez, Francisco de Zurbarán e José de Ribera no final do século XVII.

Cristo — ocupando a parte central da composição — traz o corpo ensanguentado pelas feridas ocasionadas pelos pregos e pela coroa de espinhos. Ele desce da cruz para abraçar São Bernardo. Seus pés ainda estão pregados no grosso madeiro. Sua cabeça volta-se com extrema ternura para o santo que desfalece em seus braços. O Salvador ampara-o. São Bernardo, representado à esquerda, é visto como uma pessoa magra, com as maçãs do rosto salientes e olhos fundos e fechados diante da presença do Salvador. Seu rosto, iluminado por um sorriso tênue, exprime um profundo sentimento de enlevo. Dois personagens postados à esquerda e à direita presenciam a cena, ficando praticamente despercebidos no fundo escuro da tela.

Ficha técnica
Ano: 1625/1627
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 158 x 113 cm
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições
https://www.museodelprado.es/en/the-collection/art-work/christ-embracing-saint-
https://www.britannica.com/biography/Francisco-Ribalta#ref11273

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Irmãos Limbourg – MAIO

Autoria de Lu Dias Carvalho

Era muito comum na Idade Média a ilustração de calendários com quadros de ocupações relativas aos meses do ano. A ilustração acima, intitulada “Maio”, faz parte de um calendário anexado ao Livro de Horas, encomendado à oficina dos irmãos Limbourg (Paul e Jean). Presume-se que a composição tenha sido pintada com lupa.

As imagens têm por inspiração a vida real. Trata-se de uma representação de festejos relativos à primavera, comemorados pelos cortesãos. O grupo formado por quinze figuras cavalga em meio a um bosque. Homens e mulheres usam vestimentas e enfeites requintados e alegres.  O artista separa os cortesãos do suntuoso castelo, do qual divisamos os telhados, usando uma cerca feita de árvores, como se fosse uma cortina esverdeada.

Ainda que a arte dos dois irmãos artistas pareça um modo simbólico de contar uma história, usado por pintores medievais de tempos anteriores, pois é possível notar que a representação do espaço, onde as figuras se encontram, não foi bem reproduzido, o rigor nos detalhes leva a uma ilusão da realidade.

As inúmeras árvores dispostas não são reais, ou seja, não foram copiadas da vida real, sendo apenas simbólicas. Os rostos humanos ainda são criados a partir de um único modelo, trazendo apenas poucas diferenças entre uns e outros. Ainda assim, vários pontos separam esta pintura daquelas do início da Idade Média, sobretudo a alegria nela estampada. Já denota uma busca no sentido de representar uma fração da natureza da maneira mais fiel possível, distanciando-se, ainda que gradualmente, da maneira de contar uma história sagrada, como em tempos anteriores.

Ilustração: 1. Maio, c. 1410, obra dos irmãos Limbourg.

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

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Lucian Freud – MOÇA COM CÃO BRANCO

Autoria de Lu Dias Carvalho

O artista Lucian Freud (1922 – 2011) era filho de um arquiteto e neto do psicanalista Sigmund Freud. Nasceu em Berlim/Alemanha, mas se mudou para o Reino Unido com a sua família, ainda criança, fugindo do Nazismo. Tornou-se cidadão britânico e, ao lado de Francis Bacon, é tido como o principal pintor figurativo inglês do século XX. A partir dos meados dos anos de 1960, ele optou pela pintura de nus e, para criar a sensação de flacidez da pele, passou a usar pincéis mais ásperos e largos. Pintou principalmente pessoas com as quais tinha contato (membros de sua enorme família, amantes ou amigos íntimos) e que posavam durante muito tempo para ele. Não dava importância à expressão facial, alegando ser essencial que a “expressão venha à tona através do corpo”. Ainda assim, os seus retratos pareciam transmitir um sofrimento espiritual.

A composição intitulada Moça com um Cão Branco faz parte das primeiras pinturas de Lucian Freud, quando ele apresentava composições nítidas e lineares. É tido como uma das obras mais notáveis do artista e de difícil descrição. Muito da atmosfera fria, densa e desnorteante de suas primeiras obras tem a ver com o Surrealismo. Este é o último dos retratos criados pelo artista, no qual toma como modelo sua primeira mulher Kitty Garman, filha do reconhecido escultor Jacob Epstein. O mais surpreendente é que a união de Lucian e Kitty findou logo depois de ele ter terminado esta obra extremamente ordenada. O artista pintou muitos retratos de Kitty durante seu breve casamento que terminou em divórcio em 1952 por causa de suas infidelidades crônicas.

A modelo apresenta-se com uma expressão de cansaço, com cavidades profundas sob os olhos, usando um roupão verde, com o seio direito de fora, sentada sobre o que parece ser um sofá ou um colchão desprovido de forro, num cenário severo (uma representação do ateliê do artista), o que leva à presunção de que se refere a uma cena íntima. Ela traz olhos grandes levemente assimétricos, correspondendo à expressão popular de que “os olhos são o espelho da alma”. Eles parecem fixos no observador, mas ao mesmo tempo mostram-se perdidos, expressando receio e aflição — carregados de uma grande tensão psicológica.

Kitty encontrava-se grávida de sua segunda filha, quando estava sendo retratada para esta obra. O seio direito à vista — amparado pelo braço esquerdo, cuja mão segura o outro escondido sob o roupão — pode simbolizar a amamentação. É possível que o artista tenha se inspirado na obra de Jean Fouquet (Fouquet – O DÍPTICO DE MELUN). O jeito como o artista coloca a cabeça do cão (o uso de animais nas composições Lucian Freud é bastante difundido, e muitas vezes ele apresenta um animal de estimação e seu dono) em estado de alerta, com os olhos fixos no observador, pode estar remetendo à impossibilidade sexual, quaisquer que sejam as conotações sexuais que o seio possa ter quando relacionado à cama.

O artista era reconhecido sobretudo por sua capacidade ao representar a textura da pele. A representação do pé aqui na obra é também excepcional. Para Lucian esse mereceu tanta atenção quanto as mãos ou o rosto de Kitty.

Ficha técnica
Ano: 1950-1951
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 76 cm x 101,5 cm
Localização: Tate Britain, Londres, Reino Unido

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Lucian Freud/ Taschen
Arte/ Publifolha

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Andy Warhol – DÍPTICO MARILYN

Autoria de Lu Dias Carvalho

O artista Andy Warhol (1928 – 1987) cujo nome de batismo é Andrew Warhola era filho de imigrantes tchecos. Nos anos 1950 começou a trabalhar como artista publicitário, tendo sido premiado pelo seu trabalho, antes mesmo de tornar-se um artista pop. A temática de sua obra estava voltada para a cultura popular de massa, produtos de consumo e celebridades. Suas imagens tanto podiam ser banais (fileiras de garrafas de Coca-Cola), glamourosas (retratos de astros de Hollywood) ou macabras (colisões de carros e suicídios). Fazia uso da linguagem visual da propaganda moderna, ao usar cores excêntricas, imagens simplificadas e repetições. Retirava deliberadamente os sinais de seu envolvimento, ao usar assistentes para ajudá-lo a por em prática suas ideias. Dedicou-se também a carreiras paralelas como as de cineasta, designer de moda, promotor de eventos e de publicitário.

A estrela de cinema Marilyn Monroe já era famosa quando estrelava filmes de Hollywood, mas o fato de supostamente ter se suicidado, transformou-a num mito, ao misturar glamour com tragédia. Andy Warhol, tomando como base uma famosa foto publicitária da atriz, usou-a para produzir muitas variações da técnica radicalmente nova – a serigrafia – produzindo 50 imagens da loira. A condição de estrela famosa de Marilyn Monroe é potencializada pela repetição de sua imagem.

Na composição as imagens à esquerda são cheias de glamour, enquanto as que se encontram à direita possuem tons esmaecidos, repassando a sensação de transitoriedade da vida da estrela. Andy Warhol fez uso de seis cores no lado esquerdo da composição com a ajuda de um estêncil. Em cada painel o retrato da musa vai sofrendo sutis alterações em razão de variações do pigmento, até chegar à oitava coluna, quando se torna esmaecido.

As pinceladas amarelas e cor de laranja são visíveis. A partir da sexta coluna vertical, à direita, os retratos perdem suas cores e o excesso de tinta preta mancha ou destrói a imagem de Marilyn Monroe. As áreas coloridas presentes nas imagens – cabelo, batom, pele, sombra nos olhos, gola do vestido e fundo – foram pintadas à mão em cima de uma camada de tinta branca que aparece nos dentes da retratada.

Ficha técnica
Ano: 1962
Técnica: serigrafia
Dimensões: 1,97 m x 1,16 m
Localização: Acervo particular

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Manual compacto de arte/ Editora Rideel
História da arte/ Folio
Arte/ Publifolha

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Hausmann – O CRÍTICO DE ARTE

Autoria de Lu Dias Carvalho

O artista austríaco Raoul Hausmann (1886–1971) mudou-se para Berlim em 1905, onde estudou numa escola de artes particular. Produziu pinturas expressionistas e escreveu artigos contra as autoridades artísticas. Foi companheiro de Hannah Höch durante sete anos, embora fosse casado. Fundou o Clube Dadaísta de Berlim juntamente com o arquiteto Johannes Baader e o escritor Richard Huelsenbeck. Quando o Dadaísmo começou a fenecer, ele migrou para a fotografia, criando retratos, nus e paisagens. A fim de fugir da perseguição nazista mudou-se para a Espanha e depois para Tchecoslováquia. Durante a Segunda Guerra Mundial mudou-se para a França. Criou fotomontagem satíricas em 1918, como protesto contra as convenções e os valores de uma sociedade burguesa.

A composição intitulada O Crítico de Arte é uma obra do artista em que satiriza jornalistas que vendiam suas críticas de arte ou eram influenciados pelo dinheiro, como mostra um pedaço de célula presente atrás do pescoço do crítico. Trata se de uma fotomontagem, através da qual Hausmann faz uma crítica ferina às autoridades do mundo da arte. A nota de 50 marcos alemães, cuidadosamente dobrada em forma de um triângulo, está inserida no colarinho do crítico, levando à suposição de que ele não é imparcial e justo, mas que age em conformidade com o dinheiro que lhe é oferecido.

As linhas pretas rabiscadas sobre os olhos do crítico — simbolicamente escurecendo sua visão — é um indicativo de que seu julgamento, assim como o de qualquer instituição, é sempre falho. Seu terno elegante e completo mostra que se trata de uma pessoa muito mais chegada ao materialismo capitalista do que à arte. Embora a figura seja anônima, recortada de uma revista, o carimbo presente em sua vestimenta identifica-o como sendo o artista alemão Georges Grosz.

A boca do crítico e seus olhos estão cobertos por garatujas infantis. Os olhos estão vendados, a língua volta-se para uma dama da sociedade à direita. Suas bochechas avermelhadas repassam o entendimento de que seu julgamento será lesado pelo excesso de bebida e, que no fundo, ele não passa de um chauvinista alemão. O artista inclui seu cartão de visitas na obra, onde é descrito ironicamente como “Presidente do Sol, da Lua e da Pequena Terra (superfície interna)”. Trata-se de uma ridicularização feita às classes políticas na briga pelo poder, com a renúncia do Kaiser Wilheim em 1918. A silhueta de um sujeito bem vestido à direita é feita de notícias impressas em jornal e traz a palavra “Merz” em negrito, numa referência ao artista Kurt Schwitters e suas colagens.

Ficha técnica
Ano: c. 1919
Técnica: litografia e fotocolagem em papel
Dimensões: 32 cm x 25,5 cm
Localização: Tate Collection, Londres, Reino Unido.

Fonte de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante

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Boccioni – DINAMISMO DE UM CICLISTA

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor italiano Umberto Boccioni (1882 – 1916) mudou-se para Roma onde estudou o básico da pintura, ali trabalhando como pintor de cartazes. Juntamente com Gino Severini estudou com o pintor pontilhista Giacomo Balla. Após viajar para Paris e Rússia voltou para Veneza, onde fez aulas de desenho. Conheceu em Milão Filippo Tommaso Marinetti e outros participantes do movimento Futurista, transformando-se no principal teórico do grupo. Também trabalhou com a escultura cubista. Alistou-se para servir a Itália na Primeira Guerra Mundial, morrendo um ano depois, após cair do cavalo durante um treinamento militar.

A pintura intitulada Dinamismo de um Ciclista é obra de Boccioni que tinha por objetivo, como futurista, repassar a noção de velocidade a suas criações. Isso só foi possível após conhecer os planos fragmentados do Cubismo analítico, quando sua obra atingiu uma grande sensação de dinâmica.

Esta composição é parte de uma série de pinturas dedicadas ao “dinamismo”, criadas em 1913 pelo artista. Ao primeiro olhar o quadro parece abstrato, mas aos poucos é possível descobrir o vulto de um homem e de uma bicicleta. A obra também repassa a sensação de que o ciclista encontra-se em alta velocidade.

Uma faixa verde e um traço curvo cor-de-rosa são vistos à esquerda, próximos à borda superior, sugerindo uma paisagem montanhosa, indicativa do passeio do ciclista — uma estrada na montanha. Elas, portanto, dão indícios do panorama topográfico da obra. O artista justapõe as cores: roxo, azul, vermelho, amarelo, laranja e verde. Ao usar cores complementares tão vivas, acaba repassando à composição uma sensação de modernidade e uma noção de luz artificial forte.

O quadro da bicicleta é composto por formas cônicas alongadas em laranja e a linha escura mais fina em ângulos retos. Atrás da bicicleta também são vistas linhas semelhantes, traçadas de maneira mais solta. A roda e seus raios girando velozmente são representados por traços brancos, curtos e circulares, misturados com cinza e índigo. As linhas diagonais criam o ritmo através de padrões e repetições.

A cabeça do ciclista tem a forma de uma curva cônica preta e aponta para a esquerda, oferecendo ao observador uma noção clara de direção. O deslocamento de planos de cor e contrastes estruturais, faz com que a figura se misture com o seu entorno, repassando a ideia de um ciclista movendo-se no espaço e no tempo.

Ficha técnica
Ano: 1913
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 70 cm x 95 cm
Localização: Acervo particular

Fonte de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante

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