Arquivo da categoria: Escultura

Apresentação de esculturas (entalhe na madeira, modelagem no barro, cinzelagem da pedra, fundição do metal, etc) dos tempos antigos.

Lorenzo Ghiberti – O BATISMO DE CRISTO

Autoria de Lu Dias Carvalho

       

A obra intitulada O Batismo de Cristo, executada em bronze dourado, é de autoria do arquiteto florentino Lorenzo Ghiberti. Trata-se de um relevo para a mesma pia batismal (ilustração à direita) em Siena para a qual Donatello fez  “O Festim de Herodes”.

Jesus Cristo aparece no centro da composição, de frente para o observador, usando um manto que apenas lhe cobre parte do corpo, tendo à sua esquerda um definhado São João Batista a entornar água sobre sua cabeça a fim de batizá-lo. O grupo encontra-se à margem do rio Jordão. À direita de Cristo estão, de pé, dois anjos celebrantes que interagem entre si.  Na parte central superior, logo acima de Jesus, aparecem Deus Pai e a pomba simbolizando o Espírito Santo. Logo abaixo encontram-se cerca de 12 anjos.

Atrás de São João Batista vê-se uma árvore que pode se encontrar ali com o objetivo de simbolizar vida nova. O santo está descalço sobre um monte de pedras, para ficar mais alto e realizar o batismo. Ele parece segurar um velho chapéu na mão esquerda. As hostes angelicais acompanham a cena com grande júbilo.

Ao contrário de Donatello em sua obra — presente na mesma pia — ao representar uma cena sagrada, Ghiberti não nos repassa a ideia de espaço real, sugerindo apenas profundidade, permitindo que as principais figuras se projetem claramente contra um fundo neutro. Seu trabalho lembra o dos precursores medievais, como mostram os cuidados que teve ao compor o pregueado das vestes, lembrando certos trabalhos de ourives do século XIV.

O artista caracterizou cada figura com muito carinho, permitindo que se compreenda o real papel desempenhado por cada uma delas:

  • Cristo, o Cordeiro de Deus, apresenta-se em sua beleza e humildade;
  • São João Batista marca sua presença com um gesto enérgico ao derramar a água sobre a cabeça do batizado;
  • e as hostes celestiais mostram-se em visível júbilo.

Ficha técnica
Ano – 1427
Material – bronze dourado
Dimensões: 60 cm x 60 cm
Localização: Pia batismal da catedral de Siena, Itália.

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

Nicola Pisano – ANUNCIAÇÃO, NATIVIDADE…

Autoria de Lu Dias Carvalho

 
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 A França do século XIII, dona das majestosas catedrais, era o país mais importante e rico da Europa. A Universidade de Paris surgia como o centro intelectual do mundo. Os feitos dos importantes construtores das catedrais francesas eram reproduzidos na Alemanha e na Inglaterra. Enquanto isso, a Itália regredia em meio às guerras entre suas cidades.  Os pintores italianos foram ainda mais vagarosos do que os escultores para aderir ao estilo gótico, preferiam buscar inspiração em Constantinopla do que em Paris.

Foi somente na segunda metade do século XIII é que Nicola Pisano, escultor italiano — legitimamente considerado o fundador da escola de escultura italiana —, pai do talentoso escultor Giovanni Pisano, passou a seguir o exemplo dado pelos mestres franceses e a estudar as técnicas da escultura clássica, com o objetivo de representar a natureza de um jeito mais persuasivo.

Pisano recebeu como encomenda a decoração do batistério de Pisa, sendo ajudado por vários assistentes. Esse trabalho no púlpito (século XIII) é tido como uma de suas obras-primas, na qual conseguiu fazer uma síntese do estilo gótico francês com o estilo clássico da antiga Roma. Seguindo o método medieval, o artista colocou várias passagens bíblicas numa só moldura.

O púlpito hexagonal (gravura à direita) possui cinco cenas em mármore branco de Carrara, representando a vida de Cristo: a Natividade, a Anunciação, o Aviso aos Pastores, a Adoração dos Magos e a Apresentação, Crucificação e Último Julgamento. A ilustração em destaque diz respeito à cena intitulada “Anunciação, Natividade e Pastores” (ilustração à esquerda). Vejamos como se desdobra esta escultura:

  • o canto esquerdo apresenta o anjo Gabriel dizendo à Virgem Maria que ela seria a mãe do Salvador;
  • no centro da composição uma enorme Virgem Maria, deitada num estrado de cama, olha para a sua direita;
  • São José encontra-se agachado no canto inferior esquerdo, enquanto Sant’Ana e uma mulher dão banho na criança recém-nascida;
  • a Virgem usa uma coroa sobre a cabeça da mesma maneira como as matronas romanas usavam-na;
  • no canto superior direito a cena refere-se à anunciação dos pastores, mostrando o Menino Jesus numa manjedoura e muitos caprinos abaixo;
  • São muitos os detalhes vistos na composição como, o bode coçando a cabeça com o  casco.                                                                                                                                       

  Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
 Ilustração:  pintura românica, medieval (data não encontrada)

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

NOTRE-DAME E SUAS ESCULTURAS (Aula nº 26 B)

 Autoria de Lu Dias Carvalho

        
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 A Catedral Notre-Dame de Chartres — edificada sobre uma antiga igreja românica — é uma obra em estilo gótico, construída no século XII e reconstruída no XIII, após pegar fogo. Situa-se na cidade de Chartres, a noroeste da França. Foi declarada Patrimônio Mundial pela UNESCO. Toda a sua edificação perfaz um total de 130 metros de comprimento e 64 de largura e acompanha a verticalidade do estilo gótico. Os arcos ogivais que a compõem possuem entre 35 e 36 metros de altura. Uma de suas torres tem 104 metros e outra 115. Cada uma de suas três rosáceas possui 13 metros de diâmetro. Possui mais de quatro mil estátuas esculpidas e cerca de cinco mil personagens pintados nos mais de 150 vitrais — tidos como os mais belos do mundo — de suas inúmeras janelas medievais. O tom de azul utilizado nos vitrais é tão incomum e resistente ao tempo que recebeu o nome de “bleu de Chartres” (azul de Chartres).

Ao contrário do que acontecia com a escultura dos mestres românicos que pareciam firmemente presas à moldura arquitetônica, as que aqui se encontram (mais de quatro mil) — fruto do estilo gótico — parecem ter vida própria, como se interagissem umas com as outras. As vestes magníficas e fluidas das estátuas demarcam em algumas partes o contorno corporal. A  entrada central da Catedral de Notre-Dame apresenta um belíssimo pórtico (arcada construída na entrada do edifício) com a representação de quatro santos.

A fim de que fossem conhecidas pelos fiéis, a maioria das figuras que ornam os pórticos das catedrais góticas possuíam um emblema ou símbolo que os levava ao entendimento da mensagem e à meditação (o leitor deverá clicar na figura três, à direita, pois essa amplia várias vezes a imagem mostrando tais figuras. Assim poderá ver de pertinho um exemplo da arte estatuária presente na catedral, ao ampliar e mover a figura de um lado para outro). Vamos falar especificamente de três figuras bíblicas relativas ao Antigo Testamento, situadas neste portão central, podendo ser facilmente reconhecidas:

  • Abraão, o Patriarca, com seu pequeno filho Isaque pronto para ser sacrificado, como mostram suas mãos e pés amarrados;
  • Moisés segurando as tábuas onde estão gravados os Dez Mandamentos e também a coluna com a serpente de bronze sobre ela, responsável pela cura dos israelitas;
  • Melquisedeque — rei de Salém — segurando um cálice e o turíbulo do oficiante, pois na teologia medieval ele era tido como o modelo do sacerdote que administra os sacramentos.

Para o escultor gótico as estátuas não eram somente símbolos sagrados, mas também figuras autônomas, cheias de dignidade individual, cada uma delas mostrando o papel do representado dentro da religião cristã. As Tábuas da Lei, por exemplo, remetem a Moisés e o pequeno Isaque remete a Abraão, etc.

Exercício

  1. Qual a diferença entre as esculturas românicas e góticas em relação à arquitetura?
  2. O que tornava as figuras reconhecidas pelos fiéis?
  3. O que sabe sobre a Catedral Notre-Dame de Chartres e o que lhe aconteceu recentemente?

Ilustração: A Catedral Notre-Dame de Chartres vista externa e internamente.

Fonte de pesquisa:
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

A MORTE DA VIRGEM – CAT. DE ESTRABURGO (Aula nº 26 A)

Autoria de Lu Dias Carvalho

  

                                                 (Clique nas imagens para ampliá-las.)

A belíssima Catedral de Estraburgo ou Catedral de Nossa Senhora de Estraburgo — edificada em estilo gótico — foi erguida em cerca de 1230 (século XIII) e situa-se na cidade de Estraburgo/França. Em um de seus pórticos está representada “A Morte da Virgem” (ver segunda ilustração acima) que ora é descrita.

A Virgem Maria, deitada em seu leito de morte, tem perto de si os doze apóstolos, sendo que um deles encontra-se debruçado à sua cabeceira e outro a seus pés. À sua direita encontra-se Maria Madalena, sentada no chão, com os olhos voltados para ela. No centro da composição em meio aos discípulos encontra-se seu filho Jesus Cristo recebendo a sua alma — representada pela estatueta apoiada em sua mão esquerda.

O artista que esculpiu a obra ainda se preocupou com a simetria — característica do estilo românico — ao colocar as cabeças dos apóstolos em torno do arco. Também há simetria (correspondência em forma, grandeza e localização entre as partes existentes de um lado e do outro de determinada linha, plano ou eixo) na disposição dos dois apóstolos: um que se debruça sobre a cabeceira e o outro sobre os pés do leito.

O escultor também se preocupou em dar vida aos personagens retratados. Um semblante tenso e um olhar que repassa grande dor é visto nos apóstolos. Três deles trazem a mão no rosto, denotando sofrimento e luto. Maria Madalena torce as mãos em visível sofrimento. A expressão de seu rosto aflito contrasta com a serenidade vista no rosto da Virgem Mãe em seu leito de morte.

Ao contrário do que era visto nas esculturas românicas, quando as vestes pareciam envoltórios vazios, ou seja, sem corpos por baixo delas, os artistas góticos aparentemente buscaram na arte greco-romana a sua beleza, permitindo que a estrutura do corpo se mostrasse debaixo das dobras das vestimentas. A maneira como as mãos e os pés da Virgem aparecem sob o tecido de suas vestes deixa claro que aos escultores góticos interessava a representação, mas também o modo de representá-la.

Uma diferença fundamental separava os artistas gregos dos góticos. Enquanto aos primeiros importava criar a imagem de um formoso corpo, aos segundos interessava ensinar as Escrituras Sagradas de um modo mais real e que fosse capaz de comover os fiéis. Na escultura em questão o artista gótico preocupou-se muito mais com o proceder de Jesus ao olhar para sua mãe agonizante do que em representar seus músculos. Até mesmo porque — segundo a visão cristã da época — a mensagem deveria ser a mais clara possível, eliminando tudo que fosse inútil.

Exercício

  1. O que você sabe sobre a Catedral de Estraburgo?
  2. Quais são os exemplos de simetria vistos na “Morte da Virgem”?
  3. Qual a diferença entre as esculturas romanas e as góticas em relação às vestes?

Fonte de pesquisa:
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

IGREJA DE ST. TROPHIME D’ARLES

Autoria de Lu Dias Carvalho

      
(Clique nas imagens para ampliá-las.)

A Idade Média teve dois estilos que se destacaram: o Românico e o Gótico. E foi exatamente na França, no período em que o estilo românico imperava, que as igrejas cristãs passaram a ser ornamentadas com esculturas. Que fique claro, porém, que o termo “ornamento” ou “decoração” não se ajustam muito bem a essa época, pois tudo aquilo que as igrejas agregavam era-lhes inteiramente necessário, tinha uma função específica, pois expressavam uma ideia sucinta sempre relacionada com os ensinamentos cristãos, uma vez que a arte estava voltada para a catequese, e tudo que fosse desnecessário era descartado. Portanto, não se tratava de meros adornos.

A ilustração acima mostra a igreja St.Trophime, situada em Arles, no sul da França, construída no século XII, quando prevalecia o estilo românico. Trata-se de um dos exemplos mais evidentes deste estilo. O portal oeste apresenta a história do Apocalipse segundo São João Evangelista e o Evangelho de São Mateus. Cristo, acima do portão de entrada, apresenta-se ladeado pelos símbolos alados que dizem respeito aos quatro evangelistas: São Marcos é representado pelo leão; São Mateus pelo anjo; São Lucas pelo boi e São João pela águia.

No Antigo Testamento (Visões de Ezequiel) é dito que o trono de Deus é ladeado por quatro criaturas com cabeças de um leão, de um homem, de um boi e de uma águia. Essas escrituras estão envoltas em grande solenidade, embora não carreguem a naturalidade e a graciosidade das obras clássicas.

Acima de Cristo três anjos tocam cornetas, enquanto muitos outros o ladeiam. Logo abaixo do trono são vistas doze figuras sentadas, correspondendo aos doze apóstolos. Acima dos três pilares azuis, à esquerda, vê-se uma fila de figuras nuas, acorrentadas, que seriam as almas condenadas sendo carregas para o inferno. Acima dos três pilares azuis, à direita, estão os bem-aventurados, todos voltados para o Senhor. Atrás dos pilares e nas laterais de ambos os lados estão as figuras dos santos, cada um deles empunhando seu emblema. Eles têm por objetivo lembrar os fiéis que poderiam ajudá-los ao apresentarem-se ante o Juízo Final.

A decoração do portal inclui uma diversidade de cenas bíblicas: Anunciação, o Batismo de Cristo, a Adoração dos Magos; o Massacre dos Inocentes, pastores com seus rebanhos, etc. No nível mais baixo, separadas por pilastras e colunas de pedra, estão imagens de santos ligados à história de Arles. As bases das colunas ao lado do portal são ornadas com estátuas de leões, Sansão e Dalila.

Ilustração: Igreja de St. Trophime d’Arles e detalhes da mesma.

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

ESTÁTUA EQUESTRE DE MARCO AURÉLIO

Autoria de Lu Dias Carvalho

A estátua equestre do imperador romano Marco Aurélio, feita em bronze dourado, cuja data de criação é concebida como sendo 164–166 d.C., foi feita em tamanho maior que o natural do imperador em questão, sendo de autoria desconhecida.

Infelizmente esta é a única estátua de bronze completa deste tipo a conseguir chegar à Idade Média, sobrevivendo à Antiguidade, época em que foi criada. Isto porque, após a conversão de Roma ao cristianismo, essas obras eram tidas como pagãs e, portanto, contraditórias às leis de Deus, segundo a visão da época. A maior parte delas foi derretida e transformada em moedas, autorretratos ou bustos.

Um pequeno engano fez com que esta estátua escapasse de ser desmanchada. Pensava-se que a figura montada a cavalo fosse a de Constantino — primeiro imperador cristão. Somente na Idade Média é que o engano foi desfeito.

Marco Aurélio é retratado em toda a sua pompa e glória, não apenas como um grande líder militar, mas também como filósofo estoico, autor das “Meditações” — 12 livros que glorificam as virtudes da sabedoria, da coragem, da moderação e da justiça.

Detalhes na cabeça do imperador romano indicam o seu comportamento compassivo como filósofo estoico, sendo conhecido como uma pessoa que prezava o bem-estar do povo e esforçava-se para humanizar as leis penais. A ausência de uma arma a acompanhar sua figura mostra que ele era um homem pacífico.

O estilo clássico da barba diz respeito à força e à virilidade. O gesto feito com a mão direita tem ganhado diferentes interpretações ao longo do tempo:

  • Sinal de clemência para com o inimigo vencido.
  • Sinal de reconhecimento e bênçãos direcionado às multidões que o aclamavam.
  • Um cumprimento a seu filho Cômodo que cavalgava a seu lado.
  • Um sinal de vitória sobre os inimigos do Império.

O cavalo, maravilhosamente trabalhado, mostra a importância do imperador e a força militar do Império Romano. As formas arredondas e geométricas do animal transmitem uma impressão de imponência e força.

Obs.: Alguns historiadores da arte alegam que a pata dianteira levantada do cavalo ficava sobre o corpo esculpido de um inimigo bárbaro. Caso isso seja verdade, o gesto do imperador Marco Aurélio seria de clemência pelo inimigo derrotado. Uma réplica desta estátua encontra-se na Piazza del Campidoglio, Roma, Itália.

Ficha técnica
Dimensão: 3,50 de altura
Localização: Museu Capitolini, Roma, Itália.

Fonte de pesquisa
Tudo sobre a arte/ Editora Sextante