Arquivo da categoria: História da Humanidade

Esta categoria tem por objetivo mostrar aspectos e costumes sociais da vida humana em tempos idos.

SEXO E MITOLOGIA

Autoria de Lu Dias Carvalho

               

A mitologia, através da vida dos deuses, retratava todos os problemas humanos agregados ao nascimento, vida e morte. A estatueta pré-histórica, denominada “Vênus de Laussel”, que tem cerca de 20 mil anos, já mostra a preocupação que o homem pré-histórico tinha com a reprodução, o que para ele era um grande mistério. A representação (figura à eaquerda) é de uma mulher gorda, sem rosto, com os seios grandes a despencarem-se em direção à barriga, que por sua vez é tão saliente, que dá a impressão de que ela esteja grávida.

Para nós é mais do que compreensível a reprodução humana, assim como a da flora e a da fauna. Nas culturas primitivas, porém, isso era creditado aos deuses. Era preciso homenageá-los para que houvesse abundância na reprodução. O tamanho da prole também estava ligado à fartura, pois os filhos eram os responsáveis por auxiliar os pais na labuta e ampará-los na velhice. A terra era uma personagem feminina, fecundada pelo céu, personagem masculina que a inseminava através da chuva. É por isso que as deusas relacionadas à maternidade, nas culturas primitivas, eram sempre ligadas à terra.

Para explicar o sexo e o nascimento, a mitologia egípcia ensinava que o deus Atum, que morava sozinho no caos, através de suas sementes (sêmen) gerou o deus Shu e a deusa Tefnut. Esses formaram um casal e geraram Geb (a terra) e Nut (o céu), que por sua vez deram origem a Osíris (deus da vegetação e da vida no Além), a Ísis (deusa do amor e da magia), a Seth (deus do caos) e a Neftis (deusa dos túmulos e da morte). O incesto está presente na união desses deuses, situação mitológica condizente com o Egito Antigo, que tinha como costume real o casamento entre irmãos, sendo a rainha esposa e irmã do faraó, como revela a história da rainha Cleópatra, que se casou com seu irmão Ptolomeu XIV.

A prostituição sagrada estava ligada à fertilidade na história de muitos povos antigos. Na Babilônia, por exemplo, toda mulher tinha por obrigação prostituir-se, pelo menos uma vez na vida, no templo sagrado da deusa prostituta Ishtar que, segundo um hino babilônico, nem mesmo 120 homens conseguiriam cansá-la. O dinheiro, que a devota prostituída recebia pela prática do ato sexual, era doado ao tesouro do templo. O homem também poderia reverenciar a deusa, castrando-se, conforme explica o mito da deusa Cibele. A seu respeito, diz a lenda que, originalmente, ela tinha os dois sexos, mas outros deuses extirparam o sexo masculino.

Perséfone foi raptada por Hades, deus dos mundos subterrâneos, que por ela havia se apaixonado, passando a reinar junto com ele. Inconsolável naquele lugar bizarro, o marido permitiu-lhe visitar a superfície terrestre, ocasionalmente. É por isso que ela representa os cereais que surgem na face da terra e depois desaparecem. Ela era sobrinha de Hades. Embora o incesto fosse aprovado entre os deuses, muitas culturas reprovavam-no.

Zeus (Júpiter na mitologia romana), o deus dos deuses, casou-se três vezes, sendo uma delas com sua irmã Hera. Ele era uma espécie de dom-juan da mitologia grega, tendo protagonizado inúmeras aventuras eróticas com deuses, deusas, ninfas e mortais comuns, o que o levou a ter um grande número de filhos fora de seus casamentos. Ele usava seu poder de sedução, além de metamorfosear-se, para fazer suas conquistas amorosas. Suas mais conhecidas conquistas são: a sua transformação em Cisne, para seduzir Leda, rainha de Esparta e esposa de Tíndaro; e sua metamorfose em Touro, para enganar Europa, filha do rei da Fenícia (segunda e terceira imagens postadas acima)

A maioria das instituições sociais e religiosas tenta dominar a força dos impulsos sexuais. Na mitologia dos mais diferentes povos também é possível sentir a força de tais impulsos em seus mitos, quando os amantes desafiam as normas estabelecidas, até mesmo enfrentando a própria destruição. Podem ser citados: Tristão e Isolda; Apolo e Dafne; Apolo e Jacinto; Cupido e Psique; Ácis, Galateia e Polifemo; Baco e Ariadne, Céfalo, Prócris e Brisa; Alcíone e Ceix; Orfeu e Eurídice; Pigmaleão e Galateia; Píramo e Tisbe; Teseu, Ariadne e o Minotauro; Vertuno e Pomona e Vênus e Adônis, entre outros (descritos no site em Mitos e Lendas).

Nota: as imagens acima retratam: Vênus de Laussel (autor desconhecido)/ Leda e o Cisne (Paolo Veronese)/ O Touro e Europa (Nöel-Nicolas Coypel)

O SEXO E O SOBRENATURAL

Autoria de Lu Dias Carvalho

A história da humanidade foi sempre habitada pelo mito do sobrenatural, ou seja, por aquilo que não é atribuído à natureza, mas superior a ela. Existem registros de práticas mágicas em diversas épocas e em diferentes civilizações. Ao sobrenatural estão ligados os vampiros, lobisomens, bruxas, feiticeiras, etc. Tudo isso tem exercido um grande fascínio sobre o homem em todas as épocas de sua história, principalmente no que tange ao sexo, associado muitas vezes ao ocultismo, desde os rituais de fertilidade à caça às bruxas.

Apesar dos avanços na sociedade de hoje, altamente tecnológica, ainda paira a crença em magia e ocultismo, práticas que ainda possuem muitos aficionados. E não pensem alguns que seus entusiastas encontram-se apenas nos países economicamente mais atrasados, estão presentes também na Europa e nos Estados Unidos. O ser humano parece ter necessidade de acreditar em efeitos e fenômenos extraordinários, contrários às leis naturais, como se com isso pudesse responder a questões que a ciência ainda não conseguiu explicar, ou às quais ele ainda não teve acesso. Ainda hoje são feitas poção do amor para “prender” o ser amado.

A nudez feminina de virgens continua sendo usada em sacrifícios, ainda que simulados,  assim como a encenação do ato sexual em rituais de ocultismo. As artes divinatórias, também conhecidas por ciências ocultas, partem do pressuposto de que é possível modificar o curso dos acontecimentos através de efeitos não naturais. Acreditam que seja possível entrar em contato com seres sobrenaturais através de ritos e símbolos, tendo esses o poder de interferir na vida do homem e na natureza. Os laços entre o sexo e a magia têm atravessado os tempos, sendo encontrados nos mistérios esotéricos do Oriente, passando pelas sociedades tribais, pela feitiçaria da Europa Medieval, e até mesmo pelas investigações teóricas da parapsicologia.

Crenças esotéricas apregoam que o impulso sexual, sentido através do orgasmo, é capaz de servir de ligação com o mundo sobrenatural. Mágicos e bruxas usaram o sexo e seu poder de liberação do subconsciente, como uma tentativa de entrar em contato com o sobrenatural, para acessar outros níveis da consciência. O sexo seria, portanto, o portal de acesso a uma nova dimensão. Os filósofos chineses, Lao-tse e Tchuang-tseu, desenvolveram um sistema filosófico-religioso, que também trabalhava com a magia sexual, que tinha por objetivo a prolongação da vida. Segundo o taoísmo, o universo é composto por dois tipos de energia: o yang (pertencente ao macho) e o yin (pertencente à fêmea). O tantrismo indiano assemelha-se ao taoísmo e também associa o sexo a poderes psíquicos. No zodíaco, o signo de escorpião está associado ao sexo.

A inquisição foi responsável por aguçar o papel do sexo na feitiçaria, ao perseguir bruxas e feiticeiras, que foram julgadas e queimadas vivas. Acreditavam os inquisidores que a magia dizia respeito ao diabo e às suas manifestações. A histeria coletiva foi tão absurda, que até mesmo crianças com idade inferior a cinco anos foram acusadas de terem relações sexuais com o demônio. O sexo passou a ser visto como tabu.

Nota: pintura flamenga do século XV, do pintor Rhine (1470 – 80), em que aparece uma jovem nua, que prepara uma poção de amor. Dentro de seu recipiente com ervas mágicas está o coração de um animal.

Fontes de pesquisa
Vida a Dois/ Editora Três

PERUCAS, PENTEADOS E ENFEITES

Autoria de Lu Dias Carvalho

                   

O uso de perucas, penteados e enfeites nos cabelos tem sido uma constante na vida das mulheres. Os homens também aderiram à peruca, como forma de embelezamento. E não foram poucos os períodos da história da humanidade em que mulheres e homens fizeram uso de tal ornamento, a começar pela época dos assírios. No século XVIII, as perucas tornaram-se volumosas, dificultando, sobretudo, a locomoção das mulheres. Mostrar-se bela valia qualquer sacrifício, o que levava tais damas, quando viajavam em carruagens, a serem obrigadas a ajoelharem-se dentro dos veículos, a menos que botassem a cabeça para fora, o que costumava fazer chover perucas em dias de ventania. E nem é preciso falar nos piolhos!

Até mesmo as perucas, tidas como símbolo de vaidade e sedução, caíram em desgraça na visão de algumas sociedades puritanas e de certas seitas religiosas, num determinado período de nossa história. Seus membros ou adeptos eram proibidos de usar qualquer tipo de enfeite nos cabelos, sendo que, em algumas dessas instituições, as pessoas eram obrigadas a raspar a cabeça, como indicativo de que renunciavam à sexualidade e aos prazeres do mundo. Na Inglaterra da era Cromwell, a severidade moral beirava as raias da loucura, tentando controlar os “diabólicos” cabelos e os impulsos sexuais. As mulheres eram obrigadas a manter suas madeixas escondidas debaixo de toucas brancas, enquanto os homens deveriam trazê-las curtíssimas. Quem não seguisse o figurino da moralidade era taxado de libertino.

Na era vitoriana (período do reinado da rainha Vitória, no Reino Unido), época tida como de excessivo moralismo, muitas mulheres recusaram-se a aprisionar suas madeixas debaixo de toucas, preferindo abalar a “moral” do reino. Nos dias de hoje, como homens e mulheres tendem a tornarem-se cada vez mais próximos em seus estilos, quer seja em relação aos cabelos, roupas ou atitudes, não mais causa surpresa qualquer que seja o tipo de corte, cor ou tamanho dos cabelos, embora esses ainda sirvam como identidade de alguns grupos.

Nota: obras do pintor inglês Joshua Reynolds

Fonte de pesquisa
Enciclopédia do Casal de Hoje/ Editora Três

OS CABELOS ATRAVÉS DOS TEMPOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

Mulheres e homens nunca tiveram tanto cuidado com os cabelos como nos dias de hoje. O Brasil é o segundo país no consumo de cosméticos, com grande prepoderância para os produtos específicos para a beleza dos fios capilares. A cada dia cai por terra a ditadura dos cabelos lisos, com cada grupo étnico assumindo os seus, tais como são, pois todos são belos. A nova filosofia é a de que não existem cabelos “ruins”, mas, sim, maltratados. Adeus escovas progressivas, alizantes e chapinhas, agora é liberdade total para os tão sofridos fios.

Desde a Antiguidade, os cabelos têm ocupado um lugar central na história das civilizações, sendo lavados, hidratados, tingidos, penteados e enfeitados, e tidos, na maioria delas, como um elemento de sedução. Também já serviram de arma de contestação, como aconteceu nos anos 70, quando as cabeleiras avolumaram-se, em repúdio às normas sociais vigentes. Durante muito tempo, a cor dos cabelos esteve associada a certas definições: louros (feminilidade, encanto e ingenuidade), inerentes a princesas e fadas; escuros (sedução e força), ligados às bruxas; e ruivos (impertinência, tempestuosidade), específicos das feiticeiras. Mas hoje, com a infinidade de cores usadas pelas mulheres, que podem mudar a cor dos cachos a bel-prazer, cairam por terra tais bizarras definições.

Na Grécia Antiga, a virgindade de meninas e meninos era oferecida ao deus Hipólito, filho de Teseu e de Hipólita, segundo a mitologia grega. Eles realizavam tal oferenda raspando a cabeça em homenagem ao deus. Só assim estariam liberados para casarem-se. As mulheres de uma tribo africana denominada Wafiomi, por exemplo, não podiam cortar os cabelos durante o período que ia da puberdade ao casamento. As madeixas funcionavam como um indicativo da virgindade das garotas. Não apenas os cabelos da cabeça tinham uma relação simbólica com a virgindade, mas os pelos do corpo também. Mesmo as sociedades primitivas, que nada sabiam sobre a sexualidade, compreendiam que o surgimento de pelos na puberdade era indicativo do início do amadurecimento sexual de meninos e meninas.

Em muitas culturas, com a do Egito, Grécia e Roma da Antiguidade, as mulheres usavam a depilação para retirar os pelos do corpo. Imaginavam que isso seria capaz de tornar suas formas mais belas. Mas ao contrário dessas, no século XVI, as mulheres francesas, pertencentes à nobreza, queriam que seus pelos pubianos atingissem o maior tamanho possível, para que pudessem decorá-los com laços de fita. Elas faziam usos de unguentos para apressarem o crescimento dos fios. Como moda é questão de tempo, houve certa época na Idade Média, em que as mulheres usavam pedra-pomes para remover os pelos do corpo. Tal prática foi trazida pelos cruzados para suas mulheres. A prática de retirar os pelos do corpo ainda persiste nos dias de hoje. Prevalece o conceito de beleza que relaciona  a ausência de cabelos no corpo da mulher com a feminilidade e, em contrapartida, os pelos masculinos estão ligados à virilidade. Tudo não passando de bobos e arragaidos conceitos.

A história de Sansão e Dalila, assim como a frenética vida sexual do imperador Carlos Magno, do rei Henrique VIII e do monge Raspuntin, famosos por suas estripulias amorosas, todos eles donos de grande cabeleira, reforçam o mito sobre os cabelos compridos, mas esses também eram associados à perversidade. E como ficavam os calvos, na história? Napoleão Bonaparte é um exemplo de como a alopecia afetava a vaidade masculina. E não foram poucos os métodos usados pelos homens do passado, a fim de evitá-la. No século XVI, raízes de malva eram esfregadas onde havia a queda de cabelo. E no século XVIII, os homens passavam no couro cabeludo sementes de salva, para prevenirem-se contra a alopecia. Ainda hoje, o medo da calvície acompanha muitos homens, embora essa não esteja mais ligada ao “decréscimo” do poder sexual. Sabe-se hoje que a calvície masculina nada tem a ver com a potência sexual, sendo ocasionada por diferentes motivos. É geralmente mais perceptível no couro cabeludo, mas pode ocorrer em qualquer parte do corpo onde haja pelos.

Por muito tempo, barbas e bigodes também foram associados à masculinidade e ao poder. Um fio de bigode selava um contrato, diziam os antigos. Hoje não passam de modismo.

 Nota: Mulheres à Beira-Mar, de 1879, obra de Puvis de Chavannes (Louvre)

Fonte de pesquisa
Enciclopédia do Casal de Hoje/ Editora Três

A ESCRAVIDÃO POR DÍVIDAS

Autoria de LuDiasBH

colo.

A palavra “draconiano” deriva do nome do legislador grego Draco, que em 621 AEC* codificou leis sobre a escravização de devedores. (Steven Spinker)

A “escravidão por dívida” vem desde os tempos clássicos e bíblicos. A pessoa que contraía uma dívida e não tinha meios de quitá-la, tanto podia ser presa ou escravizada, e até mesmo supliciada, ou seja, receber a pena de morte. Tudo ia depender da boa vontade de seu credor. Mas a partir do século XVI, aqueles que se encontravam em débito com outrem já não mais eram escravizados ou executados, mas iam para o xilindró, onde tinham que pagar a própria comida, mendigando através das janelas das cadeias. Nem é preciso dizer que a maioria morria de inanição, principalmente mulheres. As dívidas eram, muitas vezes, insignificantes. Tal prática acabou sendo abolida nos EUA, entre 1820 e 1840, e na maioria dos países europeus, entre 1860 e 1870. Mas a “escravidão por dívida” ainda é praticada em vários países do mundo, onde a Justiça fica a desejar, ainda que a Constituição tenha tal prática como crime.

No Brasil, principalmente nos Estados mais pobres da federação, isso ainda é muito comum, pois o poder de fiscalização é praticamente nulo. O mais triste é ver que políticos, que deviam fazer cumprir as leis do país, não o fazem, e grandes latifundiários descumprem a legislação vigente sem pagar por isso.  O indivíduo passa a trabalhar para um determinado patrão, só podendo comprar alimentos e outros bens das próprias mãos do empregador, por um preço duas a três vezes maior do que o do mercado, o que só faz aumentar a sua dívida com o tal senhor. E somente poderá deixar o suposto emprego após zerar o seu débito com ele, fato que nunca acontecerá, pois o que ganha jamais será capaz de pagar aquilo que deve, contabilizado com juros e correção monetária, numa cruel matemática. A vítima e sua família entram duplamente na “dívida de cabelos brancos”, pois essa se torna impagável, deixando o devedor prisioneiro,  até que seus cabelos estejam “embranquecidos pela idade.”. Nesse tempo, o pobre endividado não agregou um vintém à sua melhoria de vida. E, quando morre, os filhos ficam devedores das dívidas dos país, numa cruel roda viva. Para impedi-los de deixar o local, jagunços espalham-se pela herdade, sendo o tiro certeiro o responsável pela deserção.

Outro campo muito conhecido do trabalho forçado ou “escravidão por dívida” é o da prostituição clandestina. Muitas mulheres e homens deixam seus Estados ou países de origem em busca de trabalho nos grandes centros, e acabam em mãos de bandidos que os exploram. Ali tornam-se joguetes de cafetões que empregam o mesmo sistema descrito acima. Portanto, é sabido que a escravidão e seus tentáculos não foram extintos totalmente até o século em que vivemos. Volta e meia a mídia mundial põe em foco o expediente do trabalho forçado aqui e ali. E, infelizmente, não podemos deixar de dizer que o nosso país  está nos noticiários relativos a tal abominação. A Justiça, na maioria das vezes, faz ouvidos de mercador, pois constrange-se a punir os “grandes”, isso quando não se encontra apaniguada com eles. Tudo isso nos faz voltar aos tempos bíblicos, no pior sentindo. Resta-nos, portanto, contar com a vigilância de nações que prezam suas leis, onde predomina a Revolução Humanitária, pois pelas bandas de cá, e de muitos outros países, a “escravidão por dívida” faz parte dos Tempos Contemporâneos.

Nota: Colonas, obra de Di Cavalcanti

*AEC (Antes da Era Comum) é um termo usado por aqueles que querem evitar qualquer tipo de nomeclatura religiosa.

Fonte de pesquisa
Os anjos bons de nossa natureza/ Steven Pinker

OS LIVROS NA REVOLUÇÃO HUMANISTA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Antes da invenção da prensa móvel por Gutenberg, em 1452, cada exemplar de um livro tinha de ser totalmente manuscrito. O processo não era só demorado – um livro de 250 páginas requeria o trabalho de 37 dias de uma pessoa – como também era ineficiente em materiais e energia. (Steven Pinker)

Se consegui enxergar mais longe, foi por estar sobre o ombro de gigantes. (Robert Hooke)

 A meu ver, esse crescimento da escrita e leitura parece o melhor candidato a uma mudança exógena que teria ajudado a desencadear a Revolução Humanista. (Steven Pinker)

É sabido que, por muito tempo, quando os livros ainda eram manuscritos, apenas os poderosos tinham acesso a eles. E serviam “apenas de diversão para aristocratas e intelectuais”, como observa o escritor humanista Steven Pinker em seu livro “Os Anjos Bons da Natureza Humana”. O que também contribuía para manter o analfabetismo, pois só um ínfimo número de pessoas tinha acesso ao saber. Gutenberg foi, sem dúvida, um dos grandes responsáveis por tornar o livro comum à maioria das pessoas. Dois séculos após a sua descoberta, a publicação de livros havia se transformado num grande empreendimento, inclusive contribuindo para arregimentar outras indústrias, como a do papel e a da tinta, sem falar na maneira como incentivava a alfabetização, propiciando a Revolução da Leitura, como afirma Rolf Engelsing.

Segundo Steven Pinker, ele não tem dúvidas de que a leitura contribuiu para o surgimento da Revolução Humanitária, pois os indivíduos não mais estavam agregado à sua aldeia, vilarinho ou clã, tendo como único “fornecedor” de ensinamento os textos da Igreja, estudados em conjunto. Um mundo novo abria-lhes as portas, numa abundância de ideias chegadas das mais variadas culturas e pessoas, podendo ter acesso a elas, sozinhos. “E, por várias razões, a expansão da mente pode ter adicionado uma dose de humanitarismo às emoções e crenças das pessoas.”, explica ele. Com os livros veio a alfabetização, que contou muito, pois passou a ser possível refletir a própria vida e o mundo exterior com base na visão de outras pessoas ainda que distantes, fazendo brotar indagações, questionamentos e, muitas vezes, a empatia pelo ponto de vista do outro, até então desconhecido.

O romance tornou-se extremamente popular, sendo o século XVIII muito especial para eles. História narradas em primeira pessoa mexiam muito com o sentimento das gentes, quando o personagem contava a própria vida de opressão que levava. À época, três romances tornaram-se muito famosos;

  • Pamela (1740), de Samuel Richardson
  • Clarissa (1748), de Samuel Richardson
  • Júlia, ou a Nova Heloísa (1761), de Rousseau

Podemos citar muitos livros famosos que contribuíram para que  profundas mudanças acontecessem na História da Humanidade: A Cabana do Pai Tomás, 1852, romance da escritora Harriet Beecher Stowe, foi responsável por agregar os sentimentos nos abolicionistas nos Estados Unidos; Oliver Twist, 1838, e Nickleby, 1839, ambos obras de Charles Dickens, chamaram a atenção das pessoas para a judiação com as crianças que viviam nos asilos de pobres e nos orfanatos britânicos; e Dois Anos ao Pé do Mastro (1840), obra de Richard Henry Dana, e White Jacket (1850), obra de Herman Melville, contribuíram para botar um fim no açoitamento a que eram submetidos os marinheiros,  enquanto Possuindo o Segredo da Alegria, (1992), obra de Alice Wlaker, fala sobre a mutilação feminina em certos países.

Abaixo, eu apresento uma lista de livros para leitura, indicação para quem gosta de conhecer os meadros da história humana:

  • Nada de Novo no Front, de Erich Maria Remarque
  • 1984, de George Orwell
  • Raízes, de Alex Haley
  • O Zero é o Infinito, de Arthur Koestler
  • Um Dia na Vida de Ivan Denisovitch, de Alexander Soljenítisin
  • O Sol é para Todos, de Harper Lee
  • A Noite, de Elie Wiesel
  • Matadouro 5, de Kurt Vonnegut
  • Azaleia Vermelha, de Anchee Min
  • Lendo Lolita em Teerã, de Azar Nafisi, etc.
  • O Nome da Rosa, de Umberto Eco
  • Mundo Pequeno, de David Lodge
  • Dos Delitos e das Penas, de Beccaria

Obras ilustrativas: (da esquerda para a direita) de Renoir, Ignat Bednarik e Charles James Adams

Fonte de pesquisa
Os anjos bons da natureza humana/ Steven Pinker/ Editora Companhia das Letras