Arquivo da categoria: Música

Estudo sobre os grandes nomes da pintura mundial, incluindo o estudo de algumas de suas obras

“AUTO TUNE” E MÚSICA ATUAL

Autoria de Lucas Alves Assunção

Antes de explicar o porquê de os cantores sertanejos parecerem ter a mesma voz, vou dar uma breve explicação sobre teoria musical. A música é uma onda que viaja a 340 metros por segundo, porém nosso ouvido tem um “atraso” de 0,1 segundos para começar a ouvi-la e isso gera dois efeitos: a “reverbação / reverb”  e o “eco” que nada mais é do que uma continuação do “reverb”, quando as ondas da música batem em paredes, prédios, montanhas e refletem, voltando para nós. Como nosso ouvido tem esse atraso, se estivermos a uma distância de até 17 metros de uma parede, escutaremos o “reverb”. Você pode testar isso no seu banheiro. Apenas grite e o seu grito irá continuar soando por um breve momento. Agora, se estiver a mais de 17 metros, como nosso ouvido tem essa latência para captar o som, você escutará  o eco que é um “reverb” atrasado.

A música dos dias atuais em sua maioria é praticamente um barulho robotizado, pois os estúdios contam com vários sistemas de edição para “ajustar” os erros que as pessoas cometem, seja no tempo da bateria, nos instrumentos ou na voz. Na voz, todos usam um efeito chamado “auto tune” que é um processador digital de áudio que deixa sua voz na nota certa, na nota em que deveria estar no andamento da música, então, é impossível desafinar. Voltando à teoria, existem dois tipos de sistemas para usarmos em efeitos musicais: os analógicos e os digitais.

Um sistema analógico mantém a onda musical da maneira exata que ela era antes de entrar no equipamento, seja um pedal, um disco de vinil ou o que for, enquanto o sistema digital altera essa onda que se torna digital ao passar pelo equipamento e depois volta a ser analógica, porém, ela não volta da maneira exata como era, volta “quadrada”, pois sofre alterações. Você já deve ter notado que vários cantores sertanejos da atualidade parecem ter a mesma voz, certo? Esse é o motivo, o uso do “auto tune” deixa a voz robotizada, alterada e todos que o usam terão um timbre parecido.

A música atual segue um “padrão” independentemente do estilo ou do gênero. Se você fugir desse modelo não terá espaço em mídia alguma. As letras não podem ser críticas e as melodias precisam ser simples. Em mais de 80% das vezes, as músicas não são feitas pelas pessoas que as cantam, sendo gravadas por músicos contratados, com as melodias feitas por  maestros e tudo tendo a mão de produtores no meio. Isso também quebra o ciclo de “música e sentimento”, pois os artistas “cantam” algo que não foi criado por eles. É fácil falar de amor sem nunca ter amado, de dor sem nunca ter sofrido, portanto, eu posso dizer com clareza que quase toda a música atual e quase todo esse chamado “gênero pop” nada mais são do que uma grande mentira, uma farsa que visa apenas o lucro imediato.

Falar sobre a música brasileira é algo que para mim é extremamente doloroso, pois os talentos daqui muitas vezes vagam esquecidos, sem nunca chegar ao conhecimento do público. Nosso país possui a melhor música do mundo em termos de teoria, técnica e letra, superando todo o resto, porém, 98% do que é bom fica fora das grandes mídias. A maioria da produção dos gêneros populares da atualidade é péssima (funk, sertanejo, sertanejo com funk, rap, rap com funk, emo disfarçado de rock, MPB feita por “filhinhos de papai” que fizeram faculdade de música paga fora do país e se acham os tais).

Também temos a típica “bunda”, sim, entre todos os gêneros musicais da atualidade, o mais popular é a “bunda”, quantas músicas sobre “desce o bumbum, rebola o bumbum, mexe o bumbum” você já ouviu? A verdade é que nem o público que vai aos shows com esse tipo de música está ali pra ouvi-la. Pouca importa quem está tocando ou o que está sendo tocado, pois está ali somente atrás de sexo e bebidas – essa é a triste realidade do sucesso atual. Entretanto, o Brasil é muito mais que tudo isso. Existem músicas por aqui que nem tem como ser classificar em um gênero, pois são únicas, a exemplo das de Renato Goda, músico da atualidade, um dos poucos presentes na mídia que possui talento hoje em dia. Ele é um poeta nato. Goda fez uma das músicas mais lindas que já ouvi, chama-se “Como o Mar”.

Temos várias bandas antigas, da década de 70, como: “Recordando o Vale das Maçãs”, “A Barca do Sol”, “Som Nosso de Cada dia”, “Terreno Baldio”… Temos também uma ótima banda de blues, “Bêbados Habilidosos”, que tinha um grande poeta chamado Renato Fernandes nos vocais, que infelizmente veio a falecer. As letras do grande Renato são as melhores dentre todas do blues brasileiro. Esse é apenas um dos muitos músicos brasileiros que, pela falta de cultura de nosso país, nunca teve o merecido sucesso. Tenho a certeza de que se as mesmas chances que são dadas aos arremedos de músicos fossem dadas aos bons músicos, tudo seria diferente, porém, infelizmente, é preciso seguir a mediocridade do “padrão” vigente.

Nota: O Violeiro, obra de Almeida Júnior

GÊNEROS MUSICAIS MAIS POPULARES NO BRASIL

Autoria de Lucas Alves Assunção

Se existe algo que me faz ter orgulho do Brasil é o samba, não o do Carnaval, mas o do grande Cartola e de tantos outros sambistas de verdade. O samba é como o blues dos estadunidenses. Quando os africanos chegaram aqui começaram a misturar ritmos da África com a música dos portugueses, assim nasceu o samba, uma música sofrida que consegue ser triste e alegre ao mesmo tempo. Com o passar do tempo, o samba virou pagode. E o pagode que já era ruim, virou uma piada. Hoje em dia, no país em que este gênero musical foi criado, mal se escuta falar de samba, o que é uma pena, pois este gênero merece mais respeito e amor dentre todos os outros, pois, afinal, é a cara do Brasil. É a nossa identidade musical.

O chamado sertanejo universitário é bem diferente do sertanejo de raiz. Há muito tempo este gênero tem sido empurrado goela abaixo do povo brasileiro. Tudo o que se precisa para ter sucesso no sertanejo universitário é um topete, uma barba bem cuidada, um rosto levemente bonito, vestir-se relativamente bem e saber executar uma dancinha grotesca. É o gênero que mais abusa do “auto tune” e tem a maioria de suas letras compostas por terceiros na atualidade. Aqui também são poucos os talentos, sendo a imensa maioria fabricada pela mídia.

A música popular brasileira já não é a mesma de antes. Cito como exemplo o cantor Thiago Iorc que ganhou um Grammy com a música “Trevo de Quatro Folhas”, música essa que possui três acordes. Sabemos que complexidade não é sinal de perfeição, por isso, até hoje tento entender o que a letra da música quer dizer, a exemplo deste trecho: “eu só quero o leve da vida pra te levar”.  A verdade é que a MPB era um gênero extremamente rico. Todos os que já ouviram Cartola, Tom Jobim, Chico Buarque, João Gilberto e muitos outros percebem que o brasileiro conseguia misturar toda a complexidade do jazz com o ritmo do samba, o que resultava numa perfeição incrível. Até os jazzistas lá de fora idolatravam os nossos músicos, porém, infelizmente, hoje em dia estamos na contra mão de nossa história musical.

O rock no Brasil tem uma história bem conturbada, pois nenhuma banda que realmente tocava rock chegou a um nível alto de sucesso, excetuando os “Mutantes”, mas quem conhece essa banda hoje em dia? Grande parte dos brasileiros pensa que o rock brasileiro começou nos anos 80, com os Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Barão Vermelho, dentre outros, e que não existem bandas de rock no Brasil. Acontece que nenhuma dessas bandas dos anos 80 tocava  rock. Elas tocavam um pop suave chamado de pós-punk. As verdadeiras bandas de rock do Brasil começaram nos anos 50, várias outras surgiram nos anos 60/70/80, porém, o rock no Brasil sempre fez parte do underground (dos porões), jamais podendo alcançar a grande mídia. Podem ser citadas como bandas de rock brasileiras: Made in Brazil, Patrulha do Espaço, Casa das Máquinas, Máscara de Ferro, Harppia, Salário Mínimo, Centúrias, Excalibur, Golpe de Estado e Inox,  dentre muitas outras que sempre viveram no esquecimento. Vários músicos talentosos participaram dessas bandas.

Não há muito o que se dizer sobre o funk. Creio que o único motivo de fazer sucesso está no fato de ser uma das únicas formas de entretenimento do povo mais carente de nosso país. É sempre a mesma batida, as letras sempre falam das mesmas coisas. É um gênero musical agressivo e pouco original, cujas letras estão sempre focadas em dinheiro, mulheres (tratadas com termos abusivos) e carros importados. É um pena que artistas que poderiam sobressair em outros gêneros musicais optem por esse.

Nota: Receita de Samba, obra do pintor brasileiro Heitor dos Prazeres

GÊNEROS MUSICAIS MAIS POPULARES NO MUNDO

Autoria de Lucas Alves Assunção

O rock nasceu da mistura do blues dos negros com o country dos norte-americanos. Foi o estilo que mais sofreu mudanças com o passar do tempo. Nos anos 50 era uma música alegre, dançante, porém, nos anos 60, tudo o começou a mudar e o rock começou a envolver muito mais do que apenas música, virou uma ideologia. As roupas, os cabelos, tudo era um sinal de protesto pelo que acontecia no mundo: guerras, ganância do ser humano e grito pela paz. Muitos músicos da época passaram a falar apenas da paz como se ela já existisse e se esqueceram de que a realidade era bem diferente.

No final dos anos 60, em 1968, nasceu o Black Sabbath, uma banda de heavy metal britânica, com seu rock pesado, composta por quatro caras pobres, incentivados pela dor e o sofrimento que viam ao seu redor (pessoas trabalhando a vida toda em fábricas e sendo aparentemente felizes com isso). Eles criaram um estilo único que, ao invés de falar sobre uma paz que sabiam estar distante, falavam sobre a morte que os rodeava. Várias bandas copiaram-nos e assim nasceu o heavy metal, coisa que hoje em dia é extremamente distorcida do que era no passado. O rock perdeu toda a sua ideologia, e hoje em dia ser roqueiro significa, muitas vezes, andar de preto e falar do diabo com gritos e muito, muito barulho.

O jazz é até hoje o gênero musical mais complexo de ser tocado e, por vezes, de ser ouvido. Não é para todos, como os jazzistas dizem. Nasceu da dor, do sofrimento e do talento dos negros, assim como o blues, porém, o blues foca muito mais na tristeza, enquanto o jazz é como se fosse “a depressão em forma de música”, extremamente técnico e necessita de um alto conhecimento em teoria musical para fazê-lo e executá-lo, a exemplo do John Coltrane, Miles Davis e Joe Henderson, todos excelentes músicos, todos únicos e extremamente talentosos.

O blues nasceu da mistura do som dos americanos (country) com a mistura do som que os africanos faziam em seu país. Nasceu de uma “desafinação”, pois, como todos devem saber, a música é feita em cima de escalas e os negros, quando cantavam, sempre desafinavam em certa nota da escala, propositalmente. E essa nota desafinada virou a maior característica do blues, sendo chamada de “blue note”, cuja tradução literária seria algo como “nota triste”. Tanto o jazz quanto o blues ganharam não somente os EUA, mas o mundo, numa época em que o preconceito contra os negros estava em alta. O som deles começou a fazer muito sucesso e a ganhar o respeito das elites. Isso prova que a música é o caminho que pode nos unir, pois  é o idioma de todas as línguas.

MÚSICA E SENTIMENTO

Autoria de Lucas Alves Assunção

A música é a maneira de expressar os sentimentos em forma de som. Muitas vezes faltam palavras para dizer como nos sentimos, mas, quando elas nos fogem, as notas sempre estão ao nosso redor para serem usadas. Música e sentimento sempre andam de mãos dadas, se este laço for cortado, o músico fica preso num labirinto sem saída. Muitas vezes as pessoas confundem sucesso com talento, o que é algo incorreto e que nada tem a ver com música.

O gênero musical é uma maneira característica que cada cultura, povo ou pessoa encontra para expressar seus sentimentos. O blues, por exemplo, fala sobre a vida sofrida que os negros levavam nos Estados Unidos, porém, na outra mão, temos o funk, que fala sobre o orgulho do povo afrodescendente. As danças, os ritmos, tudo nasce de algum sentimento. Podemos ver isso claramente ao escutar música clássica, cujo grande exemplo é Beethoven que ao escrever a “Sexta Sinfonia” já se encontrava surdo, contudo, ele sabia exatamente onde cada nota deveria estar, pois escrevia seus sentimentos na partitura, não apenas pensando em teoria  ou técnica.

Cada década teve seus gêneros. Conforme a cultura de uma sociedade muda, o mesmo acontece com a música, pois a forma de vida que nos é imposta também é inspiração para fazermos música. Os anos 50 tiveram o rock, a exemplo de Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Little Richard e o excepcional Chuck Berry. Os anos 60 tiveram seus gêneros, como a música pop que na verdade é um sinônimo para “popular”, não sendo exatamente um gênero, pois tudo que tem um grande sucesso é pop: os Beatles, o rock dos Rolling Stones, o jazz cantado por Frank Sinatra, a bossa nova de Tom Jobim que nasceu no meio da década e ganhou o mundo.

 Novos gêneros musicais sempre irão nascer, porque cada pessoa tem uma maneira diferente de se expressar, isso, porém, não é algo que acontece com todos os músicos. Aprender a tocar um instrumento é relativamente fácil, mas é necessário estudar demais, arduamente, todos os dias, sem folga, sem parar. A parte mais difícil, contudo, é encontrar a própria “identidade musical”, aquilo que difere um músico dos outros. Isso é algo que muitos buscam a vida toda e nunca encontram. Um exemplo de identidade musical é o grande “BB King”, o Rei do Blues, pois uma nota que ele toca em sua guitarra é o suficiente para identificá-lo.

Atualmente, o gênero musical mais famoso em todo o mundo é a música eletrônica, algo que eu particularmente não considero música na acepção da palavra, pois não é nada além de um DJ apertando “play” e tocando Shakira, Beyoncé, Justin Bieber, dentre outros, ou rap. Em quaisquer que sejam os estilos, a música eletrônica predomina, o que mostra que sucesso e talento, infelizmente, não andam de mãos dadas.

A música nos dias atuais é algo fácil de ser obtido, ainda que seja sem qualidade alguma. As pessoas parecem não dar à música o valor que recebia no passado. Antigamente você tinha que ir a uma loja de discos para comprá-lo. Aqui no Brasil era preciso esperar semanas e às vezes anos para chegar um disco estrangeiro que quisesse ouvir. Hoje em dia, com apenas um clique você escuta qualquer música e de qualquer época que queira.  Todo aquele “sentimento” que se tinha no passado, ao segurar um disco depois da dificuldade de obtê-lo, morreu. Aquilo também incentivava os artistas a produzirem o melhor que pudessem.

Atualmente os artistas sabem que o próprio nome tem mais valor que seu produto que chegará a todos os públicos com extrema facilidade. Sendo assim, a maioria deles não cobra nada de si, investindo apenas na propaganda. Isso faz com que cortem, portanto, a linha que une “sentimento e música”. Assim, o que vemos é o sucesso alavancado pela mídia, mas sem talento algum, pois deixaram de se preocupar com a qualidade. Essa gente nem se expressa e tampouco faz música, apenas ganha dinheiro.

Nota: Serenata, obra de Di Cavalcanti

O PERCUSSIONISTA NANÁ VASCONCELOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

nana

Aperreei tanto batendo nas panelas e caçarolas de casa que meu pai me deu um bongô, umas maracas e um afoxé. (Naná Vasconcelos)

Fama é besteira. A fama só importa na cabeça de camarão (Naná Vasconcelos)

O pernambucano Naná Vasconcelos (1944-1916) foi eleito oito vezes o melhor percussionista do mundo e ganhador de oito “Grammy”. Seu nome verdadeiro era Juvenal de Holanda Vasconcelos, mas gostava de ser chamado pelo apelido que a mãe, dona Petronila, deu-lhe: Naná. Seu pai, Pierre, era tocador de manola, em Recife. E o filho, mesmo aos 11 anos de idade, já desejava ser percussionista (naquele tempo não se falava “percussionista”). Aos 12 anos, ele recebeu autorização do Juizado de Menores para tocar na banda, desde que obedecesse a condição de jamais descer do palco. Ao terminar o ginásio, Naná, um autodidata que nunca frequentou escolas de música, tocava boleros, mambos e chá chá chá para as pessoas dançarem nos bailes.

Ao perder seu pai, o músico entrou para a Banda Municipal de Recife, no lugar dele, onde trabalhava como arquivista e distribuía partituras para os músicos, mas o fato de não tocar incomodava-o. Para Naná, o ritmista vinha depois do baterista. Comprou então uma bateria à prestação, e deu início a seus ensaios nas suas horas vagas, sem professor, no camarim do teatro. A música a que tinha acesso era a que ouvia através do rádio, em sua casa, na emissora A Voz da América. O garoto, contudo, repassava para o samba aquilo que ouvia pelo rádio. No primeiro festival de bossa nova em Recife, Naná, com apenas 17 anos, foi aceito como baterista que sabia tocar e solar “Adriana” (canção de Roberto Menescal e Lula Freire). E acabou na conta de melhor baterista do ano.

Mais tarde, junto com três músicos, Naná formou o “Quarteto Yansã”, indo tentar a sorte em Portugal. Na cidade de Lisboa, ele se encontrou com o cantor Agostinho Santos, que se uniu ao grupo, pois também se encontrava em apuros. Fizeram muitos shows, tendo muito sucesso. Ao voltar ao Brasil, Naná procurou Capiba, dizendo-lhe que era o único capaz de tocar o maracatu que ele compusera, para apresentar Pernambuco no festival “O Brasil Canta no Rio”. E para lá partiu, levando apenas passagem de ida e volta. Ao se despedir da mãe, ela lhe disse, com os olhos molhados: “Você não volta mais. Deus o Abençoe!”.

No Rio de Janeiro, tornou-se amigo de Geraldo Azevedo e, com ele, foi até a casa de Milton Nascimento, sendo convidado a gravar com o mineiro (a pegada percussionista de “Sentinela” é dele). Depois de participar de alguns grupos de MPB, recebeu um convite para fazer shows em Buenos Aires, onde se aprimorou no berimbau. De lá, com Gato Barbieri, saxofonista argentino, foi para Nova York, onde morou um ano com o cineasta brasileiro Glauber Rocha, convivendo com os cineastas Bertolucci e Jean Luc Godard. Tocava no famoso Village Vanguard, onde era muito aplaudido. E assim, junto com Airton Moreira, que tocava com o trompetista Miles Daves, expandia o sucesso da percussão brasileira pelo mundo. Ao fazer uma turnê pela Europa, Naná ali resolveu permanecer, fixando residência em Paris, onde veio a gravar mais de 30 discos, além de muitas trilhas sonoras para cinema e balé. De Paris foi trabalhar em vários países, como Japão, Dinamarca, etc. Foi depois para os Estados Unidos.

Naná Vasconcelos viveu 5 anos em Paris e 27 nos Estados Unidos, mas terminou voltando para Recife, onde nos carnavais regia um grupo com mais de 500 batuqueiros, originários de diversas nações do maracatu. Possuía uma carreira vitoriosa, tendo ganho 8 “Grammy”, e recebido o apelido de “Fenômeno”. Fez parcerias com músicos famosos em diversas partes do planeta. O guitarrista Pet Metlieny chama-o de “Doctor”; o percussionista indiano Trilok Gurstú apelidou-o de “Paxá”; a revista Down Beat tinha-o com “o melhor percussionista do mundo”.

Naná Vasconcelos, o Doctor,  morreu hoje, 09/03/2016, aos 71 anos, deixando um grande vazio na música brasileira e também na internacional. Também foi um dos responsáveis pela trilha sonora da animação brasileira “O Menino e o Mundo”, que concorreu ao Oscar deste ano.

Fonte de pesquisa
Folha de São Paulo/ 12-05-2013

FILHOS DE CANTORES – TALENTO OU OPORTUNISMO

Autoria de Lu Dias Carvalhodorothy123456

Uma coisa, que me vem me chamando a atenção há muito tempo, é o número de filhos de cantores seguindo a carreira musical do pai ou da mãe. Trata-se de algo nunca visto com tanta frequência no mundo das artes, em qualquer lugar do mundo. E aí me vem uma séria indagação: será que se trata de talento ou meramente de oportunismo? Tenho certeza absoluta de que o leitor responder-me-á que, na quase totalidade, trata-se do mais puro oportunismo.

Este assunto veio-me à baila, quando dias atrás, em razão de uma forte gripe, tive que ficar acamada. Inquieta, comecei a mudar de canal o tempo todo. E, para minha surpresa, deparei-me com uma dupla sertaneja (Dablio & Phillipe) em que Nathan Phillipe é filho de Luciano Camargo, que canta com seu irmão José de Camargo, que por sua vez tem uma filha cantora de nome Vanessa Camargo. Ou essa família foi brindada com tão forte dom musical, ou os filhos estão procurando se deitar na fama dos pais. Pelo visto, ninguém quer dar duro, achando que o sobrenome é um passaporte para o sucesso.

Em razão da surpresa exposta acima, comecei a elencar nomes de filhos de cantores famosos que seguem a mesma profissão. Vejamos alguns, Luiza Possi, filha de Zizi Possi; Jairzinho e Luciana Rodrigues, filhos de Jair Rodrigues (falecido em 2014); Nana Caymmi, Dori Caymmi e Danilo Caymmi, filhos de Dorival Caymmi; Diogo Nogueira, filho de João Nogueira (morto em 2000); Pedro Leonardo, filho do sertanejo Leonardo; Tiago, sobrinho de Leonardo e filho de Leandro (morto em 1998); Maria Rita, filha de Elis Regina (falecida em 1982); Martinália, filha de Martinho da Vila; Sandy e Júnior, filhos de Xororó e sobrinhos de Chitãozinho; Aline Lima e Alison Lima, filhos de Chitãozinho e sobrinhos de Xororó e primos de Sandy e Júnior; Pipo Marques e Rafa, filhos de Bell Marques; Lucas, filho de Péricles (Exaltasamba); Fiuk, filho de Fábio Júnior; Cláudio Lins, filho de Ivan Lins e Lucinha Lins; Victor, filho de Rick (Rick&Renner); Preta Gil, filha de Gilberto Gil; Marcelo, filho de Gian (Gian&Giovani); Moreno, filho de Caetano Veloso e sobrinho de Maria Betânia. Pelo menos Chico Buarque não colocou nenhuma das filhas para seguir seus passos. Palmas para ele. Vou parar por aqui, para não cansar o leitor, mas ainda há muita gente para entrar na lista.

O Brasil é um país com 201 milhões de habitantes e, como dizem, há gostos para todos os tipos. Até mesmo para as “cacas”. Enquanto existe gente talentosíssima entre os citados, alguns parecem zombar do público, pois não cantam absolutamente nada. Dentre esses, de baixíssima qualidade, alguns apenas se limitam a fazer uma segunda voz da mais baixa categoria. Ninguém merece isso num país tão carente de grandes valores e exemplos. Nosso povo precisa aprender a distinguir entre o que realmente vale a pena ser ouvido e aquilo que lhe é empurrado por uma mídia, cuja medida de qualidade é unicamente o sobrenome da família do “artista”. Enquanto grandes talentos não possuem vez, por não possuírem padrinhos e dinheiro, outros, sem autocrítica, deitados na cama do sobrenome, sem uma gotícula de talento, ganham grande espaço na mídia. E pior, seus pais fingem ignorar que os filhos são desprovidos de aptidão para tal arte, pois o que lhes importa é a fama e mais dinheiro.

Dias atrás, ouvi alguém perguntar o porquê de o país não contar mais com grandes cantores. A resposta é “elementar, meu caro Watson”, basta questionar o que leu acima. Some-se a isso a ausência dos festivais, responsáveis por trazer à tona talentos como Chico Buarque, Geraldo Vandré, Jair Rodrigues, Tom Zé, Gal Costa, Marília Medalha, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Ivan Lins, Taiguara, Paulo Diniz, Tom Jobim, e tantos outros.

A nossa música sertaneja de raízes morreu. Quanta tristeza! O que ouvimos agora são músicas paupérrimas, de duplo sentindo, cujas letras apresentam um amor melodramático e doentio, que normalmente se escoram em refrãos paupérrimos, com os passos desengonçados dos supostos cantores. Ai que saudade de Pena Branca e Xavantinho, Jacó e Jacozinho, Milionário e Zé Rico, Alvarenga e Ranchinho, João Mineiro e Marciano, e tantos outros que enriqueceram este país com suas canções de qualidade. Até quando seremos obrigados a conviver com tanto lixo? Possivelmente, enquanto houver as tão presentes “macacas de auditório” e gente que não valoriza o que é bom.

O Brasil já chegou a ser famoso por sua música popular. Referência em várias partes do mundo. Portanto, caro leitor, temos que dizer não a um monte de “titicas” que está por aí. Não compremos alhos por bugalhos. Valorizemos o dinheiro, fruto de nosso trabalho, fazendo boas escolhas. Não enriqueçamos essa gente sem talento algum, que surge na mídia feito erva daninha, e depois aparece podre de rica, sem nenhum compromisso com seu povo e seu país. Que eles trabalhem como nós.