Arquivo da categoria: Música

Estudo sobre os grandes nomes da pintura mundial, incluindo o estudo de algumas de suas obras

BR – 3

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O V FIC (Festival Internacional da Canção) da TV Globo aconteceu em 1970. Na eliminatória paulista foram classificadas 5 canções. Entre elas estavam Sermão (Baden Powell e Paulo Cézar Pinheiro) interpretada por Cláudia, Rio Paraná (Ary Toledo e Chico de Assis) defendida por Tonico e Tinoco.

Concorrendo à final, em duas fases, estavam 41 canções, onde se encontravam compositores novatos como Beto Guedes, Ivan Lins, Luis Gonzaga Júnior, etc. Havia também um júri oficial e outro popular, que tinha Chacrinha como presidente.

Na primeira eliminatória, Ivan Lins foi o vencedor, pelo júri popular, com a canção O Amor é o meu País, interpretada pelo próprio compositor. E Paulo Diniz cantando seu sucesso Quero Voltar Para Bahia, num dos dois shows apresentados naquela noite, foi o mais aplaudido.

Na segunda eliminatória, Martinho da Vila mexeu coma plateia ao cantar o samba Meu Lairaraia. Tonico e Tinoco foram vaiados ao defender Rio Paraná. Até os jurados fizeram pouco da apresentação dos dois. Dentre as muitas músicas que passaram, a décima segunda canção do compositor e cantor Taiguara, Universo no Teu Corpo, foi a que mais empolgou a plateia. Depois dele veio BR–3 defendida por Tony Tornado, acompanhado do Trio Ternura. O negrão maravilhoso deu um show, lembrando o cantor James Brown. Por ter sido muito aplaudido, desmaiou de emoção nos bastidores. A última canção da noite foi Eu Também Quero Mocotó (Jorge Bem) interpretada pelo maestro Elton Chaves, que saiu aplaudidíssimo.

Na finalíssima, muitos tinham como certo a vitória de Quero Mocotó com Elton Chaves ou BR–3 com Toni Tornado. A apresentação de Tony Tornado foi um show à parte, a começar pelo visual, com botas de cano e um sol dourado pintado no peito, e a sua performance fantástica. Os aplausos pipocaram de todos os lados. Não havia mais para ninguém.

Antes de ser oferecida a Tony Tornado para ser interpretada, os autores de BR–3 (Tibério Gaspar e Antônio Adolfo) ofereceram-na a Simonal, que alegou que a música não era de acordo com as música alegres que ele gostava de cantar. Buscaram Tim Maia, mas esse estava preso pela Philips. Só então foram atrás de Toni Tornado, que cantava num inferninho, atendendo à sugestão do cantor Orlan Divo. E, para fechar o festival, Erlon Chaves também deu um show com Eu Também Quero Mocotó.

A homenagem da noite foi a Luís Gonzaga.

Colocação Final:
1º BR -3
2º Amar é meu País
3º Encouraçado

Taiguara com sua belíssima canção ficou em oitavo lugar. Na final internacional BR -3 ficou em terceiro lugar.

Infelizmente, acontecimentos posteriores mostraram o quanto sofreram os dois cantores negros, Erlon Chaves e Tony Tornado, simplesmente por serem negros. O primeiro, desencantado teve um ataque cardíaco e morreu ao 40 anos, enquanto o segundo foi posto para fora do país pelos “homens”. O V FIC mostrou, sobretudo, o quanto o racismo era forte no país. Também tornou clara a “docilidade” da TV Globo com o regime militar.

Abaixo, letra e vídeo com Tony Tornado:

BR-3
Autores: Tibério Gaspar e Antônio Adolfo
Intérpretes: Tony Tornado e Trio Ternura

A gente corre (E a gente corre)
Na BR-3 (Na BR-3)
E a gente morre (E a gente morre)
Na BR-3 (Na BR-3)
Há um foguete
Rasgando o céu, cruzando o espaço
E um Jesus Cristo feito em aço
Crucificado outra vez
A gente corre (E a gente corre)
Na BR-3 (Na BR-3)
A gente morre (E a gente morre)
Na BR-3 (Na BR-3)
Há um sonho
Viagem multicolorida
Às vezes ponto de partida
E às vezes porto de um talvez
A gente corre (E a gente corre)
Na BR-3 (Na BR-3)
A gente morre (E a gente morre)
Na BR-3 (Na BR-3)
Há um crime
No longo asfalto dessa estrada
E uma notícia fabricada
Pro novo herói de cada mês
Na BR-3

https://www.youtube.com/watch?v=KfMekHN6x7w/

SINAL FECHADO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O V Festival da TV Record, ocorrido em 1969, teve como primeira colocada a canção Sinal Fechado, defendida pelo próprio compositor Paulinho da Viola.

A música traz um diálogo entre duas pessoas, paradas num sinal fechado, em seus respectivos carros, e, que não conseguem concluir o diálogo, feito de frases dispersas.

Embora os censores da ditadura não tivessem percebido, tratava-se de uma canção de forte conotação política, refletindo a mordaça da comunicação naqueles tempos de ditadura, com muitos artistas brasileiros vivendo no exterior e a sensação de medo presente nas conversas.

Paulinho da Viola ficou tão emocionado ao vencer o V Festival da TV Record que não teve condições nem de dar entrevistas, à época.

Tem sido comum muitas pessoas creditarem a Chico Buarque a canção Sinal Fechado, porque o cantor e compositor, em 1974, gravou um disco e deu a ele o nome da música de Paulinho da Viola: Sinal Fechado.

Abaixo a letra e o vídeo da canção:

Sinal Fechado
Autor: Paulinho da Viola
Intérprete: Paulinho da Viola

– Olá! Como vai?
– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro… E
você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranquilo… Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!
– Me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos… Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é… Quanto tempo!
– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas…
– Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
– Por favor, telefone! Eu preciso beber alguma coisa, rapidamente…
– Pra semana…
– O sinal…
– Eu procuro você…
– Vai abrir, vai abrir…
– Eu prometo, não esqueço, não esqueço…
– Por favor, não esqueça, não esqueça…
– Adeus!
– Adeus!
– Adeus!

https://www.youtube.com/watch?v=w9JWuQPeaW0/

Fontes de pesquisa
A era dos festivais/ Zuza Homem de Mello
Uma noite em 67/ Renato Terra e Ricardo Calil
Música Popular Brasileira Hoje/ Publifolha

CANTIGA POR LUCIANA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O IV FIC (Festival Internacional da Canção) foi realizado pela TV Globo, em 1969. No IV FIC, a Globo tentou sanar vários problemas, inclusive o do som horroroso do Maracanãzinho. Houve também a desistência, na última hora, de 10 atrações internacionais. Havia boatos de que os artistas brasileiros, exilados no exterior, estavam boicotando o Festival, aludindo ao clima de terror imposto pela ditadura no Brasil.

Nas duas eliminatórias para classificar as 20 finalistas, as nota foram substituídas apenas por “Sim” ou “Não”. Somente na final houve notas, entre 1 e 10, qualificando as 10 canções primeiras colocadas. Ao contrário dos outros festivais, as músicas não mais traziam mensagens políticas. Wilson Simonal, muito prestigiado à época e um excelente comunicador, foi convidado para presidir o júri. Ele daria o voto de minerva, caso houvesse algum empate.

A primeira fase eliminatória contou com 21 concorrentes. As mais cotadas foram: Madrugada, Carnaval e Chuva (Martinho da Vila), Visão Geral (César Costa Filho, Rui Mauriti e Ronaldo M. de Souza) Cantiga por Luciana (Edmundo Souto e Paulinho Tapajós) e Juliana (Antônio Adolfo e Tibério Gaspar). Na segunda fase destacaram-se Serra Acima (Sílvio da Silva Júnior e Aldir Blanc), Ave Maria dos Retirantes (Alcivando Luiz e Carlos Coqueiro), Charles Anjo 45 (Jorge Ben), tida como precursora do rap, gênero que só surgiria muito tempo depois, Beijo Sideral (Marcos e Paulo Sérgio Valle) e O Mercador de Serpente (Egberto Gismont).

O resultado da final foi muito bem recebido pela plateia. Cantiga por Luciana (Eduardo Souto e Paulino Tapajós), defendida por Evinha, foi a vitoriosa, e também ganhou o primeiro lugar na final internacional. As premiadas nacionalmente foram:

1º – Cantiga por Luciana
2º – Juliana
3º – Charles Anjo 45
4º – Gotham City

Pode-se dizer que essa foi a noite de Wilson Simonal, que realizou um show fantástico, antes de ser apresentado o resultado do júri, acompanhado por 20 mil vozes. Abaixo, a letra e o link com a canção:

Cantiga para Luciana
Autoria: Eduardo Souto e Paulinho Tapajós
Intérprete: Evinha

Manhã no peito de um cantor
Cansado de esperar só
Foi tanto tempo que nem sei
Das tardes tão vazias por onde andei
Luciana, Luciana
Sorriso de menina dos olhos de mar
Luciana, Luciana
Abrace essa cantiga por onde passar
Lara lá
Nasceu na paz de um beija-flor
Em verso em voz de amor
Já desponta aos olhos da manhã
Pedaços de uma vida
Que abriu-se em flor
Luciana Luciana
Sorriso de menina dos olhos de mar
Luciana Luciana
Abrace essa cantiga por onde passar
Lara lá

https://www.youtube.com/watch?v=PKNO92o4nKo/

Fontes de pesquisa
A era dos festivais/ Zuza Homem de Mello
Uma noite em 67/ Renato Terra e Ricardo Calil
Música Popular Brasileira Hoje/ Publifolha

FIO MARAVILHA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O VII FIC (Festival Internacional da Canção) foi realizado pela TV Globo, em 1972. Foram 1920 músicas inscritas. Seus autores não podiam ser reconhecidos pelos cinco membros responsáveis pela escolha das canções, para evitar qualquer tipo de proteção. Era o primeiro ano em que o FIC estava sendo apresentado em TV a cores. Durante a fase nacional seriam realizadas duas eliminatórias, apresentando cada uma 15 canções, sendo selecionadas 12 dentre essas. A final nacional escolheria 2 entre as 12 classificadas nas duas fases anteriores, para concorrer com as internacionais. Nesse festival havia muitos compositores novatos. Dentre eles estavam Oswaldo Montenegro, ainda um goroto de 16 anos, Hermeto Paschoal, Walter Franco, Raul Seixas, Sérgio Sampaio, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Maria Alcina, etc. Nomes que viriam a ter grande influência na música popular brasileira.

A canção Viva Zapátria (Murilo Antunes e Sirlan Antônio de Jesus) causava preocupação aos organizadores, tanto é que Murilo teve que comparecer à Polícia Federal, junto com Sirlan, para explicar a letra. E lá, dando uma de bobo, explicou que a letra da música não passava de uma homenagem ao filme Viva Zapata mas, como já havia uma música com o mesmo nome, eles optaram por Viva Zapátria. E pôs-se a falar do filme num linguajar bem caipira. E assim, fingindo-se de inocentes, conseguiram liberar a canção.

A Censura Federal listou um monte de coisas que deveriam ser evitadas no festival, inclusive o gesto de punho cerrado erguido para o alto (símbolo do poder negro) e os decotes avantajados das intérpretes. Se houvesse desobediência, o programa sairia do ar. Na primeira eliminatória foram classificadas:

Serearei (Hermeto Paschoal)
Nó na Cana (Ari do Cavaco e César Augusto)
Eu Sou Eu, Nicuri é o Diabo (Raul Seixas)
Cabeça (Walter Franco)
Diálogo (Baden Powell e Paulo César Pinheiro)
Fio Maravilha (Jorge Ben)

Nara Leão, que foi escolhida como presidente do júri, ficou insatisfeita com a exclusão de Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua (Sérgio Sampaio), canção que viria depois a fazer um tremendo sucesso.

Na segunda eliminatória foram classificadas:

Let Me Sing, Let Me Sing (Raul Seixas e Edith Wisner)
Flor Lilás (Luli)
A volta do Ponteiro (Roberto L. da Silva e Roberto F. dos Santos)
Viva Zapátria (Sirlan e Murilo)
Mande um Abraço pra Velha (Os Mutantes)
Carangola (Futoti e Fauzi Arap)
Liberdade, Liberdade (Oscar Toledo)

A última música entrou em razão de um empate. Também incluíram Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua (Sérgio Sampaio), para contemplar Nara Leão. Assim, passaram a ser 14 concorrentes, e não mais 12, para a fase final.

Antes de chegar à final, os militares exigiram a saída de Nara Leão do júri, por não terem gostado de uma entrevista dela ao Jornal do Brasil, onde criticava a situação de nosso país. Para contornar a situação, a direção do FIC resolveu trocar o júri nacional por um internacional. O clima ficou tenso, ainda mais porque os jurados acharam que era uma tentativa de não permitir a escolha da música Cabeça, fazendo com que Maria Alcina, escolhida pela Globo, fosse a intérprete finalista. Os jurados não aceitaram, inclusive pela dificuldade dos gringos em conhecer a língua portuguesa. Fizeram um manifesto que entregam à imprensa.

O júri estrangeiro estava mais perdido do que cego em tiroteio, principalmente ao ouvir canções com gírias. Houve muita confusão, som desligado, algumas músicas impedidas de serem cantadas, palavras cortadas ao microfone, etc. O ex-jurado Roberto Freire conseguiu ir até ao palco para contar o ocorrido, mas foi arrastado pelos seguranças da TV Globo que, violentamente, entregaram-no nas mãos da repressão ali presente, alegando que se tratava de um comunista e que devia apanhar. Os homens bateram muito no rapaz, que ficou com inúmeras fraturas e todo deformado.

Nara Leão, ao ver o amigo assim, enfrentou Boni e os diretores da TV Globo, ameaçando invadir o palco, mesmo que todos fossem espancados. Boni então pediu que tirasse a  parte do manifesto que falava mal da Globo, e o comunicado foi lido, deixando os milicos espantados. No comunicado estavam também os nomes das duas canções eleitas pelo júri anterior: Cabeça (Walter Franco) e Nó na Cana (Ari Cavaco e César Augusto). Contudo, o “júri dos gringos” elegeu Diálogo (Baden Powell e Paulo César Pinheiro) e Fio Maravilha (Jorge Ben)

Na fase internacional participaram 14 canções, incluindo as duas brasileiras. Vazou o comentário de que No Body Calls Me a Prophet já estava escolhida. Ao tomar conhecimento disso, o artista grego Demis Roussos deixou o Maracanãzinho, só voltando após muita conversa. Ao final, o júri internacional deu como vencedora a música Sweat and Tears (David Clayton Thomas), embora a Globo quisesse que fosse dada a vitória a Fio Maravilha (Maria Alcina)

O VII FIC foi muito importante para Raul Seixas que se tornou uma revelação, tornando-se depois a maior figura do rock brasileiro. A Censura Federal, contudo, pegou firme no pé do mineiro Sirlan, um dos compositores de Viva Zapátria, impedindo que suas músicas fossem liberadas e gravadas, matando sua carreira musical.

Vejam abaixo a letra e a canção nacional finalista , com Maria Alcina como intérprete:

Fio Maravilha
Autor: Jorge Bem
Intérprete: Maria Alcina

Foi um gol de anjo, um verdadeiro gol de placa
E a magnética agradecida se encantava
Foi um gol de anjo, um verdadeiro gol de placa
E a magnética agradecida se encantava
Filho maravilha, nós gostamos de você
Filho maravilha, faz mais um pra gente vê
Filho maravilha, nós gostamos de você
Filho maravilha, faz mais um pra gente vê
E novamente ele chegou com inspiração
Com muito amor, com emoção, com explosão e gol
Sacudindo a torcida aos 33 minutos do segundo tempo
Depois de fazer uma jogada celestial em gol
Tabelou, driblou dois zagueiros
Deu um toque driblou o goleiro
Só não entrou com bola e tudo
Porque teve humildade em gol
Foi um gol de classe
Onde ele mostrou sua malícia e sua raça
Foi um gol de anjo, um verdadeiro gol de placa
E a magnética agradecida se encantava
Foi um gol de anjo, um verdadeiro gol de placa
E a magnética agradecida se encantava
Filho maravilha, nós gostamos de você
Filho maravilha, faz mais um pra gente vê
Filho maravilha, nós gostamos de você
Filho maravilha, faz mais um pra gente vê
Filho Maravilha!

https://www.youtube.com/watch?v=AYucUeksWPA

Fontes de Pesquisa:
A Era dos Festivais/ Zuza Homem de Mello
Música Popular Hoje/ Publifolha

PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES

Autoria de Lu Dias Carvalho

vandre

Para Não Dizer Que Não Falei de Flores trata-se de uma canção com letra altamente subversiva, atentatória à Soberania do País, um achincalhe às Forças Armadas… (General Luís de França Oliveira – Secretário de Segurança da Guanabara)

A canção Caminhando, mais conhecida como Para Não Dizer Que Não Falei de Flores, de Geraldo Vandré, participou do III FIC (Festival Internacional da Canção) da TV Globo, em 1968. Foi exibida na segunda eliminatória paulista, classificando-se entre as seis daquela fase, que concorreriam à final paulista.

Havia por parte dos organizadores uma preocupação com a música de Geraldo Vandré, em razão da ditadura militar que dirigia o país. Contudo, a organização do festival não acreditava que ela fosse longe, ficando pelo meio do caminho, ou seja, não seria capaz de indispor os militares com o III FIC. Mas não foi isso que aconteceu. A plateia não demorou em aprender seu refrão: Vem vamos embora/que esperar não é saber/quem sabe faz a hora/não espera acontecer. A canção também ganhou as ruas. Portanto, não foi surpresa que ela se encontrasse entre as seis classificadas na 1ª final paulista. E, posteriormente se tornasse uma da seis classificadas paulistas para o festival nacional.

A canção Caminhando foi apresentada na segunda eliminatória nacional, sendo tão aplaudida, que Vandré, emocionado, chegou a passar mal fora do palco. Tudo indicava que estaria entre as candidatas a finalistas.

A direção do Festival recebeu um comunicado, vindo dos militares, dizendo que duas canções deveriam ser vetadas: América, América (Cesar Roldão Vieira) e Caminhando (Geraldo Vandré). Sem saber que decisão tomar, a direção do III FIC decidiu deixar o barco correr solto, mas no fundo torcendo para que Caminhando não fosse a vitoriosa. Dentre as canções que concorriam à final estava justamente ela. Ao ser apresentada, além de ser ovacionada pela plateia, ainda era cantada por ela.

Quando foi dado o resultado, Caminhando era a segunda colocada, perdendo apenas para Sabiá, de Tom Jobim. Foi uma revolta generalizada. O público queria Caminhando em primeiro lugar. Cynara e Cybele, que defendiam Sabiá, nem mesmo conseguiram apresentá-la, de tão ensurdecedora que era a vaia. Ao tentar acalmar a plateia, Vandré tornou célebre a frase:

– Olha, tem uma coisa só, a vida não se resume em festivais.

A seguir, começou a tocar e cantar junto com um coro de mais de 20 mil vozes. Ali estava a resposta para mostrar qual era realmente a canção vencedora. O compacto com Caminhando era o mais procurado, por isso, a polícia do estado da Guanabara mandou apreendê-lo, enquanto Marina Ferreira, Chefe da Censura estadual, dizia não haver ordem para a apreensão dos discos. Depois de muitas idas e vindas, afirmações e desmentidos de censura, Caminhando tornou-se proibida. Não poderia ser tocada em rádios e locais públicos de todo o país. Mesmo assim, ela continuava ser cantada em casas, durante reuniões.

O fato é que Caminhando foi proibida durante 20 anos, mas tornou-se um hino das contestações, cantado até os dias de hoje. Vandré ficou sob a mira dos radicais da ditadura. Com a decretação do AI-5, passou a ser procurado. Escondeu-se na casa de Marisa Urban e depois de dona Araci (viúva de Guimarães Rosa). Ajudada por um delegado de polícia, dona Araci e seu filho, que o acompanhavam num automóvel, ajudaram-no a se exilar. Vandré, que se encontrava envelhecido através de rinsagem no cabelo e maquiagem, atravessou, no carnaval de 1969, a fronteira com o Paraguai, indo para o Chile. De lá viajou para outros lugares, inclusive Paris. Contudo, não conseguiu se adaptar a lugar nenhum, sempre saudoso do Brasil.

Geraldo Vandré contou com a ajuda de um Coronel do exército para voltar ao Brasil. Aqui chegando, em pronunciamento, renegou qualquer elo com os adversários do regime militar. E nunca mais voltou a ser o que era antes. O que terá lhe acontecido? Eis a questão. São muitas as hipóteses, inclusive a de lavagem cerebral. Mas não há nenhuma confirmação.

Agora conheçam a letra e ouçam a canção que nos arrepia até hoje.

Caminhando (Para dizer que não falei de flores)
Autor: Geraldo Vandré
Intérprete: Geraldo Vandré

Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora

Não espera acontecer

(bis)

Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão

(Refrão)

Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição
De morrer pela pátria
E viver sem razão

(Refrão)

Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão

(Refrão)

https://www.youtube.com/watch?v=PDWuwh6edkY

Fontes de pesquisa
A era dos festivais/ Zuza Homem de Mello
Uma noite em 67/ Renato Terra e Ricardo Calil
Chico Buarque/ Wagner Homem

SAVEIROS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O primeiro Festival Internacional da Canção (FIC) aconteceu em 1966, na TV Rio. Ao todo, o FIC teve sete edições, entre 1966 e 1972, realizadas na cidade do Rio de Janeiro. Ele continha duas fases: a nacional, com suas eliminatórias e a final; e a internacional que concorria com a vencedora da fase nacional.

Na fase nacional foram inscritas 1.956 canções, sendo 36 as escolhidas para a fase final, que seriam apresentadas em dois grupos de 18 canções, de onde sairiam 14. Mas as finalistas só seriam apresentadas após as duas eliminatórias, oferecendo um leque maior de opções para o corpo de jurados, sem a necessidade de escolher sete em cada eliminatória, inclusive contribuindo para uma escolha mais apurada.

Saveiros, com letra de Nélson Motta e música de Dori Caymmi, foi a terceira canção a ser apresentada, dentre as 14 finalistas, sendo defendida por Nana Caymmi, irmã de Dori, que foi muito aplaudida pelo público. Mas, de modo geral, as canções eram muito lentas, sem aquela alegria capaz de levantar as torcidas. Sem falar na péssima acústica do Maracanãzinho, onde se realizava o festival, que tornava inaudível, muitos trechos das músicas.

Gal Costa, totalmente desconhecida à época, chamou a atenção pela afinação da voz ao cantar Minha Senhora, de Gilberto Gil e Torquato Neto. Muitos olheiros de gravadoras e programas de tevê ficaram de olho na moça simplesinha, com sua voz maviosa.

Na final, dentre as 14 selecionadas, as mais aclamadas pelo público eram: Dia das Rosas (Luiz Bonfá e Maria Helena Toledo) defendida por Maysa e O Cavaleiro (Geraldo Vandré e Tuca) defendida por Tuca.

Antes de apresentar as três finalistas, alguns números internacionais estavam sendo apresentados para distrair a plateia, dando tempo ao júri para contabilizar o resultado, mas as pessoas presentes gritavam eufóricas: “A Banda! A Banda!”, vencedora de um festival passado. Chico Buarque foi obrigado a deixar seu lugar de jurado e, com um violão emprestado, cantá-la, sendo acompanhado por toda a plateia do Maracanãzinho e ovacionada ao final.

As três finalistas foram:
1º lugar – Saveiros (defendida por Nana Caymmi)
2º lugar – O Cavaleiro (defendidas por Tuca)
3º lugar – Dia das Rosas (defendida por Maysa)

Ao público não agradou o resultado em relação à primeira colocação, levando Nana Caymmi a receber uma das maiores vaias da história dos festivais. Naquela época, os artistas mais prestigiados pela mídia e artistas internacionais eram Chico Buarque, Elis Regina e Maysa.

Em confronto com a fase internacional do I FIC, Saveiros ficou em segundo lugar, perdendo para Frag den Wind, de Helmut Zacharias e Carl J. Schaubler, interpretada por Brueck.

Vejam, abaixo, a letra da canção Saveiros e sua interpretação com Nana Caymmi:

Saveiros
Letra: Nélson Motta
Música: Dori Caymmi
Intérprete: Nana Caymmi

Nem bem a noite terminou
Vão os saveiros para o mar
Levam no dia que amanhece
As mesmas esperanças
Do dia que passou
Quantos partiram de manhã
Quem sabe quantos vão voltar
Só quando o sol descansar
E se os ventos deixarem
Os barcos vão chegar
Quantas histórias pra contar
Em cada vela que aparece
Um canto de alegria
De quem venceu o mar

https://www.youtube.com/watch?v=N3YpHfm5xDM

Fontes de pesquisa
A era dos festivais/ Zuza Homem de Mello
Uma noite em 67/ Renato Terra e Ricardo Calil
Chico Buarque/ Wagner Homem