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Textos humorísticos, mas reais, sobre o dia a dia do Brasil, enriquecidos com locuções e expressões da língua portuguesa.

GURU DESMORALIZA OS GENERAIS DO REINO

 Autoria de Lu Dias Carvalho

As coisas não andam boas para os generais do reino desde que o soberano deu ao seu guru astrólogo a maior condecoração possível, munindo-o de poder e glória. O que se vê é justamente uma camisa de onze varas para os homens de farda, incapazes de usar uma camisa de força na língua do mentor real e na truculência do monarca. E para piorar o entrevero, o rei usou de todas as letras para dizer que apoia seu mentor, acima de tudo e de todos: Olavo, sozinho, rapidamente tornou-se um ícone, verdadeiro fã para muitos. […]. Sempre o terei nesse conceito, continuo admirando-o”. O fato é que a capitis diminutio dos generais é visível no embate com esse cavaleiro da triste figura e com a família real. Os ataques não se tratam de combustão espontânea, mas de uma bem armada orquestração no intuito de expeli-los da governança.

Dentre as baixarias lançadas pelo guru, nada mais triste que aquela endereçada a um dos generais que vivencia um sério problema de saúde: “… a quem me chama de desocupado, não posso nem responder que desocupado é o cu dele, já que não para de cagar o dia inteiro”.  É lamentável que os súditos fiquem expostos a tanta loucura e crueldade, assistindo a um flagrante desrespeito não apenas a um general, mas a uma pessoa com problemas reais de saúde (causa turpis). O guru ainda diz que Os vassalos votaram para ter um governo conservador, cristão”. O que há de cristão em tanta depravação, desregramento e sacanice? Onde fica o tal reino cristão? Se Cristo aqui viesse, haveria de meter o chicote nos hipócritas.

Numa fala de quem quer colocar panos quentes, o general e vice-rei mandou seu recado: “Esses ataque são totalmente sem nexo. Se nós ignorarmos, será muito melhor para todo mundo”. No que se engana o vice-rei, pois diz a sabedoria popular que quem muito se abaixa acaba mostrando a bunda, como comprova outra declaração do guru: Fracotes enfezadinhos como esse general, que não têm personalidade nenhuma e só sabem agir sob a proteção de grupos e corporações, imaginam que sou como eles e vivem tentando reduzir as MINHAS OPINIÕES…”.

Ignorar a desmoralização dos generais – como sugere o vice-rei – não é “melhor para todo mundo”. A omissão nada mais é do que um sinal de fraqueza ou cooptação, uma vez que o omisso toma um lado, sim – o do mais forte. E quando a contenda sai do campo das ideias para entrar no da obscenidade, indecência e falta de decoro significa que a corda dada já ultrapassou os seus limites, aproximando-se do abismo. É preciso romper este círculo vicioso de impropérios. Chega de ser cobra que morde o rabo. Com mil demônios! De tanto colocar uma pá de cal e pôr pedra em cima, o reino logo estará cercado pelas Muralhas da China.

É sabido que esta carga de explosivos disparada contra os homens das espadas objetiva derrubar o general ministro da Secretaria do Reino, mandando-o de mala e cuia para casa. Um dos mais beligerantes príncipes vem alardeando aos quatro ventos a armação, vangloriando-se de ter “explodido” o afrontado que ainda continua de pé, mas debaixo de um fogo cerrado de desmoralização, aviltado até mesmo por indivíduos desprezíveis que pululam pela mídia. O guru continua apontando sua artilharia para o ministro general: “Só conhece politiqueiros e fofoqueiros de merda como ele mesmo”. O que se vê neste reino tresloucado é mina por todo lado e um salve-se quem puder. O ex-comandante do exército do reino deixou claro que: “… pela importante presença dos militares em cargos de chefia, certamente uma parte da conta [se o governo real não der certo] será debitada aos militares”. Então, que eles zelem pelo reino antes que consumatum est.

O que mais intriga nesta imbróglio é o fato de o monarca e seus príncipes – em vez de agirem como mediadores – estarem a jogar bosta (com a licença do guru pelo uso da palavra) no ventilador. Ao invés de conterem a verbiagem do mentor, estão a insuflar seu ego aloprado, tanto é que, irritado, o rei respondeu àqueles que questionaram o entrevero de seu guru com os homens das espadas: “Ele [o guru] é dono do seu nariz, assim como eu sou do meu e você é do seu”. E complementou, mandando um recado indireto para os fardados, mostrando-lhes que não são melhores do que ele: “Eu recebo críticas muito graves e não reclamo. O pessoal fala muito em engolir sapo e eu engulo sapo pela fosseta lacrimal”. Trocando em miúdos, que os generais engulam seus sapos sem reclamar e fiquem “pianinho”.

O fato de ser tão louvaminhado pela realeza levou o mentor astrólogo a dar um tiro de misericórdia nos homens das espadas: Os generais, para voltar a merecer o respeito popular, só têm de fazer o seguinte: arrepender-se, pedir desculpas e passar a obedecer”. Os homens de farda receberem do guru a ordem de calar a boca e obedecerem é uma desmoralização total e irrestrita.  Portanto, a impressão dos vassalos é a de que no reino o mentor real continua dando as cartas. Placar: Estrelas (mentor real) 10 x Espadas (generais) 0.

GURU DO REINO DESTRATA GENERAL

Autoria de Lu Dias Carvalho

Cá entre nós, respeito é coisa irreal neste desvairado reino – uma verdadeira casa de orates. Nem mesmo os generais estão a salvo da chacota. O que se vê é cada um  fazendo o que bem quer nestes domínios  delirantes da mãe joana – desde os príncipes aos astrólogos. Foi-se o tempo em que a norma vigente era cada qual com seu saraquá. A verdade que salta aos olhos e vem caindo no domínio público é que os donos das espadas andam tão inexpressivos e borocoxôs por estas terras que se pode caçar pulga em juba de leão. Enquanto isso, o guru despirocado manda e desmanda no pedaço, principalmente agora que se encontra todo empertigado e gabarola com a condecoração que lhe fez seu rei. O Diário Oficial da União do reino, em edição extra, oficializou-o no grau de Grã-Cruz da ordem. Isso é que é honraria, o resto é café pequeno. Há de trombetear vitórias o tal sujeito, sem jamais cantar a palinódia.

O guru real classificou determinado general do reino – ministro de certa pasta – como “uma bosta engomada” que “fofoca e difama pelas costas”. E ainda arrematou, ligando-o a um conhecido político: … são aqueles tipos de ‘bandidinhos’ que não podem receber um elogio sem respondê-lo com insultos, para mostrar que são gostosões. Gente sem caráter nem valor. Bostas em toda a extensão do termo”. O general – assim como o vice-rei já havia feito antes – limitou-se tão somente a dizer que o tal guru é um “desocupado esquizofrênico”. Desta maneira, a falta de uma postura mais enérgica por parte dos homens fardados vem fornecendo munição para que o destemperado mentor deite e role, sem haver absolutamente ninguém que coíba seus desvarios ou lhe aplique um cala a boca. Enquanto o guru astrólogo canta de galo, há a impressão entre os súditos de que os generais estão a cantar de galinha, quando deveriam chamar o bocudo à responsabilidade, quebrando a crista de sua empáfia.

O mais bizarro no reino é a postura do monarca que deixa visível para todos que seu guru “só” não é mais importante do que seus mimados pimpolhos, ou seja, todo o resto não possa de um cocô. Tanto é que, mesmo após seu astrólogo ter batido pesadamente no vice-rei e agora em um de seus ministros – ambos generais – concedeu ao guru a maior honraria do reino, ou seja, agraciou-o com o mais alto grau da Ordem de Rio Branco (E pasmem!)  por “distinguir serviços meritórios e virtudes cívicas, estimular a prática de ações e feitos dignos de honrosa menção”. E é claro que tal honraria foi estendida – num gesto do mais vergonhoso nepotismo – aos dois príncipes mais velhos (O que os moçoilos fizeram de bem ao reino?), o que deve ter levado o Barão do Rio Branco a revirar-se em sua tumba mortuária. E os súditos? Ah, esses continuam com a cara de babaca. Ou seria cara de tacho?

Nota: A Ordem de Rio Branco foi idealizada em 1963 e homenageia o Barão do Rio Branco, patrono da diplomacia brasileira. Ela tem cinco graus: Grã-Cruz (a mais alta), Grande Oficial, Comendador, Oficial e Cavaleiro, além de uma medalha anexa. Segundo a reportagem “O rei incluiu seu guru astrólogo num grau que, segundo o regulamento da ordem, é reservado apenas para determinadas autoridades. As normas, disponíveis no site do Itamaraty, estabelecem que a Grã-Cruz pode ser dada ao presidente da República e ao vice-presidente; aos presidentes da Câmara, do Senado e do STF (Supremo Tribunal Federal); a ministros, governadores e militares de alta patente, além de ‘embaixadores estrangeiros e outras personalidades de hierarquia equivalente’.”

EM DEFESA DO VICE-REI

 Autoria de Lu Dias Carvalho

Se quando um não quer dois não brigam diz também outro sábio ditado popular que quem muito se abaixa, mostra o fundilho. Somando os dois ditos populares, há de convir o leitor que ambos podem ser postos em prática, mas desde que se respeitem as causas que levam ao exercício de um e de outro. Para certos casos, o primeiro calha como uma luva, mas também há fatos que exigem a observância do segundo, a fim de proteger a honra do ultrajado, caso contrário, poder-se-ia usar um segundo dito popular que diz: quem com os porcos anda, farelo come, ou ainda um provérbio com um teor ainda mais firme: quem cala, consente.

Deixando os ditos e não ditos de lado, tem sido vexamoso o modo como o vice-rei vem sendo tratado no reino pela família real e seu staff. Dentre os inconsequentes desacatos estão palavras como “traidor” e “golpista”. O rei finge de morto na defesa de seu vice, enquanto dá espaço para que seus bambinos – os príncipes 1, 2 e 3 – desçam o relho no general, num visível abuso de poder. Ainda que tais atitudes descabidas a princípio fortaleçam o vice-rei – ao mostrar que o soberano não tem pulso nem com seus filhos – em longo prazo tiram a admiração que os súditos vêm nutrindo por ele, pois não vivemos nos tempos de São Jerônimo quando sofrer humilhação era um degrau para a santidade. Como essa gente de ânimo buliçoso não alarga a consciência, está passando da hora de botar os pingos nos is.

Num reino totalmente despirocado em que a família real não demonstra um fanico de compostura para com seu povo, sendo dada a arroubos de grandeza e poder a ponto de ocupar a mídia com declarações imprudentes e temerárias – e sendo desprovida de qualquer ajustamento de conduta – qualquer indivíduo com um mínimo de bom senso foge à desarmonia vigente e, por isso, é malhado como um “Judas”, pois o grupelho exige a unicidade de todos os seus partícipes.  Qualquer um que emita um parecer próprio é visto como um desatinado, uma ovelha desgarrada que precisa ser contida em fortes correntes ou jogada às feras. Em assim sendo, a cordialidade e a civilidade excessivas por parte do ultrajado general funcionam como se ele estivesse apanhando água com a peneira.

Engana-se quem pensa que não há muito mais farinha debaixo do angu dos queixosos reais. O que eles tanto temem em relação à postura do vice-rei – “sombra que às vezes não se guia de acordo com o sol… – na corte? É elementar, meu caro leitor! Eles temem que o general continue ganhando a simpatia dos vassalos e obtenha poderes para se opor ao desmonte generalizado  que ora se vê, rechaçando os vendilhões das riquezas do reino. Eles temem que o apoio ao segundo homem mais poderoso da monarquia acabe com as asnices do guru da corte e membros do staff real. Eles temem que a aprovação popular ao vice-rei seja capaz de botar um freio na truculência verbal dos príncipes.  Eles têm medo de que a simpatia pelo vice-rei – com bom trânsito entre políticos da oposição, mídia e empresários – possa fazer tremer os alicerces do trono.

Todos os vassalos têm conhecimento de que o vice-rei tornou-se um saco de pancadas de uma monarquia que não mostrou ainda a que veio. Desviar a atenção para ele é uma forma de contabilizar em sua pessoa os fracassos estrondosos da política atual do reino. Na verdade, ele é um dos pouquíssimos tripulantes a demonstrar credibilidade nesta nave destrambelhada, sem um comandante confiável e capaz de levar todo o reino – nos seus mais diferentes campos – à bancarrota. Eles, porém, fingem não ver isso, pois lhes importa mais o poder totalitário próprio dos ditadores, como as expressas diariamente.

Ainda que no passado o vice-rei tenha se aproximado em sua retórica dos abilolados reinantes, pode-se dizer que hoje é a “voz da razão e moderação”, a voz do bom senso, um farol na escuridão das ideias anacrônicas, estapafúrdias e esdrúxulas que despencam sobre o reino como as sete pragas do Egito. Ideias essas baseadas num “bliblianismo” contrário a tudo o que Jesus Cristo ensinou, mas amalgamadas a interesses próprios e a sabujar as elites, sem qualquer compromisso com os pobres – os escolhidos do Mestre Jesus. Eles não passam de hipócritas que usam o nome de Deus a bel-prazer, posando de homens e mulheres tementes ao Mestre Jesus. Farisaicos… Isto é o que são!

Os súditos trazem o entendimento de que se o vice-rei não der seu grito de BASTA, os inconsequentes irão atingir o objetivo que tanto buscam – “resuma-se à função de poste, fique quieto, pois é apenas um representante da maçonaria e de parte do Exército”. Eles irão transformá-lo no poste que almejam. Nós, os vassalos, continuamos perguntando: Até quando, general, o senhor irá tolerar tanta humilhação, zombaria, rebaixamento e pulhice? Já estamos ficando incomodados com sua excessiva leniência. Essa gente não conhece a linguagem da moderação e do respeito. Chega de impunidade! A continuar assim, nem mesmo os lacaios do palácio irão respeitá-lo e outros zés-ninguém aparecerão para insultá-lo. Bote logo um fim nesta novela! Até mesmo o presidente da Câmara do reino diz que um dos príncipes (02) “age seguindo a estratégia definida pelo próprio rei nas redes sociais”. O que mais é preciso?

Nota: São Jerônimo, obra do pintor barroco Hendrick van Someren

VICE-REI X MENTOR ASTRÓLOGO

Autoria de Lu Dias Carvalho

Corre à boca miúda que as intrigas no reino estão a mil por hora. Não há um santo dia em que a cobra não fume. O rei e seu guru astrólogo – corda e caçamba – parecem navegar à deriva das declarações insensatas, querendo mudar o andar da carruagem a ferro e fogo, como se fossem a fina flor da sapiência. A permanecer assim não será de admirar que a vaca acabe indo para o brejo mais cedo do que se imagina. Enquanto a trama é urdida, os súditos veem o reino curvar-se à la diable (desordenadamente). Contudo, em meio a tanto destempero, um raio de luz fez-se presente: o vice-rei saiu de sua discrição e deu um chega para lá no guru que tem por obsessão mostrar-lhe que a porta do palácio é serventia do reino, ainda que diga que não tem “bosta nenhuma” a ver com o pedido de impeachment feito contra o vice-rei por certo pastor de quelelê.

Como é sabido até mesmo pelos ratos que frequentam as cozinhas do reino, o guru astrólogo desceu a ripa no staff real, direcionando a pancadaria maior sobre os homens das espadas. Alegou que dentro do governo há “só intriga, só sacanagem, só egoísmo, só vaidade…”. Os súditos, embasbacados, passaram a se perguntar como é que um reino que se diz fundamentado nos preceitos cristãos – embasado na família e na honra – pode ser um local propício à sacanagem, à devassidão e à pouca-vergonha? Além disso, o fato de saber que os fardados guardiões da pátria só estão preocupados em pintar as madeixas e impostar a voz – conforme afirmação do guru –, deixando a pátria à deriva, a trancos e barrancos, a trouxe-mouxe, ao Deus nos acuda,  deixou as gentes do lugar ainda mais receosas. Abyssus abyssum invocat! (O abismo chama o abismo!).

O astrólogo real estava mesmo a fim de abusar da boa vontade dos generais do reino, ao dizer que eles não tinham vergonha na cara. Estaria o torunguenga fazendo um péssimo uso do poder que a família real lhe deu, ou seria apenas o porta-voz da imprudência, insensatez e leviandade que ela lhe outorgou? Ainda mais quando é visto no palácio como o mentor e filósofo da realeza, responsável por sua subida ao trono do reino e por escolher muitos de seus asseclas. Se assim for, na verdade trata-se apenas de uma ação entre amigos do peito – um tomando para si a responsabilidade do insulto desferido e o outro o referendando. A julgar pelos últimos resultados, os vassalos presumem que o soberano acertou na mira, mas errou o alvo, ao dar munição para o seu mentor despirocado, ou os fatos não passam de um jogo de cena até que a poeira baixe, continuando tudo como dantes no quartel de Abrantes.

O guru real perdeu a compostura quando foi chamado de “astrólogo” pelo vice-rei que, cansado de tanto levar chicotadas, desabafou: “Acho que ele se deve limitar à função que desempenha bem, que é a de astrólogo. Pode continuar a prever as coisas aí que ele é bom nisso!”.  Se alguém quiser matar o mentor real de raiva é chamá-lo de “astrólogo”. Era certo, portanto, que o vice-rei – chamado de “modelo” pelo guru – não perderia por esperar, pois seu desafeto viria afiado como uma navalha, uma vez que sua língua viperina não perdoa. E foi exatamente isso o que aconteceu.

Munido de grande ódio e instigados pelos príncipes reais – um deles é louco e o outro é deslumbrado, segundo o presidente da Câmara do reino – , o guru tresloucado disse cobra e lagartos acerca do vice-rei e outros fardados ocupantes do reino. Agora, quem o chamará à responsabilidade? Ninguém! Ele se assenta ao lado do trono real, o que lhe dá o direito de ser tão delicado quanto um hipopótamo e tão filosófico e racional quanto Incitatus. Ave, César! O tempo fechou, agora além da queda vem o coice. Alea jacta est! (A sorte está lançada!).

VICE-REI VIRA O “JUDAS” DO REINO

 Autoria de Lu Dias Carvalho

É preciso ter muito cabelo nas ventas para chamar a segunda autoridade do reino de “Judas”. É preciso ter pegado muito touro pelos chifres para chamar um vice-rei de “traidor”. É preciso ter muita raça para chamar um general de “sem caráter”. É preciso ter muita confiança no taco para chamar um vice-rei e general de “Judas, traidor e sem caráter”. É preciso ter culhões para cair de pau, jogar na lama e acabar com a moral de um desafeto, tido como o segundo homem do reino. Mas não é preciso nada disso para ser um boi de piranha ou um Maria vai com as outras e enlear-se até a raiz dos cabelos.

 Se algum vassalo deste reino pensa que o tal pastor da discórdia – deslumbrado com o seu repentino poderio e munido de prepotência e bajulismo – deixou o vice-rei em paz, engana-se redondamente. Na sua última verborreia – para gatos e cachorros tomarem ciência – aumentou ainda mais o tom, regurgitando sandices como: “Não é possível que o ‘vice-rei’ contradite diariamente o ‘rei’ em público. Não é possível que ele se coloque o tempo todo como alternativa de poder, em uma postura golpista à luz do dia”. Embora mostre as garras com tamanha petulância, comenta-se a boca pequena que a valentia do adulão escuda-se no rei que não moveu uma palha em prol do vice-rei – ao contrário, vem instigando seus apaniguados contra sua autoridade, a fim de desmontá-lo do poder. Até os bichos do reino estão ficando de cabelo em pé com tanta danura.

O vice-rei até agora se apresenta imperturbável como uma lady inglesa. Contudo, os analistas de plantão demonstram temor diante do excesso de calmaria dessas águas. O monstro Ness pode se erguer dessa imperturbalidade a qualquer momento e mostrar com quantos paus se faz uma canoa. Portanto, é bom não servir de viga mestra, quando se tem pouca força na retaguarda. Enquanto se prolonga a quizila, uma parte dos súditos fica de antenas ligadas e a outra mantém as orelhas de pé, aguardando os desdobramentos da queda de braço entre o pastor louvaminheiro e o general silencioso.

O aduloso, embora ataque o vice-rei expelindo cobras e lagartos, usou as entrelinhas para chamar o povo do reino de “mais raso senso comum”. Do alto de sua empáfia, o falso profeta bradou: “Eu gostaria de saber qual dos dois é o ‘vice-rei’ verdadeiro? O brutamontes da campanha eleitoral, que pretendia acabar com o 13º salário e fazer uma nova Constituição sem o Congresso, ou esse moço bem-comportado que só fala o politicamente correto que o mais raso do senso comum quer ouvir? É uma mudança muito radical”. E arrematou com seu hipócrita bom-mocismo: “Já vi esse filme e não vou deixar que façam isso com meu ‘rei’, meu amigo pessoal há dez anos, com quem travo lutas contra a esquerda desde o dia em que pisei no Congresso”.

O fato é que o incensador real despirocou de uma vez ao colocar-se como a salvaguarda do monarca, enquanto esquarteja a moral do vice-rei. Haja audácia! É provável que o desmiolado – por conta de seu puxa-saquismo –, preocupado em adular o sol que nasce,  esteja a atravessar o Rubicão sem se dar conta do perigo. A continuar deste jeito, Jesus Cristo não retornará nem mesmo quando o povo de Israel – e do planeta Terra – converter-se ao cristianismo, pois está enojado de tanto desregramento e “fake news” feitas em seu Santo nome, a fim de favorecer os apaniguados e enganar o povo desavisado e crédulo em lorotas. Resta-lhe pegar um chicote e descer o relho nesses santilhões.

 

DESTITUIR O VICE-REI – QUE REINO É ESTE?

Autoria de Lu Dias Carvalho

É o fim da picada o que corre dentro do despirocado reino – não a boca pequena, mas a boca escancarada. Os vassalos mais crédulos dizem estar assistindo ao fim do mundo, enquanto aqueles que trazem o pé no chão espalham aos quatro ventos que há muito sujeito afoito – com fogo no rabo ou com o diabo no corpo – imaginando estar com a corda toda, só porque é amigo do rei. Malungo ou não, um dos vice-líderes do reino no Congresso – certo pastor de pinimba – quer se ver livre do vice-rei que é ninguém mais ou ninguém menos que um general das espadas com quepe e tudo.

O que se sabe é que o tal mancebo – arvorado no seu repentino poderio e munido de grande vaidade e bajulismo – empinou o nariz, levantou o topete, coçou a barbicha rala e afagou o bigodinho miúdo para esculachar o general estrelado, usando como fundamento sua velha e costumeira verborrogia e moral duvidosa, para dizer que o vice-rei é portador de “conduta indecorosa, desonrosa e indigna” e conspira contra o rei. Como se sua parolagem fosse café pequeno, o louvaminheiro real ainda teve a fidúcia de protocolar junto ao Congresso do reino o pedido de afastamento do homem de farda, sem ter a mínima noção de que é a espada que protege o rei e não vice-versa.

O mais abilolado neste quelelê é que o simulado “homem de pulso” está sendo manejado pelo guru/filósofo do reino (que jamais engoliu o general), o que o leva a sentir-se duplamente acobertado pelos governantes reais (sua alteza real e seu guru), a ponto de querer botar o vice-rei de escanteio, ou seja, para cantar em outra freguesia. Em seu palanfrório, o adulão registrou: “A nação não pode ficar à mercê dos maus governantes, da vaidade e do despreparo emocional daqueles que alçados a cargos de relevo se deslumbram com o poder”. Palavrório que cai sobre ele como uma luva – uma descrição exata de si mesmo. Pelo visto, o espírito de porco encontra-se quase solitário nesta quizila, pois seus companheiros de partido já deixaram claro que não têm nada a ver com essa rixa, não almejando ficar com a espada na cabeça.

O presidente da Câmara real – macaco velho que não mete a mão em cumbuca – jamais levará avante o estapafúrdio pedido dessa ovelha insensata – mas com complexo de lobo –, pois sabe muito bem que o buraco é mais embaixo. Se a coisa ficar mais ruça do que está, não haverá “grande mestre” que socorra o atrevido. Em assim sendo, almeja apenas que a peçonha do cortesão desbocado seja destilada só no papel que descansará “ad aeternum” num canto de sua mesa. Ele é que não irá atravessar o Rubicão, bastando-lhe tão somente fazer ouvidos moucos, pois não é ferreiro para ficar entre o martelo e a bigorna, obedecendo à imposição de um espírito de porco que está bulindo com um enxame de marimbondos.

Possivelmente, ao sentir que deu um passo maior do que as pernas no seu conluio com o astrólogo real, o lacaio  do rei dá mostras de que não quer entrar sozinho na fogueira, ao escancarar aos quatro ventos o apoio de sua viga-mestra: “Faça o que for possível para blindar o ‘rei’. Ele não está conseguindo governar”. E mais para frente, a fim de botar água na fervura de sua língua destrambelhada, temendo que seu tiro tenha saído pela culatra, remendou: “Não é um tiro para matar. É um tiro para o alto”. Para matar quem, cara pálida? Só se for para botar limites na sua petulância e desaforamento. Acabará ficando sozinho nesta tramoia!

A pergunta que os vassalos do reino fazem a si mesmos é até quando o vice-rei continuará fazendo ouvidos de mercador à cretinice e à insolência de sujeitos como o guru/astrólogo e o pastor de rapapé que nunca primaram pelo bom senso, mas que insurgem contra os estrelados. Ao que parece, o general está tentando levar os desacatos recebidos na ironia. Acontece, porém, meu caro diplomata, que há limites para tudo. Chega um momento em que é preciso abaixar a crista dos bufões, caso não queira ficar no mesmo balaio que eles, servindo apenas para alegrar a corte. Isso diz respeito a salvaguardar o amor-próprio e a dignidade diante de um reino extremamente caótico. O que se tem visto é um vice-rei que se transformou num saco de pancadas, sem que em seu auxílio o rei dê um pitaco. Os súditos assistem a tudo boquiabertos – temendo que o caos se instale por completo.