Arquivo da categoria: Pintores Brasileiros

Informações sobre pintores brasileiros e descrição de algumas de suas obras

Tarsila – A FAMÍLIA

Autoria de Lu Dias Carvalho

A artista brasileira Tarsila do Amaral (1886-1973) gostava de retratar temas populares e religiosos ligados ao seu país. Na composição circular intitulada A Família ela nos apresenta uma família numerosa.  Doze indivíduos, incluindo um bebê que mama tranquilamente, fazem parte do grupo. À época no Brasil, as famílias com muitos membros eram bem comuns, ao contrário dos dias atuais, quando a criação de filhos exige muito tempo e gastos materiais. Dois animaizinhos também fazem parte do retrato: um gato que mira o observador e um cão voltado para a esquerda da tela.

Os personagens encontram-se sentados, excetuando uma menina que traz uma boneca preta de pano. Todas as figuras humanas encaram o observador, menos a mãe que dá o peito a seu bebê, o próprio bebê e um garotinho sem camisa à direita, na parte inferior. A mãe que alimenta encontra-se de perfil, dando vida a uma nova geração e, diferentemente dos demais penteados, traz um grande coque no alto da cabeça. A presença de animais, a boneca e o cacho de bananas são indicativos da vida que as crianças levam dentro da família.

O homem de amarelo à esquerda é o pai. Ele segura o que parece ser uma enxada, o que leva a crer que aquela família seja rural. Traz também uma expressão cansada. A penúltima mulher à direita pita um cachimbo de cabo muito comprido. O garoto gorducho, que se encontra no centro da composição, segura uma penca de bananas. Acima dele, também centralizada, a matriarca ampara o rosto com a mão. Os membros da família são bem parecidos, trazendo as mulheres os cabelos partidos.

A tela é coberta pelo branco, o azul, o rosa, o amarelo, o verde e pontos em preto nela espalhados. O fundo azul mistura-se com o verde do chão.

Ficha técnica
Ano: 1925
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 79 x 101,5 cm
Localização: Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Tarsila do Amaral/ Folha Grandes Pintores
Tarsila, sua obra e seu tempo/ Aracy. A. Amaral

Tarsila – A CUCA

Autoria de Lu Dias Carvalho

Estou fazendo uns quadros bem brasileiros que têm sido muito apreciados. Agora fiz um que se intitula A CUCA. É um bicho esquisito, no mato com um sapo, um tatu e outro bicho inventado. (Tarsila)

Nesta pequena tela a pintora nos faz abandonar o mundo da realidade pelo da abstração. Faz viver diante de nós seres fantásticos em meio a plantas de formas rudimentares, como deviam ser as da época terciária. (M. Kuntzler)

A Cuca é uma das mais belas obras da artista paulista Tarsila do Amaral (1886-1973). É anterior à sua fase antropofágica, antecedendo as suas formas fantásticas. Está ligada à infância de Tarsila quando na fazenda da família ela ouvia histórias de mitos e lendas do folclore brasileiro. Embora o folclore nacional apresente uma cuca malvada, afeita a assustar as crianças desobedientes, a cuca presente na obra da artista parece ser bem dócil e receptiva com seus grandes olhos.

Tarsila insere nesta obra aquilo de que tanto gostava: as cores e a magia das formas, mostrando uma fauna e uma flora bem peculiares (tarsilianas). É a sua fase do colorido bem brasileiro. Ela conta que já amava essas cores das festas populares do interior paulista desde a sua infância passada na fazenda. Sobre as cores usadas ela escreveu:

“Ensinaram-me depois que eram feias e caipiras. Segui o ramerrão do gosto apurado… Mas depois me vinguei da opressão, passando-as para as minhas telas: azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante, tudo em gradações mais ou menos fortes, conforme a mistura de branco. Pintura limpa, sobretudo, sem medo de cânones convencionais. Liberdade e sinceridade, uma certa estilização que a adaptava à época moderna. Contornos nítidos, dando a impressão perfeita da distância que separa um objeto do outro.”

Além da grande cuca amarela, assentada com as mãos junto aos joelhos, estão presentes na composição um sapo que se mostra bem contente, uma taturana e um ser esquisito, parecido como uma mistura de ave com tatu. O sapo gorducho está de frente para a cuca e traz um grande sorriso na cara. Logo atrás vem a taturana com sua boca de espanto. Mais ao fundo, debaixo de uma árvore com copa composta por 17 corações, está o ser híbrido que parece passar por trás da cuca.  O verde predomina na composição. A vegetação luxuriante apresenta formas arredondadas, bem comuns ao trabalho da artista.

Ficha técnica
Ano: 1924
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 73 x 100 cm
Localização: Museu de Grenoble, França

Fontes de pesquisa
Tarsila do Amaral/ Coleção Folha
Tarsila do Amaral/ Folha Grandes Pintores
Tarsila, sua obra e seu tempo/ Aracy. A. Amaral

 

Eliseu Visconti – NU

Autoria de Lu Dias Carvalho

O professor e pintor brasileiro Eliseu d’Angelo Visconti (1866-1944) nasceu na Itália, mas aos sete anos de idade veio para o Brasil com sua irmã Marianella, ao encontro dos irmãos mais velhos que para aqui vieram anos antes. Os dois foram morar na propriedade do barão de Guararema, em Minas Gerais, ganhando a afeição da baronesa Francisca de Souza Monteiro de Barros que os conheceu na Itália, onde estivera em tratamento. A baronesa, apreciadora de arte e colecionadora de pinturas, encarregou-se dos estudos de Eliseu, por quem nutria grande carinho, sendo também sua grande incentivadora nas artes. O garoto foi para a cidade do Rio de Janeiro, onde iniciou seus estudos de música. Mas ao ver um de seus desenhos, a baronesa incentivou-o a estudar artes.

A composição intitulada Nu é obra do artista que usou em sua obra inúmeros nus. Encontra-se no acervo do MASP desde 1966. Uma jovem mulher encontra-se nua, recostada no espaldar de uma cadeira (ou cama), com o dorso inclinado para trás, olhando-se num pequeno espelho oval, enquanto traz a mão direita na cabeça.

Ficha técnica
Ano: 1895
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 165 x 89 cm
Localização: Museu de Arte, São Paulo, Brasil

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

Belmiro de Almeida – DOIS MENINOS JOGANDO…

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor, caricaturista, escultor, jornalista e professor Belmiro de Almeida (1858-1935) nasceu na cidade do Serro, em Minas Gerais, e morreu em Paris, França, aos 77 anos de idade. O artista iniciou seus estudos artísticos no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, indo depois para a Academia Imperial de Belas-Artes, também na mesma cidade. Teve como professores Agostinho José da Mota, Zeferino da Costa e Souza Lobo. Ao formar-se na Academia Imperial de Belas Artes, o jovem passou a expor suas obras no Brasil e na Europa.

A composição com motivo infantil intitulada Dois Meninos Jogando Bilboquê é obra do artista que além do retrato também se dedicou à pintura de gênero, ou seja, a retratar o cotidiano. Esta obra faz parte do acervo do MASP desde 1947.

O quadro mostra dois garotos entretidos com o jogo de bilboquê (brinquedo que consiste numa bola de madeira com um furo, amarrada por um cordel a um bastonete pontudo, no qual ela deve se encaixar ao ser impulsionada). Parecem se encontrar na lateral de uma casa, ao ar livre, como mostra o vaso de planta encostado à parede, à direita, e o arbusto e plantas floridas atrás do garoto, à esquerda. Ao fundo, logo depois das grades que se encontram fixas a três pilares, divisa-se o jardim com grandes árvores.

Pelas vestimentas é possível deduzir que os dois meninos pertencem a classes sociais diferentes. O que se encontra com o objeto do jogo apresenta-se bem vestido, com um casaco sobre a camisa e a calça curta, além de usar meias e sapatos. O outro, um pouco maior, usa uma calça que parece ter sido cortada no joelho e encontra-se descalço.

Os garotos mostram-se compenetrados no jogo. O maior, até mesmo cruzou as mãos atrás, como se estivesse magnetizado pela brincadeira. O outro, com certeza o dono do brinquedo, mostra ao amigo a sua habilidade no encaixe da bola de madeira.

Ficha técnica
Ano: sem data
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 40 x 30 cm
Localização: Museu de Arte, São Paulo, Brasil

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

Segall – INTERIOR DE INDIGENTES

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor Lasar Segall (1891-1957) era o sexto dos oito filhos do casal Abel Segall e Ester Segall, tendo nascido em Vilna, na Lituânia, quando o país ainda se encontrava sob o jugo do império russo. No decorrer da Primeira Guerra Mundial, Vilna foi invadida pelos alemães que ali permaneceram três anos e, após esse período, os russos retomaram à cidade. Segundo o próprio pintor, houve lutas entre lituanos, poloneses e russos pelo domínio de Vilna que ora ficava nas mãos de uns, ora nas mãos de outros, até ser incorporada à Polônia definitivamente. E, por isso, ele sempre se sentiu como um apátrida. Sua família era judia e, como as demais, vivia à margem da sociedade, no gueto. Ele foi ali instruído pelo pai escriba do Torá (livro sagrado do judaísmo), com quem viveu até os 15 anos de idade.

A composição intitulada Interior de Indigentes é uma obra do artista que era muito sensível às questões sociais, dono de uma vocação humanitária e religiosa. Encontra-se no acervo do MASP desde 1950. O quadro em questão pertence ao seu período expressionista em que ele exterioriza os estados íntimos de sofrimento, usando uma dramática simplificação das linhas e das tonalidades principais da composição.

O casal encontra-se numa casa muito humilde com o chão assoalhado. Em primeiro plano está a mulher, encarando o observador, como se lhe mostrasse sua miséria, trazendo o filho nos braços. Em segundo plano encontra-se o homem sentado diante de uma pequena mesa, com o braço esquerdo descansando sobre ela, perdido em seus pensamentos, sem saber o que fazer da vida.

A mulher é magra e seus olhos díspares repassam um grande sofrimento. Seus seios caídos são perceptíveis através do vestido de mangas compridas. Sua boca fechada traz a sensação de que não tem mais voz para alardear sua pobreza. Ela apenas mostra o filho raquítico, talvez morto, enquanto faz um gesto com a mão direita.

O homem traz o rosto sério, mergulhado na sua própria impotência, aniquilado diante da miséria. Seu olhar de desesperança está voltado para a direita. Sua postura é de conformismo, como se não houvesse mais nada a fazer, senão aceitar e aceitar até que seu fim chegasse.

A sensação repassada ao observador é a de que ele também faz parte deste drama, caso traga consigo um rasgo de sensibilidade, capaz de ser tocado pelo sofrimento dos desvalidos, impotentes diante da crueza do mundo.

Ficha técnica
Ano: 1920
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 83,5 x 68,5 cm
Localização: Museu de Arte, São Paulo, Brasil

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

Anita Malfatti – ESTUDANTE RUSSA

Autoria de Lu Dias Carvalho

A futura pioneira da arte moderna no Brasil, Anita Catarina Malfatti (1889-1964) que seria conhecida depois como Anita Malfatti, nasceu na cidade de São Paulo. Era a segunda filha do engenheiro civil italiano Samuel Malfatti e da estadunidense Elizabeth Krug, descendente de irlandeses e alemães, apelidada de Bety. Da capital paulista a família Malfatti mudou-se para Campinas, no interior do mesmo Estado. Em 1892, já naturalizado, o pai de Anita tornou-se deputado estadual, representante da colônia italiana.

A composição intitulada A Estudante é obra da artista. Encontra-se no acervo do MASP desde 1949, tendo sido doada pela própria pintora. É uma das poucas obras da artista em que ela bota sua assinatura na parte superior. É possível que o fundo da obra em razão do tipo das pinceladas e cores apresentadas tenha sido pintado depois.

A mulher está sentada numa cadeira de frente para o observador, com o corpo levemente voltado para a frente. Veste uma blusa muito colorida que contribui para dar luminosidade à tela. Sua saia roxa só é percebida até o joelho, pois a pintora não mostra os membros inferiores. As duas mãos estão cruzadas no colo, sendo que a direita fica oculta. A artista trazia uma atrofia congênita na mão direita, talvez, por isso, tenha ocultado a mão direita, ainda que sem perceber a relação consigo.

Ficha técnica
Ano: 1915 – 1916
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 76,5 x 61 cm
Localização: Museu de Arte, São Paulo, Brasil

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador