Cézanne – O SÃO JOÃO DA CRUZ DA PINTURA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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A obra de Cézanne foi a maior revolução na arte desde que o impressionismo greco-romano transformou-se no formalismo bizantino. (Roger Fry – crítico e historiador)

A pintura de Cézanne representa um afastamento da arte puramente visual e sensorial para uma arte mais cerebral e intelectual. As lições e o legado de sua arte são fundamentais para se compreender o desenvolvimento da pintura moderna.(David Gariff)

O desenho e a cor não são distintos, porque tudo na natureza é colorido. À medida que se pinta, desenha-se; quanto mais a cor harmoniza, mais o desenho se torna preciso. Quando a cor atinge a riqueza, a forma encontra sua plenitude. (Cézanne)

Paul Cézanne era um homem apaixonado por sua pintura, a ponto de colocar tudo em sua vida num patamar abaixo dela, até mesmo a família. Estava sempre em busca da perfeição, trilhando uma viagem essencialmente mental, movido pela vontade de ter uma obra sua exposta em museus, ladeada pelos grandes mestres do passado, como Delacroix, por quem tinha fascinação. Em um de seus desabafos a um jovem pintor, ao se sentir incompreendido em sua arte, afirmou que pensava ter nascido cedo demais. Com toda a razão, assim como o pintor holandês Van Gogh e o francês Gauguin, Cézanne também não foi compreendido em seu tempo, mas teve uma grande importância para a pintura do século XX, servindo de inspiração para importantes artistas, dentre os quais se encontravam os cubistas.

O pintor passou por momentos difíceis, ao ver suas telas recusadas pelo Salão de Paris, onde a pintura deveria percorrer os caminhos de Ingres, para quem o desenho predominava sobre a cor, pois essa, segundo ele, tinha como finalidade apenas a coloração. Além disso, quando apresentou trabalhos em Marselha, esses foram alvo de grande execração por parte do público. Um deles teve que ser retirado, para que não fosse destruído. Sua obra estava além do tempo em que vivia. Quando esteve em L`Estaque, na baía de Marselha, durante a guerra franco-prussiana, pintou inúmeros quadros, que já mostravam a sua passagem do estilo romântico, ou expressionista, para uma nova maneira de pintar.

Sob a influência do grande amigo e pintor Camille Pissaro, homem extremamente calmo e tolerante, responsável por direcionar sua pintura para o impressionismo, estilo que dava à cor mais ênfase do que ao desenho, Cézanne produziu uma série de quadros, dentre esses, alguns foram apresentados na primeira exposição feita pelo grupo de impressionistas. E mais uma vez, seu trabalho foi abertamente criticado, e tido como motivo de escárnio pelo público, principalmente a obra Uma Olímpia Moderna, através da qual ele fazia uma homenagem a Manet. Pissarro teve muita influência na pintura de Cézanne, ajudando o artista a acalmar seu mundo interior. Sua paleta também foi se tornando mais clara e suas pinceladas mais curtas e calmas. Cézanne, ao mesmo tempo tímido e irritadiço, dizia que Pissarro fora um pai para ele.

Ao participar de uma nova exposição do impressionismo, onde expôs 16 telas, e dentre elas se encontrava a primeira parte das telas sobre as banhistas, foi novamente alvo de cerradas críticas, zombarias e insultos. Esse novo fracasso levou-o a se afastar do mundo artístico de Paris, dali levando apenas a amizade de Zola e Pissarro, pois mesmo entre os impressionistas sentia-se como um corpo estranho. Estava enojado daquele mundo, que lhe oferecia um acolhimento tão hostil. Ele foi aos poucos se afastando do impressionismo, adquirindo uma nova linguagem pictórica. Nos anos de 1990, depois de ter sido durante muitos anos considerado um impressionista, passou a ser visto como um modelo para os simbolistas, ingressando formalmente no modernismo.

Em L´Estaque, Cézanne foi visitado por Renoir, quando ambos pintaram paisagens da região, em estilos e ritmos diferentes. Enquanto o primeiro era lento, o segundo mostrava-se extremamente rápido com os pinceis. O ritmo lento de Cézanne era uma constante, levando muitas telas vários anos para serem terminadas, pois ele fazia experimentações em busca de muitas respostas na pintura. Para surpresa de Cézanne, em 1882, uma de suas telas – um retrato – foi admitida pelo Salão de Paris, pela primeira e única vez. O pintor esteve presente na inauguração da Torre Eiffel, com o apoio do amigo Victor Chocquet, quando foi um dos participantes da Exposição Universal de Paris, com o seu quadro A Casa do Enforcado. No ano seguinte, participou da importante exposição Les XX, em Bruxelas.

Mesmo com o sucesso, o artista tornava-se a cada dia mais retraído, distanciando-se dos outros pintores, sendo também vitimado pela diabetes. Apesar de tudo, cada vez mais se embrenhava na sua arte, caminhando em encontro à arte moderna. Queria transmitir com intensidade, através de sua pintura, objetos, paisagens e pessoas, captando delas a essência. Lutava para que seu trabalho fosse capaz de ser expresso por si mesmo. E quanto mais envelhecia mais difícil ficava seu contato com o mundo. Havia se transformado numa pessoa amarga e extremada, que logo depois se mostrava cheia de uma ingenuidade comovente, emocionando-se com fatos simples.

O que importava de fato ao pintor era sua arte. Era ela que sustentava seu espírito. E quanto mais contato tinha com ela, mais prazer sentia. Não tinha pressa em acabar um quadro. Era um perfeccionista. Nunca achava que um quadro estava pronto. Retocava-o inúmeras vezes, até se cansar dele. Tudo era muito pensado e analisado milimetricamente. Como os pintores do passado, ele buscava encontrar na simplicidade o perfeito equilíbrio. Tinha paixão pelas cores fortes e intensas. Adorava pintar os bosques dos arredores, a pedreira de Bibémus, a bela Montagne Sainte-Victoire, compondo quadros geniais. Também dedicou uma série aos banhistas.

Em 1906, quando estava pintando ao ar livre, Cézanne foi encontrado inconsciente, depois de uma tempestade. Embora voltasse a pintar no jardim de sua casa, morreu uma semana depois, aos 67 anos, junto a tudo aquilo que tanto amava: seus quadros, tintas e pinceis. E tão só como vivera. Cézanne jamais poderia imaginar o quanto sua pintura seria importante para a arte pictórica, sendo responsável por mudanças artísticas importantíssimas no decorrer no século XX. Ele se tornou reconhecido como o principal ator da pintura contemporânea. É tido como mestre por diversas tendências, responsável por avanços que as ajudaram florescer. O pintor espanhol Pablo Picasso encontra-se entre os artistas que beberam na fonte deixada por ele. Para ver a influência do pintor francês em sua arte, basta comparar As Senhoritas de Avignon com a série de banhistas.

Cézanne foi influenciado por Nicolas Poussin, Jean-Baptiste-Siméon Chardin, Gustave Coubert, Camille Pissarro, etc. Influenciou: Henri Matisse, Hans Hofman, Pablo Picasso, Lucian Freud, Jasper Jonhs, entre outros. Sua obra está calculada em mais de 800 óleos, sendo: 332 paisagens, 178 naturezas-mortas, 150 retratos e 111 composições diversas. Relativas a aquarela, acompanhada por lápis, são mais de 500 exemplares.

Fontes de pesquisa
Cézanne/ Coleção Folha
Cézanne/ Abril Coleções
Cézanne/ Girassol
Cézanne/ Taschen
A história da arte/ E.H. Gombrich

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