DESTITUIR O VICE-REI – QUE REINO É ESTE?

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Lu Dias Carvalho

É o fim da picada o que corre dentro do despirocado reino – não a boca pequena, mas a boca escancarada. Os vassalos mais crédulos dizem estar assistindo ao fim do mundo, enquanto aqueles que trazem o pé no chão espalham aos quatro ventos que há muito sujeito afoito – com fogo no rabo ou com o diabo no corpo – imaginando estar com a corda toda, só porque é amigo do rei. Malungo ou não, um dos vice-líderes do reino no Congresso – certo pastor de pinimba – quer se ver livre do vice-rei que é ninguém mais ou ninguém menos que um general das espadas com quepe e tudo.

O que se sabe é que o tal mancebo – arvorado no seu repentino poderio e munido de grande vaidade e bajulismo – empinou o nariz, levantou o topete, coçou a barbicha rala e afagou o bigodinho miúdo para esculachar o general estrelado, usando como fundamento sua velha e costumeira verborrogia e moral duvidosa, para dizer que o vice-rei é portador de “conduta indecorosa, desonrosa e indigna” e conspira contra o rei. Como se sua parolagem fosse café pequeno, o louvaminheiro real ainda teve a fidúcia de protocolar junto ao Congresso do reino o pedido de afastamento do homem de farda, sem ter a mínima noção de que é a espada que protege o rei e não vice-versa.

O mais abilolado neste quelelê é que o simulado “homem de pulso” está sendo manejado pelo guru/filósofo do reino (que jamais engoliu o general), o que o leva a sentir-se duplamente acobertado pelos governantes reais (sua alteza real e seu guru), a ponto de querer botar o vice-rei de escanteio, ou seja, para cantar em outra freguesia. Em seu palanfrório, o adulão registrou: “A nação não pode ficar à mercê dos maus governantes, da vaidade e do despreparo emocional daqueles que alçados a cargos de relevo se deslumbram com o poder”. Palavrório que cai sobre ele como uma luva – uma descrição exata de si mesmo. Pelo visto, o espírito de porco encontra-se quase solitário nesta quizila, pois seus companheiros de partido já deixaram claro que não têm nada a ver com essa rixa, não almejando ficar com a espada na cabeça.

O presidente da Câmara real – macaco velho que não mete a mão em cumbuca – jamais levará avante o estapafúrdio pedido dessa ovelha insensata – mas com complexo de lobo –, pois sabe muito bem que o buraco é mais embaixo. Se a coisa ficar mais ruça do que está, não haverá “grande mestre” que socorra o atrevido. Em assim sendo, almeja apenas que a peçonha do cortesão desbocado seja destilada só no papel que descansará “ad aeternum” num canto de sua mesa. Ele é que não irá atravessar o Rubicão, bastando-lhe tão somente fazer ouvidos moucos, pois não é ferreiro para ficar entre o martelo e a bigorna, obedecendo à imposição de um espírito de porco que está bulindo com um enxame de marimbondos.

Possivelmente, ao sentir que deu um passo maior do que as pernas no seu conluio com o astrólogo real, o lacaio  do rei dá mostras de que não quer entrar sozinho na fogueira, ao escancarar aos quatro ventos o apoio de sua viga-mestra: “Faça o que for possível para blindar o ‘rei’. Ele não está conseguindo governar”. E mais para frente, a fim de botar água na fervura de sua língua destrambelhada, temendo que seu tiro tenha saído pela culatra, remendou: “Não é um tiro para matar. É um tiro para o alto”. Para matar quem, cara pálida? Só se for para botar limites na sua petulância e desaforamento. Acabará ficando sozinho nesta tramoia!

A pergunta que os vassalos do reino fazem a si mesmos é até quando o vice-rei continuará fazendo ouvidos de mercador à cretinice e à insolência de sujeitos como o guru/astrólogo e o pastor de rapapé que nunca primaram pelo bom senso, mas que insurgem contra os estrelados. Ao que parece, o general está tentando levar os desacatos recebidos na ironia. Acontece, porém, meu caro diplomata, que há limites para tudo. Chega um momento em que é preciso abaixar a crista dos bufões, caso não queira ficar no mesmo balaio que eles, servindo apenas para alegrar a corte. Isso diz respeito a salvaguardar o amor-próprio e a dignidade diante de um reino extremamente caótico. O que se tem visto é um vice-rei que se transformou num saco de pancadas, sem que em seu auxílio o rei dê um pitaco. Os súditos assistem a tudo boquiabertos – temendo que o caos se instale por completo.

12 comentaram em “DESTITUIR O VICE-REI – QUE REINO É ESTE?

  1. Adevaldo Rodrigues

    Lu
    A história poderia ser repetida: O rei seria Luis XVI, o filho mais novo do despirocado rei seria Maria Antonieta. Robespierre seria o vice-rei e Danton o presidente da câmara do reino. Lavoisier seria o guru. Quem poderia ser Joseph Guillotin – que aperfeiçoou o instrumento cortante – a esquerda? O importante é não sobrar os amigos do rei, isto é, do clã. Se com a faca não se fere com a guilhotina, com certeza, será ferido.

    Abraço,

    Devas

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Devas

      Você está escrevendo a história do reino à “la francesa”… risos. Haja imaginação! Mas tudo calha como uma luva. Como vê, a história se repete, ainda que seja em outro reino.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  2. Hernando Martins

    Lu

    Se o Manoel Antonio de Almeida escritor do livro “Memórias de um Sargento de Milícias” estivesse vivo, com certeza trocaria o título para “Memórias de um Capitão de Mílicias”. Parece que este reino é uma ficção, pois tem guru, rei, vice-rei, lunáticos, capangas, pastores, nhonhos, xerifes,ator pornô, plagiadores…

    Vale ressaltar que uma grande parte dos súditos vive no obscurantismo e acreditam que o rei bufão é um mito! Espero que a luz da verdade chegue o mais breve possível para iluminar a mente dos desprovidos de visão, antes que esses inimigos do reino destruam todas as conquistas feitas outrora.

    Um grande abraço,

    Hernando

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Hernando

      Achei a sua menção ao livro de Manoel Antônio de Almeida brilhante. Você é capaz de fazer a gente rir, ainda que o buraco negro esteja a engolir tudo. O mito – que não pertence à mitologia grega ou à romana – desintegra-se a cada dia. Olhe a lei do retorno, meu amigo!

      Abraços,

      Lu

      Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Luiz

      Existem muitas delas só que travestidas de “otoridades”. A loucura corre solta.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  3. Adevaldo Rodrigues

    Lu
    Minha curiosidade é saber até quando vai durar este reino. Quem vai levar vantagens: o rei, o vice-rei, o pastor, o guru ou todos vão cair na guilhotina? Uma coisa é certa: todo o reino vai levar chumbo, inclusive seus súditos, aliás, já está levando.

    Abraço,

    Devas

    Responder
  4. TEREZINHA ALMEIDA

    Lu
    Perfeito. Retrato fiel da nossa república hoje.
    Socorro! Estamos numa enrascada.

    Abraço,

    Terezinha

    Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *