DOROTHY COUNTS – 1ª ALUNA NEGRA NOS EUA

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Autoria de Lu Dias Carvalhodorothy

Há 55 anos, não imaginava que viveria para ver a posse de um presidente negro. (Dorothy Counts)

Quem imagina que o bullying surgiu recentemente é porque não se dá conta daquilo por que passaram os alunos negros nas escolas de brancos. E a norte-americana Dorothy Counts foi uma das vítimas, apenas por ter decidido estudar, quando o saber era privilégio dos brancos, naqueles tempos cruéis da história, em que a cor da pele servia ou não de passaporte para o conhecimento.

Dorothy Counts, única menina negra num grupo de quatro alunos negros, sofreu bullyng por parte de quase toda a escola Harding High School, em seu país, ainda que a Suprema Corte Americana houvesse decidido, três anos antes, que não poderia mais haver segregacionismo nas escolas dos EUA. Mas entre a lei e a realidade havia um abismo assombroso. E olhem que esse dia não está tão distante assim. Foi em 4 de setembro de 1957.

O bullyng à garota não estava restrito apenas aos alunos da escola em questão. Uma senhora, esposa do Conselho de Homens Brancos da cidade de Charlotte, na Carolina do Norte, instruía os alunos a cuspirem na garota de apenas 15 anos. Além dos cuspes, era também apedrejada por alunos, instigando-a a voltar para o lugar de onde viera, pois ali não era o seu espaço. No refeitório, cuspiam em sua bandeja e, nos corredores, era atingida pelas costas por vários tipos de objetos, além de ter seu armário destruído. Na sala de aula, assentava-se na última fila, sendo totalmente ignorada pelos professores, até mesmo quando levantava a mão. E, como se tudo isso não bastasse, sua família passou a receber ligações anônimas, ameaçando-a. Não aguentando a forte pressão, a família de Dorothy Counts retirou-a da escola, vindo a garota a se formar num colégio da Pensilvânia, para onde se mudou com a família.

Durante os quatro dias em que Dorothy Counts frequentou aquela escola, ela não contou com o apoio da direção e tampouco com a solidariedade de nenhum professor. Apenas duas alunas brancas aproximaram-se dela. Talvez como uma forma de redenção, a mesma Harding High School que tanto a humilhou, homenageou-a, em 2010, com um novo prédio em seu nome. Nessa história toda, o que mais me intriga é o fato de que, naquela época, a população daquele país era constituída por “cristãos fervorosos”. Eis a prova de que a religião, na imensa maioria das vezes, não passa de um rótulo.

A foto acima mostra Dorothy Counts, acompanhada do pai com feições chocadas, chegando à escola, com seu belo vestido xadrez, com um enorme laço branco, feito por sua avó para o seu primeiro dia de aula. Até se ver como motivo de chacota pelos alunos que a circundavam e nela cuspiam, deveria estar se sentido como a garota mais feliz do mundo. Observem que, apesar dos gestos obscenos, ela segue em frente, ereta, com a cabeça erguida. Imagino a dor pela qual passou o pai, ao ver a filha sujeita a tamanha humilhação, sem poder reagir, pois as leis eram feitas para os brancos.

Dorothy Counts teve um papel muito importante para o Movimento dos Direitos Civis e pelo fim da segregação racial que contaminava os EUA. E essa imagem comovente, feita pelo fotógrafo Douglas Martin, deve ser de conhecimento de todos, para que fatos como esse jamais voltem a se repetir.

6 comentaram em “DOROTHY COUNTS – 1ª ALUNA NEGRA NOS EUA

  1. João Fábio

    Quero dizer que embora sinta muito que isto aconteça nos Estados Unidos, devemos lembrar que aqui as coisas não são melhores, apenas diferente. Negros morrem todos os dias por conta do racismo velado existente no Brasil. No caso brasileiro, negros são a esmagadora maioria nos presídios, nas favelas, na informalidade etc. Por isso, devemos aproveitar situações como essa para encarar nossos próprios desafios e não apenas lamentar, levianamente, os acontecimentos alienígenas.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      João Fábio

      Gostaria, antes de tudo, de agradecer a sua visita ao blog.

      Ao postar o artigo, não quis me eximir do racismo, antes das leis atuais, às claras em meu país, sem falar na mancha vergonhosa da escravidão, que nos acompanhará para sempre. Temos uma dívida muito grande com os filhos da Mãe África. Você só leu este artigo, mas tenho muitos outros em que combato não apenas o racismo, mas outras formas de preconceito que diminuem o outro. Tudo o que você disse sobre os negros aqui no Brasil é uma verdade incontestável. Temos um caminho muito grande ainda para trilhar. Mas, quando lembramos o preconceito racial, seja aqui, nos EUA, na Europa, ou em qualquer outra parte do mundo, estamos lutando para que ele não seja esquecido e para que não venha a acontecer novamente. Tento fazer no meu blog um trabalho global, pois, no fundo, somos parte de uma única humanidade. E, por mais paradoxal que isso possa parecer, as culturas possuem muitos pontos em comum. E como você se expressa, “… devemos aproveitar situações como essa para encarar nossos próprios desafios…”, e eu complemento, uma vez que não se tratam de acontecimentos alienígenas, mas de fatos comuns à história do homem, em todo o planeta.

      Gostei muito do seu comentário. Será um prazer contar com a sua participação, o que muito enriquecerá o blog, pois vejo que temos pontos de vista coincidentes, e assim, estaremos juntos em prol de um mundo mais justo, mais igualitário e, sobretudo, mais humano, na concepção real da palavra.

      Grande abraço,

      Lu

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  2. Luiz Cruz

    Lu,
    Que história fantástica da estudante Dorothy Counts. Pena que o reconhecimento de sua iniciativa de estudar e enfrentar a sociedade branca tenha demorado tanto. O “bullying” está presente em todas sociedades, infelizmente, mas a situação enfrentada por alguns cidadãos norte americanos afrodescendentes é de grande tristeza. O pior é que até hoje isso ainda está presente nos Estados Unidos. Lá tem ocorrido assassinatos de negros por policiais, os quais não têm a menor possibilidade de si defender.

    Parabéns por compartilhar este texto tão significativo.

    Abraço,
    Luiz Cruz

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Luiz

      É quase impossível acreditar que um país, que consideramos na dianteira da civilização, tenha passado por isso e ainda cultive o preconceito racial. E sem falar que se trata de um povo predominantemente cristão, mas que parece nada ter aprendido dos ensinamentos do mestre Jesus que pregava, sobretudo, a igualdade. Entre os preceitos da fé e sua vivência há anos-luz de distância.

      Grande abraço,

      Lu

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Carlos

      O mais triste é imaginar que tudo isso está tão perto de nossos dias.
      Ao observar o rosto do pai, meu coração fica dolorido.
      Essa gente ainda se dizia seguidora dos ensinamentos de Cristo.

      Negar o Holocausto é sinônimo de cegueira.
      E pior, o nazismo está tomando força nos dias atuais.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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