Filme – O TERCEIRO HOMEM

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Você sabe o que o camarada disse: na Itália, durante os trinta anos dos Bórgias, esses tiveram guerras, terror, assassinatos e carnificinas, mas produziram Michelangelo, Leonardo da Vinci e a Renascença. A Suíça era o reino do amor – tiveram quinhentos anos de paz e democracia, e o que eles criaram? O relógio cuco. (Harry Lime)

O Terceiro Homem reflete o otimismo dos norte-americanos e os esqueletos da Europa do pós-guerra. […] É uma consequência de Casablanca. Nos dois filmes, os heróis são estadunidenses exilados, cercados por um mar de traições e intrigas do mercado negro. […] O Terceiro Homem conta uma história de perda e traição. É maligno, inteligente, e o seu glorioso estilo foi um ato de desafio contra o corrupto mundo que retratou. (Roger Ebert)

O filme conhecido como O Terceiro Homem (1949), em preto e branco, obra do diretor Carol Reed, entra em todas as listas de bons filmes da história do Cinema. Começa chamando a atenção do espectador, ao fazer a apresentação dos créditos sobre as cordas de uma cítara, cujas cordas dançam para cima e para baixo, tocadas por mãos invisíveis. A música de Anton Karas encaixa como uma luva à ação presente no filme. Ele se inicia com um prólogo falado, com a finalidade de introduzir o espectador na história:

“Não conheci Viena com sua música e charme. Vim conhecê-la no período clássico do mercado negro. Havia tudo para quem podia pagar. Uma situação assim tentava amadores, mas, como os profissionais, não resistiram muito. A cidade estava dividida em quatro setores: americano, britânico, russo e francês. O centro, internacionalizado, tinha polícia internacional. Os quatro países revezavam-se. Que chance! A praça cheia de estrangeiros, e ninguém falava o mesmo idioma, a não ser um pouco do alemão. Andavam como companheiros por toda parte. Não estava pior do que as demais capitais europeias. Falo sobre o americano Holly Martins (Joseph Cotten), que veio visitar um amigo, Harry Lime (Orson Welles). Ele lhe ofereceu trabalho e o pobre diabo estava feliz, mas sem um centavo.”

O espectador, portanto, logo fica sabendo que toda a história é passada na cidade de Viena, no pós-guerra, com escombros por todos os lados e crateras deixadas pelas bombas. A cidade encontra-se sob o mando de quatro potências estrangeiras, dentro das quais transitam as mais diferentes figuras e ganham vida as mais vergonhosas intrigas, numa teia de aranha que aprisiona qualquer tipo de escrúpulo. É nesse ninho de cobras que cai, inocentemente, o estadunidense Holly Martins, escritor de “westerns” por profissão e alcóolatra por natureza. Ali fora a convite do amigo Harry Lime, que lhe prometera um emprego. Mas, por infelicidade, chegara à cidade exatamente no dia do enterro de seu Lime.

Ao ouvir algumas informações sobre a morte de Lime, Martins percebe que elas não batem, ou seja, há algo errado. Ele se baseia, sobretudo, na informação repassada pelo porteiro (Paul Hörbiger), de que existia um “terceiro homem” que ajudara a retirar da rua o corpo atropelado de Lime. Martins  passa então a pesquisar o que motivou a morte de seu amigo. É exatamente a sua busca pela veracidade dos fatos que leva ao desenrolar do instigante enredo.

Na história também entram o oficial inglês Calloway (Trevor Howard), que sugere a Martin voltar para casa, depois de dizer que seu amigo é mais sujo do que pau de galinheiro, para depois descobrir que fora mais uma vez enganado por ele; Anna (Alida Valli), a amante russa apaixonada e chorosa de Harry Lime; o corrupto barão Kurtz (Ernst Deutsch), o astucioso doutor Winkel (Erich Ponto), o larápio Popescu (Siegfried); o sargento Paine (Bernard Lee), assistente de Calloway; um garotinho com uma bola de borracha e com cara de poucos amigos, entre outros.

Ao viver Harry Lime, entrando apenas na metade do filme, quando o espectador apenas aguarda o veredito sobre sua morte, Orson Welles dá um show de atuação. Ela é festejada como uma de suas mais famosas atuações e como uma das mais brilhantes intervenções, na história do Cinema. É impossível esquecer o modo como ela se dá:

• o gatinho miando e beirando a parede, enquanto se dirige para a porta fechada;
• a visão de enormes sapatos pretos sobressaindo da sombra;
• o aconchego do felino nos sapatos, brincando com seus cordões;
• os gritos desafiantes de Martins, do outro lado da rua;
• o alvoroço nas janelas, de pessoas que queriam dormir, etc.

Os encontros entre Anna e Holly Martins vão fazendo com que ele fique cada vez mais obcecado por ela. Não mais se importa com o fato de que ela continue sendo grata a Harry Lime, mesmo tomando conhecimento de tudo que ele havia feito. Ela lhe é fiel ao amante por tê-la salvado em meio àquele caos.

A parte final do filme é eletrizante, quando Harry Lime é caçado no enorme sistema de esgoto da cidade de Viena, ficando totalmente sem alternativa para fugir, como se fora um bicho encurralado. O resto fica por conta de cada um, ao assistir a esse filme eletrizante.

Fonte de pesquisa
A Magia do Cinema/ Roger Ebert

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