Filme – QUANTO MAIS QUENTE MELHOR

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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A melhor comédia da história do cinema. (American Film Institute)

Esta comédia de Wilder, realizada em 1959, é um dos mais duradouros tesouros do cinema, um filme de inspiração e meticulosa confecção… (Roger Ebert)

Assistir a uma boa comédia é algo que faz bem a todos nós, pois nos dá a oportunidade de desopilar o fígado tão castigado pelo estresse do dia-a-dia. É fato que elas estão aos montes no mercado, mas fugir da mesmice não é nada fácil. Alguns diretores dizem que a comédia é um dos gêneros mais difíceis para se fazer, pois uma pitada de açúcar a mais desanda todo o prato. E ninguém fez uma comédia tão brilhante como o genial cineasta Billy Wilder, cujo enredo é o de uma clássica comédia do besteirol, mas transformado num dos mais belos tesouros da história do cinema.

Se você ainda não assistiu a Quanto Mais Quente Melhor (1959), não sabe o que está perdendo. Imagine uma comédia feita há 52 anos e que ainda continua firme como a número um do cinema. Prova de que é mesmo para tirar o chapéu diante de tanto talento. São 121 minutos saborosos, onde se misturam ingenuidade, sensualidade, clandestinidade, situações geniais, interpretações excelentes e outros ingredientes. Tem como personagens centrais Marilyn Monroe, a principal deusa do sexo dos anos 50, numa interpretação antológica, Tony Curtis e Jack Lemmon. E, como coadjuvantes, atores fantásticos como Joe E. Brown (conhecido no Brasil como Boca Larga, tamanho era o seu sorriso), entre outros. O roteiro do filme é shakespeariano na forma como intercala comédia sofisticada e vulgar, entre heróis e palhaços.

A história passa-se em 1929, época da Lei Seca nos EUA, em que se proibia a comercialização de bebida alcoólica, mas durante a qual se esbaldava a máfia ítalo-americana. Até uma funerária serve de fachada para um cabaré com música ao vivo e coisa e tal.

O filme começa com um carro funerário sendo perseguido pela polícia. Logo o espectador descobre que não existe defunto algum, sendo o caixão uma maneira usada pelos mafiosos, para transportar bebidas para certo clube, que tem como fachada uma funerária. Mas, nos fundos, funciona um cabaré com bailarinas, músicos e scotch servido como se fosse café. Ali estão trabalhando os dois personagens principais, Joe e Jerry, quando o local sofre uma batida policial. Mas os dois músicos conseguem escapar, pois flagraram o policial colocando seu distintivo, antes de dar voz de prisão aos presentes.

Joe (Tony Curtis) é um saxofonista charmoso que sempre leva vantagem em cima de seu amigo desorientado, o contrabaixista Jerry (Jack Lemmon). Andam desesperados à procura de emprego, desde a batida policial no ofício anterior. Quando conseguem um baile de namorados para tocar, têm a infelicidade de flagrar um acerto de contas entre mafiosos, só lhes restando fugir para não serem mortos.

Jurados de morte, Joe e Jerry escapam como se fossem garotas, que fazem parte de uma orquestra feminina, que embarca num trem para tocar em Miami, num famoso hotel, durante três semanas. Joe transforma-se em Josephine e Jerry em Daphne, tentando se equilibrar nos saltos. Enquanto Joe sente-se desconfortável vestido de mulher, Jerry sente-se muito bem e se esbalda.

Sugar Kane (Marilyn Monroe) é a cantora e a tocadora de uquelele (guitarra havaiana) da banda, que possui um fraco por bebidas, “principalmente quando está triste” e exala sensualidade e inocência, ao mesmo tempo. Seu sonho é se casar com um milionário, mas alega que para ela sempre sobra a pior parte do pirulito. Joe passa-se por um milionário, num segundo papel, para conquistá-la. Mas quem fica noivo de um milionário de verdade é Jerry. Osgood Fielding III (Joe E. Brown) apaixona-se perdidamente por Daphne.

No hotel, mil peripécias acontecem, obrigando Joe e Jerry a jogarem todas as cartas para salvar a falsa identidade. E, como sempre, Joe leva a melhor sobre Jerry. Os diálogos são impagáveis, sempre carregados de duplo sentido. Há momentos em que Jerry tem que dizer para si mesmo que é homem, tal é a forma com que abraça a sua personagem de Daphne, enquanto noutros tem que se lembrar de que é uma garota.

Tudo está correndo bem até que a dupla descobre que se encontra na toca da onça. Está sendo realizada no mesmo hotel uma festa de mafiosos. E entre eles encontra-se o chefão que os quer mortinhos da Silva. É aí que vem a parte mais gostosa da comédia, num troca-troca de roupas e num sobe-desce de escadas. E, para azar, vão se esconder debaixo da mesa festiva dos mafiosos, presenciando outro massacre. Passam a ser alvo não apenas de todos os mafiosos presentes como da polícia. Aí o bicho pega!

O diretor e produtor Billy Wilder, austríaco, em 1988 chegou a receber o Oscar dos Oscar pelo conjunto de sua obra. É responsável por grandes clássicos da história do cinema. Quem não se lembra dos filmes policiais Pacto de Sangue e Testemunha de Acusação, onde mostra toda a sordidez da alma humana? Em A Montanha dos Sete Abutres apresenta a manipulação e o sensacionalismo da imprensa, visto ainda nos dias de hoje. Farrapo Humano, ganhador de quatro Oscar no ano de 1946, inclusive o de melhor filme, é o melhor drama sobre alcoolismo feito em Hollywood. Se Meu Apartamento Falasse, responsável por grandes bilheterias, é um misto do que há de melhor na comédia, no romance e na tragédia. Mas o clássico dos clássicos é, sem dúvida, O Crepúsculo dos Deuses, considerado pura arte, que tem como tema o próprio cinema. Wilder recebeu 21 indicações ao Oscar e seis estatuetas, mas sempre considerou Quanto Mais Quente Melhor como a sua obra prima.

Billy Wilder era judeu, por isso, no dia seguinte à chegada de Hitler ao poder, partiu para Paris, depois de vender tudo o que tinha, vindo depois para os Estados Unidos. Perdeu a mãe, o padrasto e a avó no campo de concentração de Auschwitz. Junto com John Huston, foi um dos únicos a se recusar a “dedurar” colegas comunistas na época da caça às bruxas. Morreu aos 95 anos, 2002, em Los Angeles. Dedicou 45 anos de sua vida ao cinema.

Curiosidades

• Curtis e Lemmon, vestidos de Josephine e de Daphne, vão a um banheiro público feminino para testar suas personagens e não foram descobertos.

• Tony Curtis precisou ser dublado nos diálogos em que se passava por Josephine, pois não conseguia manter a afinação da voz por muito tempo.

• Jack Lemmon precisou tomar aulas de tango para fazer o filme.

• Os atrasos, bloqueios de memória e inseguranças de Marilyn Monroe durante as filmagens tornaram-se lendas. Billy Wilder chegou a dizer que, para registrar uma única fala (It´s me, Sugar), foram necessários mais de 60 takes e que havia bilhetes espalhados por todo o set para lembrá-la de outras.

• Tony Curtis, após o término do filme, declarou que beijar Marilyn, era como beijar Hitler.

• As extravagâncias e neuroses de Marilyn durante as filmagens teriam banido qualquer outra atriz, mas os responsáveis pelo filme não levaram nada em conta, pois o que recebiam dela em troca era mágico.

• Marily Monroe recebeu seu único prêmio, O Globo de Ouro, por seu papel em Quanto Mais Quente Melhor, tendo seu talento cômico reconhecido.

• Jack Lemmon foi preterido pela produtora, que queria Frank Sinatra. Wilder manteve-o e seu sucesso foi tão grande a ponto de ser indicado ao Oscar de melhor ator.

• O galã Tony Curtis fez grande sucesso em Quanto Mais Quente Melhor, sendo até hoje, considerado como um dos seus melhores trabalhos.

• Além de uma homenagem aos filmes dos anos 1930, o branco-e-preto foi também um recurso fundamental para dar mais credibilidade à maquiagem de Josephine e Daphne.

• O massacre testemunhado por Joe e Jerry refere-se ao histórico e real Massacre do Dia de São Valentim (o Dia dos Namorados nos Estados Unidos, que é comemorado no dia 14 de fevereiro), confronto sangrento entre mafiosos.

• Wilder foi avisado por um megaprodutor de que seu filme seria um desastre, pois não se podia combinar comédia com assassinato.

• A década de 1950 foi uma das mais conservadoras do cinema americano, com o famoso Código de Hayes. No entanto, Billy Wilder conseguiu transformar num grande sucesso um dos filmes com mais subtextos e duplos sentidos da história.

• O filme chegou a ser proibido nos estados do Kansas e no Maine. Mas é visto e admirado até os dias de hoje.

Cenas

• Sugar Kane mostra-se assustadoramente sexy, mas com uma carinha da mais pura ingenuidade.

• O solo de Marilyn Monroe em “I Wanna Be Loved by You”, vestindo um apertado e transparente vestido com gaze cobrindo os seios volumosos. Um foco de luz circular ilumina-a da cintura para cima, acompanhando os movimentos de seu corpo com uma provocante precisão.

• A cena de Joe com Sugar no iate, quando ele reclama que nenhuma mulher consegue excitá-lo. E ela não usa de erotismo, mas beija-o docemente, como se o acalentasse.

• Marilyn prova neste filme, por que nenhum ator ou atriz tinha mais química sexual com a câmera do que ela. Está imperdível em todas as cenas em que aparece.

• A história, na verdade, é sobre os personagens de Lemmon e Curtis, mas Marilyn acaba por roubar a cena, fato que acontece em todos os filmes de que ela participa. Quando ela aparece fica impossível olhar para mais alguém, embora precisasse de muitas tomadas para fazer uma cena.

• A cena em que Joe encontra Sugar Kane na praia, quando ele se apresenta como um herdeiro da Shell Oil.

• A cena do iate em que Joe brinca com a ingenuidade de Sugar.

• A habilidade com que Billy Wilder mostra um oculto simbolismo sexual. Observem como o sapato de Joe, na cena sobre o divã, sobe de uma forma fálica e a observação de Sugar: “Vamos botar mais um pouco de lenha no fogo”.

• O tango dançado por Lemmon e Joe, quando uma rosa entre os dentes de Lemmon vai parar entre os dentes de Brown.

• A cena em que Jerry, deitado e ainda vestido como mulher e com castanholas nas mãos, anuncia seu noivado a Joe.

• Os personagens de Lemmon e de Joe E. Brown encerram Quanto Mais Quente Melhor com um diálogo que, sem dúvida, é uma das pérolas do cinema.

Fontes de pesquisa:
A Magia do Cinema/ Roger Ebert
Cinemateca Veja
1001 Filmes que…
Wikipédia

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