FIO MARAVILHA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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O VII FIC (Festival Internacional da Canção) foi realizado pela TV Globo, em 1972. Foram 1920 músicas inscritas. Seus autores não podiam ser reconhecidos pelos cinco membros responsáveis pela escolha das canções, para evitar qualquer tipo de proteção. Era o primeiro ano em que o FIC estava sendo apresentado em TV a cores. Durante a fase nacional seriam realizadas duas eliminatórias, apresentando cada uma 15 canções, sendo selecionadas 12 dentre essas. A final nacional escolheria 2 entre as 12 classificadas nas duas fases anteriores, para concorrer com as internacionais. Nesse festival havia muitos compositores novatos. Dentre eles estavam Oswaldo Montenegro, ainda um goroto de 16 anos, Hermeto Paschoal, Walter Franco, Raul Seixas, Sérgio Sampaio, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Maria Alcina, etc. Nomes que viriam a ter grande influência na música popular brasileira.

A canção Viva Zapátria (Murilo Antunes e Sirlan Antônio de Jesus) causava preocupação aos organizadores, tanto é que Murilo teve que comparecer à Polícia Federal, junto com Sirlan, para explicar a letra. E lá, dando uma de bobo, explicou que a letra da música não passava de uma homenagem ao filme Viva Zapata mas, como já havia uma música com o mesmo nome, eles optaram por Viva Zapátria. E pôs-se a falar do filme num linguajar bem caipira. E assim, fingindo-se de inocentes, conseguiram liberar a canção.

A Censura Federal listou um monte de coisas que deveriam ser evitadas no festival, inclusive o gesto de punho cerrado erguido para o alto (símbolo do poder negro) e os decotes avantajados das intérpretes. Se houvesse desobediência, o programa sairia do ar. Na primeira eliminatória foram classificadas:

Serearei (Hermeto Paschoal)
Nó na Cana (Ari do Cavaco e César Augusto)
Eu Sou Eu, Nicuri é o Diabo (Raul Seixas)
Cabeça (Walter Franco)
Diálogo (Baden Powell e Paulo César Pinheiro)
Fio Maravilha (Jorge Ben)

Nara Leão, que foi escolhida como presidente do júri, ficou insatisfeita com a exclusão de Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua (Sérgio Sampaio), canção que viria depois a fazer um tremendo sucesso.

Na segunda eliminatória foram classificadas:

Let Me Sing, Let Me Sing (Raul Seixas e Edith Wisner)
Flor Lilás (Luli)
A volta do Ponteiro (Roberto L. da Silva e Roberto F. dos Santos)
Viva Zapátria (Sirlan e Murilo)
Mande um Abraço pra Velha (Os Mutantes)
Carangola (Futoti e Fauzi Arap)
Liberdade, Liberdade (Oscar Toledo)

A última música entrou em razão de um empate. Também incluíram Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua (Sérgio Sampaio), para contemplar Nara Leão. Assim, passaram a ser 14 concorrentes, e não mais 12, para a fase final.

Antes de chegar à final, os militares exigiram a saída de Nara Leão do júri, por não terem gostado de uma entrevista dela ao Jornal do Brasil, onde criticava a situação de nosso país. Para contornar a situação, a direção do FIC resolveu trocar o júri nacional por um internacional. O clima ficou tenso, ainda mais porque os jurados acharam que era uma tentativa de não permitir a escolha da música Cabeça, fazendo com que Maria Alcina, escolhida pela Globo, fosse a intérprete finalista. Os jurados não aceitaram, inclusive pela dificuldade dos gringos em conhecer a língua portuguesa. Fizeram um manifesto que entregam à imprensa.

O júri estrangeiro estava mais perdido do que cego em tiroteio, principalmente ao ouvir canções com gírias. Houve muita confusão, som desligado, algumas músicas impedidas de serem cantadas, palavras cortadas ao microfone, etc. O ex-jurado Roberto Freire conseguiu ir até ao palco para contar o ocorrido, mas foi arrastado pelos seguranças da TV Globo que, violentamente, entregaram-no nas mãos da repressão ali presente, alegando que se tratava de um comunista e que devia apanhar. Os homens bateram muito no rapaz, que ficou com inúmeras fraturas e todo deformado.

Nara Leão, ao ver o amigo assim, enfrentou Boni e os diretores da TV Globo, ameaçando invadir o palco, mesmo que todos fossem espancados. Boni então pediu que tirasse a  parte do manifesto que falava mal da Globo, e o comunicado foi lido, deixando os milicos espantados. No comunicado estavam também os nomes das duas canções eleitas pelo júri anterior: Cabeça (Walter Franco) e Nó na Cana (Ari Cavaco e César Augusto). Contudo, o “júri dos gringos” elegeu Diálogo (Baden Powell e Paulo César Pinheiro) e Fio Maravilha (Jorge Ben)

Na fase internacional participaram 14 canções, incluindo as duas brasileiras. Vazou o comentário de que No Body Calls Me a Prophet já estava escolhida. Ao tomar conhecimento disso, o artista grego Demis Roussos deixou o Maracanãzinho, só voltando após muita conversa. Ao final, o júri internacional deu como vencedora a música Sweat and Tears (David Clayton Thomas), embora a Globo quisesse que fosse dada a vitória a Fio Maravilha (Maria Alcina)

O VII FIC foi muito importante para Raul Seixas que se tornou uma revelação, tornando-se depois a maior figura do rock brasileiro. A Censura Federal, contudo, pegou firme no pé do mineiro Sirlan, um dos compositores de Viva Zapátria, impedindo que suas músicas fossem liberadas e gravadas, matando sua carreira musical.

Vejam abaixo a letra e a canção nacional finalista , com Maria Alcina como intérprete:

Fio Maravilha
Autor: Jorge Bem
Intérprete: Maria Alcina

Foi um gol de anjo, um verdadeiro gol de placa
E a magnética agradecida se encantava
Foi um gol de anjo, um verdadeiro gol de placa
E a magnética agradecida se encantava
Filho maravilha, nós gostamos de você
Filho maravilha, faz mais um pra gente vê
Filho maravilha, nós gostamos de você
Filho maravilha, faz mais um pra gente vê
E novamente ele chegou com inspiração
Com muito amor, com emoção, com explosão e gol
Sacudindo a torcida aos 33 minutos do segundo tempo
Depois de fazer uma jogada celestial em gol
Tabelou, driblou dois zagueiros
Deu um toque driblou o goleiro
Só não entrou com bola e tudo
Porque teve humildade em gol
Foi um gol de classe
Onde ele mostrou sua malícia e sua raça
Foi um gol de anjo, um verdadeiro gol de placa
E a magnética agradecida se encantava
Foi um gol de anjo, um verdadeiro gol de placa
E a magnética agradecida se encantava
Filho maravilha, nós gostamos de você
Filho maravilha, faz mais um pra gente vê
Filho maravilha, nós gostamos de você
Filho maravilha, faz mais um pra gente vê
Filho Maravilha!

https://www.youtube.com/watch?v=AYucUeksWPA

Fontes de Pesquisa:
A Era dos Festivais/ Zuza Homem de Mello
Música Popular Hoje/ Publifolha

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