Hans Holbein, o Moço – OS EMBAIXADORES

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Osemb                                                (Clique na gravura para ampliá-la.)

A composição denominada Os Embaixadores é uma obra-prima do pintor renascentista alemão Hans Holbein, o Moço (c.1497-1543) que se especializou em retratos. Foi tido como um dos melhores retratistas de sua época. Aprendeu sua arte com o pai, Hans Holbein, o Velho, sendo posteriormente aceito na Guilda dos Pintores em Basileia. Embora tenha também pintado murais, retábulos e iluminuras, tinha predileção pelo retratismo, sendo exímio nos pormenores de sua obra. Hans Holbein dá à sua tela um formato quadrado, muito usado no Alto Renascimento. Os livros e instrumentos científicos presentes na obra dizem respeito à grande cultura e atualidade dos dois retratados.

O artista misturou realismo e idealização (ou enaltecimento) neste seu trabalho que se encontra entre as 50 pinturas mais famosas do mundo e tem sido descrita como “um dos mais incríveis e impressionantes retratos da arte renascentista.”. Em sua obra Holbein apresenta dois cortesãos franceses, embaixadores do rei Francisco I na corte inglesa de Henrique VIII. A eles cabia a difícil incumbência de impedir que a Inglaterra rompesse com a Igreja Romana, além de cuidar dos interesses da França. Os dois homens representam duas categorias de diplomatas, sendo identificados pelas roupas. Se fizessem uso de ternos curtos seriam embaixadores leigos. Aqueles que usavam mantos longos pertenciam ao clero. A aparência de um embaixador era muito importante, devendo ser digna de seu senhor.

O homem da esquerda é Jean de Dinteville, embaixador da França na Inglaterra, responsável por ter feito a encomenda do retrato. Jean foi um típico cavalheiro renascentista:  homem de formação humanística com interesse pela música, pintura e pelas Ciências Naturais. Está ricamente vestido com um traje secular e um casaco escuro forrado com pele. Carrega no peito uma ostensiva corrente de ouro com um medalhão da Ordem de São Miguel, muito ambicionado à época. Era a distinção francesa correspondente ao Velocino de Ouro espanhol e à Ordem da Jarreteira inglesa. A influência de uma ordem estava ligada ao número limitado de seus membros. Na ordem de São Miguel não podiam ser mais de 100 membros. Sua mão esquerda repousa na parte de cima da prateleira, enquanto a direita segura uma adaga na qual está escrita sua idade (29 anos).

Ao lado de Jan encontra-se seu amigo George de Selve, bispo de Lavaur na França. Ambos estão separados por uma prateleira. Os objetos vistos entre eles assinalam que possuem interesses comuns: música, matemática e astronomia, Ciências Naturais. Um embaixador era obrigado a dominar o latim, a língua diplomática da época, e desfrutar de uma vasta cultura que lhe permitisse conversar com cientistas e artistas. O bispo segura as luvas em sua mão direita. Traz o braço apoiado sobre um livro no qual se pode ler: “aetatis suae 25”, completando o texto com a palavra “anno”, traduzido como “25º ano de sua existência”.

Um cortinado de brocado verde ricamente trabalhado serve de fundo para os dois embaixadores. À esquerda, na parte superior da pintura, uma dobradura do cortinado deixa visível parte de um crucifixo para lembrar que os dois homens são tementes a Deus que os orienta em todos os campos da vida. Alguns estudiosos dizem que também alude à divisão da Igreja.

Em ambas as partes da prateleira estão muitos objetos. Quase todos eles possuem uma simbologia específica da época, sendo que alguns ainda não foram decifrados. No canto superior esquerdo há um globo celeste (é provável que remeta à descoberta de Nicolau Copérnico) e um quadrante solar cilíndrico, também conhecido como relógio do pastor. O poliedro apresenta vários relógios de sol e era usado em viagens.

Na prateleira de baixo estão um globo de mão (deixando em evidência os países importantes para os embaixadores), um quadrado e uma bússola sob um alaúde (naquela época a música era considerada uma arte matemática) que tem uma corda quebrada e que pode ser interpretada como os crescentes conflitos entre católicos e protestantes. Os tubos provavelmente seriam usados ??para guardar mapas. O relógio de sol marca a data de 11 de abril de 1533 (importante para ambos). Outros instrumentos científicos, usados na circum-navegação, ali também se encontram. Um livro de matemática encontra-se semiaberto por um esquadro. Um livro de hinos protestantes alemães está aberto em dois hinos luteranos.

Chama a atenção em especial uma enorme figura anamórfica (figura em perspectiva distorcida, imperceptível quando olhada de frente, mas que se revela ao ser olhada do canto inferior esquerdo) mostrando aqui uma caveira em diagonal, no primeiro plano do quadro. O crânio — insígnia pessoal de Jean de Dinteville — está presente em seu gorro. Também pode ser visto como um símbolo da finitude humana. O uso de anamorfoses ou imagens distorcidas era bem comum à época. Para a pintura do chão o artista fez uma cópia perfeita do piso do santuário da Abadia de Estminster, uma famosa obra de artesãos italianos. Tais mosaicos indicam que os dois embaixadores encontram-se de fato em solo inglês.

Os dois personagens em estudo são bem parecidos. O bispo traz olhos menores, com pálpebras caídas sobre as pupilas. Seu olhar mostra-se menos atento do que o de seu amigo. Jean de Dinteville com seu casaco de pele mostra-se mais volumoso do que George de Selve com sua capa cruzada. Ao colocar um com o manto longo e o outro com o manto curto, o artista quis representar duas diferentes classes sociais. Embora fosse comum os retratos duplos do século XVI apresentarem os retratados lado a lado, Holbein coloca-os nas extremidades da pintura, colocando entre eles a estante dupla, cheia de livros e instrumentos, possivelmente a fim de ressaltar o interesse dos dois pelas Ciências Naturais. Todos os instrumentos estão inseridos no campo da matemática aplicada.

Obs.: A matemática era uma das principais disciplinas no Renascimento. Tinha sido obscurecida durante a Idade Média, quando a visão religiosa do mundo pairava acima das Ciências Naturais. Durante o Renascimento, porém, os homens mostraram-se curiosos para conhecer as leis físicas e matemáticas que governavam o mundo. Os pintores também eram grandes adeptos da matemática, amplamente usada em suas obras.

Ficha técnica
Ano – 1533
Técnica: têmpera sobre madeira
Dimensões: 207 x 209,5 cm
Localização: National Gallery, Londres, Grã-Bretanha

Fontes de pesquisa
Renascimento/ Taschen
Arte em detalhes/ Publifolha
Los secretos de las obras de arte/ Taschen
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://artstor.wordpress.com/2013/09/13/a-closer-look-at-hans-holbeins-the-

4 comentaram em “Hans Holbein, o Moço – OS EMBAIXADORES

  1. Antônio Messias

    Lu

    Um obra interessante por retratar um momento histórico incluindo fatos, modos e equipamentos de época. A caveira distorcida, a meu ver, não acrescenta valor a obra.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Antônio

      A caveira distorcida foi um fenômeno à época, levando o público e artistas a buscarem pelo quadro. Tratava-se de um tipo dificílimo de desenho.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  2. Adevaldo R. de Souza

    Lu

    É muito interessante a obra de Hans Holbein com seu naturalismo descritivo. Não entendi porque os símbolos da burguesia (Inglaterra) ficaram na parte inferior da obra – até o livro de cântico protestante – e os que representam a sabedoria (França) ficaram na parte superior – até o crucifixo, já que a missão dos embaixadores era evitar um confronto entre essas duas nações. Será que Holbein já estava prevendo o fracasso da missão, já que Henrique VIII (Inglaterra) foi excomungado pelo Papa?

    Outra situação: uma caveira representando a insígnia pessoal de Jean de Dinteville tudo bem, mas não entendi foi uma figura anamórfica da caveira distorcida e a corda quebrada do alaúde. Será que Holbein quis simbolizar as atitudes da Reforma e a ruptura que podia causar em insistir em seu pensamento religioso?

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Adevaldo

      Eu não havia me atentado para esses detalhes levantados por você. Mas pode ter sido realmente intencional. Vá lá entender a cabeça dos artistas. Penso que a caveira distorcida tenha sido um modo de o pintor exibir o seu talento, pois aquilo não deve ser fácil de agregar a uma composição. A corda quebrada do violino pode simbolizar, sim, a ruptura deflagrada pela Reforma.

      Você continua sendo um excepcional observador. Não é à toa que é um historiador.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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