Historiando Tom Jobim – POR CAUSA DE VOCÊ

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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O casal nem mais percebia o quanto um era importante para o outro. Antes, tão apaixonados e amigos, passaram a brigar por coisas pueris. Havia uma raiva incontida entre eles, como se um não mais suportasse a voz do outro. Um dia, sem nem compreender o porquê, ele se atracou a umazinha qualquer. E ela partiu deixando tudo para trás, como se a vida não tivesse mais sentido. E realmente não tinha!

Em casa, ele sentiu tudo diferente. Até mesmo as rusgas cotidianas traziam-lhe saudades. Ela se encontrava em cada cadeira, em cada objeto, em cada flor. Um vazio imenso foi tomando conta de tudo. Jogando o amor-próprio de lado, ele foi à procura de sua mulher, abatido como nunca estivera antes. Ao vê-la, em meio ao pranto a escorrer-lhe pelo rosto, disse-lhe: “Ah, você está vendo só/ Do jeito que eu fiquei/ E que tudo ficou/ Uma tristeza tão grande/ Nas coisas mais simples/ Que você tocou”.

A mulher relutou em voltar, temendo passar por um sofrimento maior do que vivera. As feridas, antes em chaga viva, agora traziam uma crosta, ainda que tênue, mas passíveis de serem abertas por um diminuto gesto de desamor. Não estava mais disposta a abrir suas incisões. Mas ele argumentou: “A nossa casa, querida/ Já estava acostumada/ Guardando você/ As flores na janela/ Sorriam, cantavam/ Por causa de você”.

Ele a tomou pela mão e ela não conseguiu recuar. Sem opor resistência, deixou-se levar por suas mãos macias e pelo amor de tempos atrás. Haveria de dar uma chance aos dois, para dizer que não tentou. Enquanto seguiam, abraçados, em direção à estação, com os olhos marejados, ele murmurava: “Olhe, meu bem, nunca mais/ Nos deixe, por favor/ Somos a vida e o sonho/ Nós somos o amor”.

O casal chegou à casa de braços dados, como antigamente. Os vizinhos saíram à janela. As pessoas sorriam na rua de tamanho encantamento. Ele se pôs à frente, e numa mesura, abriu espaço para que ela passasse. E toda a cidade ouviu sua voz dizendo: “Entre, meu bem, por favor/ Não deixe o mundo mau lhe levar outra vez”.

A mulher quedou-se em lágrimas, mas ele a abraçou, e docemente sussurrou-lhe: “Me abrace simplesmente/ Não fale, não lembre/ Não chore meu bem”. E toda a gente se encantou e torceu para que eles envelhecessem juntos, unidos pelo amor.

Obs.: ouça Por Causa de Você (botar link)

 Nota: Fog of Love, obra de Leonid Afremov

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