ÍNDIA – A PRESENÇA DA HENA NOS RITUAIS

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Autoria de Lu Dias Carvalho

hena

Segundo o dicionário Aurélio, “ritual” significa “Conjunto de práticas consagradas pelo uso e/ou por normas, e que se deve observar de forma invariável em ocasiões determinadas”.

A sociedade hindu é uma das mais ricas em rituais, sendo que a hena, tinta castanho-avermelhada feita com a casca e folhas secas do arbusto do mesmo nome, é muito empregada. É o elemento principal em quase todos os rituais hindus. É também usada para tingir cabelos, ou em xampus e outros cosméticos, sendo muito apreciada no Ocidente. Tal produto também está presente na vida da mulher hindu, nos momentos mais significativos de sua vida, desde o nascimento, casamento e gravidez, assim como nos cuidados com o corpo e os cabelos.

Antes do casamento, a noiva hindu é rodeada por amigas e pela ala feminina da família, recebendo maravilhosos desenhos de hena no corpo, cuja confecção pode durar dias. É a chamada cerimônia do Mehandi Rat. Enquanto a cerimônia acontece, a noiva vai recebendo conselhos que lhe ensinam a ser uma boa esposa. Tudo voltado para agradar o futuro marido, pois ela está deixando de ser uma moça solteira e se transformando numa mulher adulta, ou seja, numa esposa dedicada e servil a seu homem.

É comum, ao mudar para a casa do marido, a esposa só fazer serviços domésticos quando os desenhos de hena desaparecem de seu corpo, tempo que lhe é dado para se familiarizar com a nova casa e seus membros. Quando o marido morre, a viúva só poderá usar tal ornamento, se decidir ser cremada junto com ele. Caso contrário, nunca mais poderá voltar a usá-lo.

Durante e após a gravidez, a hena é muito usada pela mulher, pois a tradição reza que os seus desenhos evitam o mau-olhado e detém os maus espíritos, livrando a mulher de sintomas comuns, ligados à espera e ao nascimento da criança (depressão pós-parto, etc), assim como fortalece e protege o bebê após o nascimento, contra os maus espíritos.

Athavans, que inclui também o ritual chamado de God-Bharaia (ou Godh Bharna, que celebra a primeira gravidez) é a cerimônia feita no oitavo mês de gestação (algumas pesquisas dizem que é no sétimo). A família, primeiro faz um belo desenho no chão da entrada da casa com farinhas e areia coloridas. A grávida é lambuzada com óleos e essências e banhada em água perfumada, vestida com roupas e ornamentos novos, e decorada com belíssimos desenhos de hena nos pés e nas mãos. Ela é colocada em um acento especial, e suas amigas e parentas femininas cobrem o seu ventre com doces, flores e frutas. Depois há uma grande festa. A grávida permanece em descanso, só podendo voltar aos afazeres, depois que a tatuagem for apagada normalmente.

O parto é outro ritual à parte. A parturiente, antes de entrar na sala de parto, traz no corpo, pintado com hena, vários símbolos de proteção. Após o nascimento do bebê, as pontas dos pés e as mãos são pintadas com hena, numa cerimônia chamada de Jalva Pujani.

Após os nove dias que precedem o parto, a mulher é mantida isolada com seu bebê, sob os cuidados de parentas,  para que o isolamento ajude na sua recuperação e lhe dê força física e equilíbrio emocional, durante o estabelecimento dos laços maternos e da lactação. Mãe e bebê deixam seu refúgio no décimo dia após o parto. Ocasião em que participam da cerimônia Suray, onde a criança é mostrada ao sol e à comunidade pela primeira vez.

O Namakarana Samskar é o ritual do batismo, realizado 12 dias após o nascimento da criança. O pai pronuncia o nome dela em seu ouvido direito. Em algumas regiões, é permitido à mãe acompanhar o ritual. As palavras “Hari Sri Ganapataye Namah Avignamastu” são escritas com um pedaço de ouro, na língua do bebê (simbolicamente, penso eu), assim que ele completa 3 ou 5 anos. Cabe à criança escrevê-las (guiada por outrem, com certeza), com seu dedo indicador, passando por grãos de arroz cru, colocados em um pote de metal. Esse ritual celebra a apresentação da criança à escrita. Geralmente realiza-se nos templos dedicados a Saraswati, divindade da sabedoria e do conhecimento.

Segundo explicações encontradas, a hena é considerada um agente purificador das impurezas provindas do processo do parto, e suas propriedades antissépticas naturais podem ter relação com este costume, uma vez que em regiões desérticas mais carentes do Rajastão, onde água limpa é um artigo raro, a hena era usada na purificação do bebê e da mãe.

(*) Imagem copiada de http://vaisnavisanga.blogspot.com.br

Fontes de pesquisa:
Textos de Rosana Araújo (rosanaraujo.arteblog.com.br)
Referência: Catherine Cartwright-Jones ”The Functions of Childbirth and Postpartum Henna Traditions”

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