ÍNDIA – BOMBAIM OU MUMBAI

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Bombaim ou Mumbai é a capital do estado de Maharashtra e também a maior cidade da Índia. É a capital comercial e do entretenimento, que abriga instituições financeiras importantes. A sua região metropolitana é a sexta maior do mundo. Possui um porto natural e profundo, pelo qual passam metade do tráfego de passageiros da Índia e grande quantidade de carga.

A velha Bombaim é uma cidade suja e pútrida, superlotada de vida, ainda que muitas delas cambaleantes, com o seu calor abafante, trazendo o medo de sufocamento para os turistas de primeira viagem. Em suas ruas, a sujeira e o cheiro de bodum misturam-se com o barulho, a poluição e a violência. Os sem teto esparram-se pelas calçadas ou chão de suas ruas. Ali, eles dormem enfileirados, uns encostados aos outros, de modo a aquecerem os corpos tiritantes de frio. A fileira democrática é composta por homens, mulheres, idosos, crianças e bebês. Precisam se levantar bem cedo, quando as lojas e casas são abertas, para cederem lugar aos transeuntes e animais, e para não correrem o risco de serem espezinhados duplamente pela vida. Espreguiçam-se, como uma forma de afugentar a dormência dos membros, que ficaram numa mesma posição por um longo tempo, na luta contra o frio gélido da madrugada.

A miséria é visível em todos os lugares. Até mesmo nos carros de luxo, quando os desvalidos tentam enfiar, através das janelas de vidro, suas mãos esqueléticas, imaginando que ali possa estar um turista bem aquinhoado e de bom coração. Os que têm dificuldade em movimentar-se, como os leprosos e paralíticos, ficam num ponto visível das calçadas, de modo que os deuses façam com que lhes joguem alguns centavos de rúpia na caneca. Roupas dependuradas nas janelas e varais externos, como cortinas abertas aos olhos do mundo, uma prova de incivilidade para muitos turistas, podem ser vistas por todos os lados.

Os homens ainda cultivam o hábito de esvaziarem a bexiga nas paredes dos prédios públicos ou junto a um poste mais escondido. Aliado a isso, muitos transeuntes mascam o paan, (mistura em que entram a folha de bétele, tabaco e o fruto da areca), cuspindo nas calçadas um sumo gosmento e vermelho parecido com sangue.

É costume um turista deparar-se com incenso queimando dentro de um táxi, dirigido por um hindu. Os deuses sobrepõem-se ao passageiro (embora não paguem a corrida), mesmo que esse tenha alergia ao produto. Resta-lhe rezar para que a fumaça não o escolha como destino e que a viagem seja curta. Ao chegar ao hotel, poderá tomar um lassi (uma bebida espumante de iogurte batido com fruta), para afugentar o cheiro que lhe impregnou os sentidos.

As mulheres de Bombaim, tanto nas castas ricas quanto nas pobres, são subservientes a seus homens, de modo que tudo que há de melhor na casa, cabe a eles, assim como as melhores poções. Em segundo lugar, vêm os parentes idosos e depois os filhos. Com a diferença de que nas classes baixas, cabe a elas a parte que sobra e, quando sobra. Sendo comum limpar a gordura da panela com um pedaço de pão, para aumentar a sobra.

Os pivetes e assaltantes são partes da cidade. Pois não é de se esperar que, num lugar onde alastra a fome, possam conviver em harmonia a riqueza e miséria. O mundo da seda e do ouro também possui janelas de vidro frágeis, de modo que os desamparados atiram nelas sua raiva e revolta. A vida dos bem aquinhoados, portanto, é um convite constante à violência dos esquecidos. Principalmente quando os primeiros chamam os segundos de “preguiçosos e imundos”, e ainda dizem que eles fazem filhos como coelhos e, por isso, não podem amá-los, tamanha é a quantidade. E jogam nisso a causa da penúria em que vivem. A indigência ali é tão deplorável que, segundo alguns, nada resta aos famintos de tudo, senão aleijar seus filhos para que as pessoas (principalmente os turistas) sintam pena deles e assim os impeça de morrer de inanição.

Bombaim é uma cidade dos mais profundos paradoxos. Passa do sonho ao pesadelo num piscar de olhos.  Nela está Dharavi, a maior favela da Ásia, assim com o majestoso Clube de Críquete da Índia, onde se encontram os milionários. Arranha-céus luxuosos beijam os pés dos deuses, enquanto favelas acinzentadas são a poeira dos pés de Brahma e levam ao inferno. É ao mesmo tempo a terra natal de um dos grandes maestros de renome mundial, Zubin Metha, e a do menino Ragu, que foi cegado por seus pais ao nascer, para que salvasse a vida da família, recebendo, por piedade, esmolas na rua. E assim caminha a Índia.

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