ÍNDIA – CARTA DEIXADA PELO INDIANO ROHIT VEMULA

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Meu filho morreu por causa do abuso de poder e conspiração por algumas pessoas poderosas. Pelo menos, agora eles devem revogar a suspensão de quatro outros meninos. (mãe de Rohit Vemula)

Eis o texto completo da carta de suicídio do dalit indiano Rohit Vemula:

“Bom Dia,
Eu não estarei por perto quando você ler esta carta. Não fique com raiva de mim. Sei que alguns de vocês realmente se importavam comigo, amaram-me e trataram-me muito bem. Eu não tenho queixas sobre ninguém. Foi sempre comigo mesmo que tinha problemas. Eu me sinto um fosso crescente entre a minha alma e o meu corpo. E eu me tornei um monstro. Eu sempre quis ser um escritor. Um escritor da ciência, como Carl Sagan. Enfim, esta é a única carta que eu estou começando a escrever.

Eu amava a ciência, as estrelas, a natureza, eu amava as pessoas sem saber que há muito tempo elas se divorciaram da natureza. Nossos sentimentos são de segunda mão. Nosso amor é construído. Nossas crenças coloridas. Nossa originalidade é válida através da arte artificial. Tornou-se verdadeiramente difícil amar sem se machucar.

O valor de um homem foi reduzido à sua identidade imediata e à sua possibilidade mais próxima [de ser]. Para um voto. Para um número. Para uma coisa. Nunca fui um homem tratado como um espírito. Como uma coisa gloriosa composta de poeira de estrela. No próprio campo, nos estudos, nas ruas, na política, e em morrer e viver.

Estou escrevendo este tipo de carta pela primeira vez. Minha primeira vez de uma carta final. Perdoe-me se eu deixar de fazer sentido. Talvez eu estivesse errado o tempo todo na compreensão de mundo. Em compreender o amor, a dor, a vida, a morte. Não havia urgência. Mas eu sempre corria. Desesperado para começar uma vida. Para algumas pessoas a própria vida é uma maldição. Meu nascimento é meu acidente fatal. Eu nunca pude me recuperar de minha solidão na infância. A criança desvalorizada do meu passado. Eu não estou magoado neste momento. Eu não estou triste. Eu estou apenas vazio. Sem se preocupar comigo mesmo. Isso é patético. É por isso que eu estou fazendo isso.

As pessoas podem ver-me como um covarde. E egoísta ou estúpido, uma vez que eu me for. Não estou preocupado com o que eu sou chamado. Eu não acredito nas histórias do pós-morte, fantasmas, ou espíritos. Se houver alguma coisa em que eu acredite, eu acredito que eu possa viajar para as estrelas. E saber sobre os outros mundos.

Se você, que está lendo esta carta pode fazer algo por mim, eu tenho a receber 7 meses de minha pensão, um lakh e setenta e cinco mil rúpias. Por favor, veja se a minha família recebe isso. Eu tenho que dar cerca 40 mil para Ramji. Ele nunca os pediu de volta. Mas por favor, pague isso a ele.

Deixe que meu funeral seja silencioso e suave. Comporte-se como se eu só apareci e desapareci. Não derrame lágrimas por mim. Sei que estou mais feliz morto do que se estivesse vivo. “A partir de sombras para as estrelas.”

Anna, desculpe-me por usar o seu espaço para esta coisa. Para a família ASA, desculpe por desapontar todos vocês. Vocês me amavam muito. Desejo tudo de melhor para o futuro.

Pela última vez,
Jai Bheem

Eu me esqueci de escrever as formalidades. Ninguém é responsável por este meu ato de matar-me. Ninguém me instigou, seja por seus atos ou por suas palavras. Esta é a minha decisão e eu sou o único responsável por isso. Não quero problemas para meus amigos e inimigos depois que eu me for.”.

Nota: leia também:
ÍNDIA – JOVEM PESQUISADOR DALIT SUICIDA

6 comentaram em “ÍNDIA – CARTA DEIXADA PELO INDIANO ROHIT VEMULA

  1. Iolanda dos Anjos

    Lu,
    Entre em contato comigo via e-mail, por favor.
    Comecei a ler o blog da Sandra, até as postagens antigas. Ao ser direcionada para a página onde a notícia mencionada se encontra, eu vi algumas ameaças nos comentários, umas bem sérias. Outra coisa que percebi, é que tem gente que é “deslumbrada” mesmo, quanto a esses (as) não tem o que se fazer. Eu fui apresentada a esse mundo indiano há 04 meses, vocês, pelo jeito já estão nele há anos.
    Meu Deus, haja paciência.

    Abraços.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Iolanda

      A Sandra, como mora em território indiano (Nova Déli), já deve estar acostumada com tais ameaças, pois seu blog funciona com denúncias desde que começou. E agora devem ser mais sérias ainda, por estar tomando o partido dos “dalits”, a gente desperezada pelos indus. Quanto aos deslumbrados, é necessário que sofram na própria pele para acreditarem no que dizemos. O melhor é alertá-los e deixá-los de lado. Escrevo sobre a cultura indiana há mais de seis anos. Comecei num blog chamado “Alma Carioca”, que hoje parou de atuar. Muito obrigada pela preocupação comigo.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  2. José Elias

    É mesmo uma pretensão descabida querer entender os seres humanos.
    Como um homem escreve uma carta tão bonita avisando que vai fazer algo tão chocante? Sinto que minha vida é ruim, sinto isso há décadas. Às vezes temo que eu me torne ainda mais infeliz, pois a decadência do corpo (e o corpo inclui o cérebro) costuma trazer mais dissabores que alegrias. Tenho medo de chegar um dia em que não aguentar mais o sofrimento e acabar me matando. Mas não quero fazer isso. Desejo suportar a vida até o fim, se não for possível melhorar. Às vezes digo que estou apenas esperando a morte, o que se aproxima muito da verdade. Não quero me suicidar porque não acredito na aniquilação do “eu”, e temo “acordar” num “lugar” ainda pior que o “lugar” em que me encontro.

    José Elias

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      José Elias

      Ao analisar o caso do jovem indiano, penso eu que o motivo mais forte de ele tirar a vida foram as agruras pelas quais passava sua família, uma vez que sua bolsa fora suspensa. Isto está tão claro para mim, pois ele deixa um pedido referente a tal fato no final da carta. Foi um caso muito triste.

      Por que você sente que sua vida é tão ruim, meu amiguinho? Não está exigindo muito de si e do mundo? Ao me acordar e abrir a janela, eu me encanto com o dia. Levou muito tempo para eu aprender a alegrar-me com as coisas pequenas e simples. E foi daí que comecei a me sentir realmente feliz. Vejo que está segurando um cãozinho nos braços… Deve ser muito seu amigo, pois parece fitá-lo intensamente. Há maior alegria do que isso? Tenho dois gatinhos. Eles são uma fofura. E tornam os meus momentos em casa bem alegres. Percebo também que você é um homem muito bonito e inteligente. O que lhe falta para ser feliz? Fiquei curiosa. O mundo é maravilhoso. Dias atrás, num sítio, fiquei um tempão observando as florezinhas do campo. Como são belas! Não espere ser feliz com grandes coisas, mas com as pequeninas. Certo?

      Um grande abraço,

      Lu

      Responder
        1. LuDiasBH Autor do post

          Iolanda

          Que história triste a do Rohit Vemula. Quanto preconceito existe no país da “espiritualidade”.

          Menina, é sempre um prazer receber a sua visita. Já estava sentindo a sua falta. Não suma, garota!

          Beijos,

          Lu

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