ÍNDIA – O PAÍS DE GITA MEHTA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

gita

Nascida na Índia em 1943, Gita Mehta é hoje uma escritora de renome mundial. Também é conhecida por seu trabalho como roteirista, produtora e diretora de documentários.  CARMA-COLA: O MARKETING DO ORIENTE MISTICO é um dos seus livros mais famosos, onde ela conta histórias hilariantes e patéticas. Mostra a globalização do mercado místico e revela a incompreensão do Oriente pelos ocidentais que buscam ali a salvação da alma.

Os trechos abaixo foram retirados de seu livro ESCADAS E SERPENTES: UM OLHAR SOBRE A ÍNDA MODERNA, com o intuito de enriquecer o nosso conhecimento sobre o país da autora:

  • Nova Delhi foi projetada para servir a um Império Britânico que pensava durar eternamente. É uma das cidades que mais crescem no mundo.
  • O domínio britânico era uma espécie de prisão. Não havia liberdade de imprensa, nem de palavra, nem de reunião.
  • A maioria dos indianos considera estrangeira a maioria dos outros indianos, e isso com amplas justificativas.
  • O governo da Índia reconhece oficialmente dezessete línguas indianas principais, nas quais os assuntos políticos podem ser tratados. Cada uma delas possui sua literatura antiga e contemporânea, seus jornais e programas de televisão e rádio, seus próprios filmes, assim como uma grafia específica.
  • O sânscrito é a língua clássica. Existem mais de quatrocentas outras línguas, algumas escritas outras orais.
  • O inglês é a língua unitária da administração, idioma que os indianos se apropriaram de maneira original ao longo de mais de dois séculos de utilização.
  • Na Índia, não há como escapar da religião, elemento que mais enriqueceu a diversidade do país. Ali convivem hinduístas, cristãos, muçulmanos, jainistas, parses, budistas, judeus, sikhs, zoroastristas, etc.
  • O hinduísmo é a religião praticada pela grande maioria dos indianos (mais de 80% da população).
  • A Índia é um continente que, apesar da inércia, da rigidez da burocracia maciça, da venalidade de seus líderes, das injustiças secularmente institucionalizadas de seus sistemas sociais, demonstrou que os profetas da catástrofe estavam mais errados do que certos.
  • Na Índia antiga, as castas haviam sido um pouco como as corporações medievais, servindo simplesmente para descrever a ocupação das pessoas. Mas ao longo dos milênios, o sistema de castas foi degenerando, até que a ocupação das pessoas se transformou num fato imutável de nascença. Os intocáveis (antigamente castas dos lixeiros e catadores de lixo) passaram a ser tratados como um anátema, poluindo as demais castas com sua mera sombra.
  • Os intocáveis (dalits) trabalham em condições subumanas, são semiescravos. A morte era o castigo para um intocável que pretendesse instruir-se.
  • As Leis de Manu, seguidas pelos hinduístas ortodoxos, determinavam a forma de execução. Se um intocável chegasse a ouvir palavras em sânscrito, a linguagem dos livros sagrados, era executado mediante o derramamento de chumbo derretido nos ouvidos.
  • Em 1890, quando a terrível crueldade do sistema de castas ainda negava educação a milhões de indianos, o soberano de Baroda, um dos maiores reinos da Índia, franqueou a educação para todas as castas.
  • Em Baroda, um jovem intocável estudou com tal afinco, que conseguiu obter o grau de bacharel na Universidade de Bombaim, ganhando a seguir uma bolsa de estudos para a Universidade de Columbia, em Nova York. Deixando os Estados Unidos já como PhD, foi para a Universidade de Londres, onde obteve o grau de doutor em Ciências. Duas vezes o menino intocável realizara o impossível. Viria a ser o dr. Ambedkar.
  • Mahatma Gandhi insistia para que os intocáveis fossem chamados de harijans (filhos de Deus). Mas o dr. Ambedkar sabia que mesmo com outro nome, os intocáveis continuariam sendo o detrito de uma religião, o inferno em vida do qual os hinduístas buscavam libertar-se mediante boas ações, a serem reconhecidas em futuros renascimentos, ao longo da escalada da reencarnação.
  • Decidido a modificar um vasto continente, no qual quase um terço da população era explorado pela discriminação de casta, o dr. Ambedkar obteve novo grau em Londres, desta vez em Direito. Sendo o presidente da comissão com a finalidade de redigir a Constituição da Índia, em 1947. Nela reza que:

O Estado não negará a nenhuma pessoa a igualdade diante da lei; O Estado não discriminará nenhum cidadão por motivo de religião, raça, casta ou sexo; A “intocabilidade” fica abolida, e sua prática, sob qualquer forma, é proibida.

  • Desencantado com o fluir dos acontecimentos, dr. Ambedkar converteu-se à fé  budista, abandonando o hinduísmo, sendo observado por meio milhão de intocáveis, quando fez para eles o discurso:

“Se quiserem respeitar a si mesmos, mudem de religião.
Se quiserem igualdade, mudem de religião.
Se quiserem poder, mudem de religião.
A religião que proíbe o comportamento humanitário entre seres humanos não é religião, mas uma penalidade.
A religião que considera pecado o reconhecimento da dignidade humana não é religião, mas uma doença.
A religião que permite tocar um animal e não um homem, não é religião, mas loucura.”.

  • Em Bombaim esse poderoso discurso foi adotado pelos intocáveis instruídos, que se haviam congregado num movimento militante, depois de converter-se ao budismo. Eles se autodenominavam Panteras Dalit.
  • A roca, que aparece no centro da bandeira indiana, é o reconhecimento de que os tecidos são uma forma de arte viva do país, que ainda produz obras primas comparadas às do passado. Mas também acentua o debate sobre a função tradicional do trabalhador têxtil no futuro.
  • As monções são a vida (quando vêm) e a morte (quando não chegam) da Índia rural. A escassez dessas causa o maior êxodo rural do país.
  • Mais de 100 mil sadhus (homens santos), completamente despidos, de cabelos emaranhados, interromperam suas meditações, desceram de suas cavernas nas montanhas para escalar os altos portões do Parlamento indiano, brandindo tridentes de ferro, exigindo a proibição do abate de vacas.
  • O branco, que na verdade é a ausência de cor, é a cor do luto na Índia.
  • Mahatma Gandhi foi alvejado por um fanático hinduísta, no momento em que se preparava para partir numa marcha pela paz nos campos de batalha de partição, onde milhões de pessoas, deslocadas pelo traçado dos mapas do Império Britânico, que originara as nações da Índia e do Paquistão seis meses antes, ainda fugiam da orgia de terror e selvageria que já deixara em sua esteira um milhão de hinduístas, muçulmanos e sikhs massacrados.
  • Com a morte de Gandhi, a Índia independente, com apenas seis meses de idade, já perdera a inocência.
  • O filme Gandhi, de Richard Attenborough mostra que o cortejo funerário era uma enorme parada militar com canhões de rodas e fileiras de soldados perfilados, ainda que Gandhi jamais tivesse desejado pompa em sua morte, pois abominava a ideia de um funeral de Estado, que se assemelhava ao próprio colonialismo.
  • Embora a não violência fosse o credo da Índia, o país passou por três guerras civis em 10 anos.

Nota: Obra de Francesco Clemente

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