ÍNDIA – OCIDENTALIZAR OU SUCUMBIR

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Autoria de Lu Dias Carvalho

mapolind

Fora com o antigo purdah!
Retirai-vos o quanto antes das cozinhas.
Largai as panelas nas prateleiras.
Arrancai a venda dos olhos e olhai o mundo novo.
Deixai que vossos maridos, filhos e irmãos cozinhem para vós.
Muito trabalho nos cumpre fazer para tornar a Índia uma nação.
(Artigo de um seguidor de Gandhi, defendendo as mulheres indianas)

Por mais que alguns povos tentem conservar a pureza de sua cultura, Ocidente e Oriente cada vez mais se aproximam. Os abismos, antes insuperáveis, são agora facilmente contornados pelo desenvolvimento tecnológico, com maior ênfase para a internet. Como nos é de conhecimento, o invasor, sempre mais forte, acaba por se fazer assimilado com mais força, embora não se isente de receber lições do invadido. E neste caso, o Ocidente vem se impondo com maior veemência ao Oriente.

No século XIX, a Índia estava reduzida à pobreza, ainda apegada à revolução dos teares, hesitante quanto à industrialização que se processava no mundo chamado “civilizado”.mMas, tal relutância foi enfraquecendo e o país trilhando os caminhos da modernidade econômica. Hoje, compete no mercado externo com o Ocidente. E o faz com a supremacia de quem tem mão de obra barata e abundante. As mulheres lideram em número o trabalho nas indústrias, enquanto cresce a porcentagem de crianças, abaixo dos 14 anos, nos mais diversos serviços.

A Índia dos pobres vê com tristeza que os patrões indianos apenas substituíram os patrões ingleses (antes de o país ser libertado). A exploração aos concidadãos possui um viés bem mais dramático de que aquela imposta pelos europeus. Dói na própria carne. Trata-se de irmão explorado por irmão.

O sistema de casta só pode persistir numa sociedade agrícola, estagnada e inculta. Ele coloca barreiras nos caminhos que levam ao progresso, pois decepa a esperança e o estímulo, que induzem o crescimento de uma nação. Portanto, ao mudar as suas bases econômicas, a sociedade indiana também está afetando as suas instituições sociais e os seus costumes (cultura). A duração extraordinária das castas passa a ser uma mera questão de tempo, após iniciada a revolução tecnológica. Alguns pensaram que isso se daria com a chamada Revolução Industrial.  Mas as castas se mantiveram firmes. Agora já podemos ver o prenúncio de seu desmantelamento, pois tecnologia e superstições jamais conviveram bem.

Hoje, em muitas indústrias indianas, homens e mulheres já trabalham lado a lado, sem levar em conta a discriminação de castas. Os partidos políticos já tratam de angariar simpatia em todos os patamares da pirâmide social indiana. As fábricas ocidentais, principalmente as estadunidenses, estão aportando com ferocidade em solo indiano, em busca de mão de obra barata para os seus produtos. O governo indiano sabe, por sua vez, que o contingente de trabalhadores precisa ser cada vez mais especializado, para segurar tais investimentos no país. Por isso, as escolas começam, ainda que lentamente, a se abrir para todos, indiferentemente de castas. De modo que a abolição de todas as distinções de castas pela Constituição indiana, que até então não conseguiu resultado, passa agora a ser uma esperança consistente. Quem sabe agora nasça uma nova classe de homens, deixando as superstições apenas nos livros da História da Índia, apesar da luta dos brâmanes para manter o “status quo”?

O sistema de castas gerou inúmeros males para o país. Dentre eles, a multiplicação, de geração em geração, do número de párias (intocáveis ou dalits), ameaçando o próprio sistema, pois aos párias juntaram-se os escravizados de guerras ou pelas dívidas, os filhos nascidos da união de brâmanes com sudras (corresponde ao antigo filho ilegítimo no nosso país e que hoje inexiste) e os expulsos da religião hinduísta. E, como a pobreza quando é grande em demasia gera filhos, já que nada tem a ganhar ou perder, esse tem sido o maior legado dos párias para seu país: filhos e mais filhos.

O macho hindu vê-se num dilema, enquanto constata a invasão da tecnologia na Índia. Quer ganhar tudo o que pode, mas sem abrir mãos dos seus “direitos”. O que é impossível. Sempre que ganhamos algo de um lado, perdemos do outro. É a balança que dirá qual lado pesa mais, para que a decisão seja tomada. E pelo que ora vemos, na Índia está pesando o lado da ocidentalização. Se assim for, logo é possível ter:

  • a emancipação da mulher;
  • o aumento da idade no casamento infantil (com rigor);
  • a opção de escolha do companheiro;
  • o fim ao constrangimento e crueldade impostos às viúvas.

Revistas, jornais e internet já discutem as questões diárias das mulheres. O controle de concepção já está sendo incentivado sem restrições. Na maioria das províncias, as mulheres votam e assumem cargos públicos. Cada vez mais elas frequentam as universidades. Assim está a caminhar a Índia, embora muito trabalho ainda tenha que ser feito e muitas mentalidades a serem mudadas.

A Índia continua sendo um país de fortes e intrigantes contrastes. É uma terra do futuro, embora muitas partes dela ainda nem chegaram ao presente. É um país de pessoas incalculavelmente ricas e de pessoas desesperadamente pobres. É um país, onde se trabalha com arados de madeira, mas que também possui bomba atômica. Resta-nos torcer para que este país fantástico em muitos aspectos e tenebroso em outros, passe a respeitar os direitos humanos e se torne uma grande nação.

2 comentaram em “ÍNDIA – OCIDENTALIZAR OU SUCUMBIR

    1. LuDiasBH Autor do post

      Iolanda

      A Índia encontra-se numa encruzilhada, cujo futuro dependerá de sua escolha. Uma coisa é certa: terá que acabar com o sistema de castas e com a miserabilidade dos dalits, se quiser entrar na modernidade. Caso contrário continuará na patinar no mesmo lugar.

      Abraços,

      Lu

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