Mestres da Pintura – MICHELANGELO BUONARROTI

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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A boa pintura aproxima-se de Deus e se une a Ele… Não é mais do que uma cópia de suas perfeições, uma sombra do seu pincel, sua música, sua melodia… Por isso, não basta que o pintor seja um grande e hábil mestres de seu ofício. Penso ser mais importantes a pureza e a santidade de sua vida, tanto quanto possível, a fim de que o Espírito Santo guie seus pensamentos. (Michelangelo)

Em cada bloco de mármore vejo uma estátua; vejo-a tão claramente como se estivesse na minha frente, moldada e perfeita na pose e no efeito. Tenho apenas de desbastar as paredes brutas que aprisionam a adorável aparição para revelá-la a outros olhos como os meus já a veem (Michelangelo).

Realizou suas próprias pesquisas se anatomia humana, dissecou cadáveres e desenhou com modelos, até que a figura humana deixou de ter para ele qualquer segredo. Em pouco tempo não havia postura nem movimento que ele achasse difícil desenhar. (Prof. E. H. Gombrich)

Observei o anjo gravado no mármore, até que eu o libertasse. (Michelangelo)

O escultor, arquiteto e pintor italiano Michelangelo Buonarroti (1475 – 1564), ao lado de Leonardo da Vinci e Rafael Sanzio, ocupa um dos mais altos postos na pintura renascentista. É também um dos gênios da escultura em todos os tempos.

Michelangelo Buonarroti nasceu em Caprese, perto de Florença, numa família de velha e conhecida estirpe florentina. Seu pai, Ludovico Buonarroti, era um homem extremamente agressivo, tido como temente a Deus. Sua mãe, Francesca, faleceu quando o futuro gênio tinha apenas seis anos, deixando cinco filhos, sendo Michelangelo o segundo deles. Após a morte da mãe, o garoto passou para os cuidados de uma ama de leite, esposa e filha de marmoristas. Poderia isso ter contribuído para a sua vocação de escultor? Possivelmente contribuiu para aflorar seu talento. O próprio artista disse que junto ao leite da ama estava o germe de sua futura vocação.

Na escola, o pequeno Michelangelo não se interessava pelas matérias do Trivium (gramática, retórica e dialética), sempre voltado para a feitura de desenhos e esboços, o que lhe custava muitos castigos de sua família tradicional, para quem a presença de um artista em seu seio era desmoralizante. A profissão de pintor era de baixa consideração social e o senhor Ludovico desejava para seus filhos profissões ilustres. Por isso, o garoto era surrado pelo pai e pelos irmãos desse, para que não se enveredasse pelos caminhos da arte. Mas aos 13 anos o adolescente obstinado e de caráter forte conseguiu permissão do pai para ficar como aprendiz no estúdio de Domenico Guilandaio, tido como um mestre da pintura em Florença. A contragosto o pai aceitou atender a vontade do filho.

Com Domenico Michelangelo apreendeu a técnica de pintura de afrescos, tornando-se um exímio desenhista. Ali fez cópias de Giotto e também de Masaccio, de quem admirava os afrescos da Igreja de Carmine de Florença. Mas o garoto não demorou a entrar em contendas com os colegas e o mestre, de quem não seguia as recomendações, fazendo os exercícios de acordo com suas próprias ideias.  Irritado com a morosidade do aprendizado e considerando a pintura como uma arte limitada, o garoto permaneceu apenas um ano com o mestre florentino. Dali partiu para a escola de escultura que ficava nos jardins de S. Marcos, mantida por Lourenço, o Magnífico, atraindo para si o interesse do mecenas, um dos homens mais cultos de Florença e que personificava o ideal do homem renascentista, tido como centro do universo e síntese de todas as artes.

Lourenço levou o jovem Michelangelo para seu palácio — ambiente refinado e cultural do Renascimento italiano. Ele se sentiu integrado àquela atmosfera poética e erudita que evocava a grandiosidade da Grécia Antiga, onde o homem era o centro do universo. Passou a viver num ambiente culto, voltado para o humanismo, junto de artistas, poetas, filósofos e burgueses cultos. Dentre esses encontravam-se Pico della Mirandola (erudito e filósofo), Agnelo Poliziano (poeta e humanista) e Marsilo Ficino (filósofo).

No palácio Michelangelo também granjeou os seus primeiros desafetos que não aceitaram o seu temperamento irônico e impaciente, sempre a por em cheque a lerdeza e a limitação dos colegas. Ao criticar o trabalho do colega Torrigiano dei Torrigiani, recebeu um brutal soco no rosto que lhe deformou para sempre o nariz. Tal deformação foi muito dolorosa para ele que tinha a beleza do corpo como a presença divina na passagem do homem pela Terra. Além disso, começou a sentir que no mundo não existia espaço para a sua genialidade.

Quando o jovem completou 15 anos, o monge Savonarola estava em alta com a sua inflamada pregação, berrando aos quatro cantos sobre a ira de Deus prestes a  abater-se sobre Florença. Ao chegar ao governo da cidade, o monge mandou queimar livros e quadros. O jovem artista ficou tão amedrontado com as pregações apocalípticas do religioso, a ponto de questionar-se se a beleza seria um pecado e se os sentidos eram inimigos do espírito divino, como pregava o monge. Savarola também pregava que a arte não podia exibir plenamente o corpo humano, portanto, deveria a arte pagã ser destruída, devendo o artista voltar-se para a arte sacra. Mas, assim que morreu Lourenço, o Magnífico, e com a proximidade da revolução, Michelangelo deixou sua querida Florença, e fugiu para a cidade de Veneza. O religioso foi depois perseguido juntamente com seus seguidores, dentre eles encontrava-se um irmão de Michelangelo. O monge foi queimado.

Embora fosse muito novo, Michelangelo procurou conhecer os escultores gregos e romanos através das obras que se encontravam na biblioteca dos Medici. Também visitou as igrejas de Florença, onde estudou as obras de grandes artistas do passado, tais como Giotto, Donatello, Masacio, Ghiberti, etc, chegando à conclusão de que a escultura era a mais primorosa das artes e que a figura humana já se encontrava na pedra, bastando retirar o excesso para lhe descobrir a alma.

O artista florentino foi uma figura polêmica que viveu numa época conturbada da história de seu país, transitando entre as tensões religiosas, políticas e culturais, sem delas se abster. Para alguns era tido como corajoso, generoso, humilde e racional. Para outros, egoísta, intolerante, megalomaníaco, desajustado e supersticioso. Mas, para todos era um homem solitário, atormentado e apaixonado por tudo que fazia, um gênio de inexaurível capacidade criativa quer como pintor, escultor ou poeta. Era movido pela paixão pela arte, a ponto de chegar ao desespero, pois sua personalidade apaixonada também estava imbuída de uma profunda tristeza e de um pessimismo latente. A melancolia pode ser vista em toda a sua obra, traduzindo sua visão de mundo.

Michelangelo jamais foi compreendido por seus contemporâneos, combatido, sobretudo, por aqueles que invejam a sua genialidade. Ele foi tão genial em sua arte escultórica que suas esculturas chegaram a ser confundidas com obras do passado. Era uma pessoa difícil, solitária e antissocial, não deixando espaço para que as pessoas dele se aproximassem.  De uma feita disse com arrogância: “Não tenho amigos, não preciso deles e nem os quero.”. Apesar disso era uma pessoa triste e depressiva. Morreu aos 89 anos e foi sepultado na sacristia da igreja da Santa Croce de sua querida Florença.

Fontes de pesquisa:
Gênios da Arte/ Girassol
Grandes Mestres da Pintura/ Coleção Folha
Grandes Mestres/ Abril Cultural
Renascimento/ Taschen
Tudo sobre Arte/ Sextante
1000 Obras da Pintura Europeia/ Könemann
Os Pintores mais Influentes/ Girassol
Arte em Detalhes/ Publifolha
Góticos e Renascentistas/ Abril Cultural
A História da Arte/ E. H. Gombrich

Nota: Autorretrato – 1506 (foto maior) / Michelangelo representando Heráclito em A Escola de Atenas, de Rafael Sanzio.

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