Mestres da Pintura – SALVADOR DALÍ

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Autoria de Lu Dias Carvalho dali1

Todas as manhãs, ao me levantar, experimento um prazer supremo: ser Salvador Dali. Eu me pergunto maravilhado: que coisas prodigiosas ele fará hoje, este Salvador Dalí. (Dalí)

Dalí define a si mesmo como narcisista e a sua autobiografia é simplesmente um ato de exibicionismo. (…) Seria necessário ter-se em mente que Dalí é ao mesmo tempo um grande artista e um ser humano repugnante. Uma coisa não exclui a outra nem, de algum modo, a influencia. (George Orwell)

Para mim, Salvador Dalí (…) é o único gênio entre os pintores de nossa época e o único que sobreviverá, um fanático das próprias crenças e o discípulo mais fiel, mais grato que há entre os artistas. (Stefan Zweig)

O pintor espanhol Salvador Dalí (1904-1989) nasceu em Figueras, na Catalunha, numa família abastada.  Era filho do escrivão local, Salvador Dalí Cusí, um livre pensador, e de Felipa Domènech Ferrés, fervorosa cristã e amante das artes. O pai era um homem forte, imperioso, mas ao mesmo tempo amoroso, que custou a aceitar as inclinações do filho para a arte, enquanto o garoto encontrava na mãe todo o apoio, daí a sua adoração por ela. As tensões familiares seriam responsáveis pela personalidade complicada do futuro pintor, como a sua obsessão pela coprofilia e masturbação, tema de muitas de suas obras na vida adulta, e que iremos conhecer nesta série.

Dalí veio ao mundo um ano depois da morte de seu irmão, de quem herdou o mesmo nome. Tal perda fez com que seus pais dedicassem-lhe uma proteção exagerada, que teve reflexos em sua personalidade egocêntrica. E o nome do irmão morto tornou-o refém do mesmo, pois se achava um fantasma dele. Tanto é que, em suas Confissões Inconfessáveis, alegou que seus pais cometeram um “crime inconsciente” ao nomeá-lo com o mesmo nome, além de botarem uma foto dele em seu quarto, criando-lhe um problema de identidade.

Ainda pequeno, Dalí já demonstrava uma facilidade natural para o desenho e a pintura, recebendo todo o incentivo da mãe. Aos 6 anos de idade, ele passou a estudar numa escola cristã, onde ficou durante 6 anos. Aos 10 anos de idade, pintou Vista dos Arredores de Figueras, tela que é tida como a sua primeira composição a óleo. Também nessa época, ilustrou os contos infantis de sua irmã Ana María, quatro anos mais nova do que ele, por quem nutria um grande amor.

Aos 16 anos de idade, Dalí foi passar o verão nos arredores de Figueras, sua cidade natal, numa propriedade de amigos da família. Ao entrar em contato com a coleção de seu anfitrião e pintor Ramón Pichot, que teve grande influência em sua formação, travou conhecimento com o impressionismo francês, sendo a primeira vez, que ele tomava conhecimento de uma escola revolucionária, que infringia as normas do academicismo de então. Desse estilo, ele retirou a justaposição de cores e o pontilhismo.

Após o verão, ao voltar à normalidade das aulas, Dalí passou a frequentar também as aulas do pintor, gravador e desenhista Juan Núñez, a pedido de sua mãe. Aos 18 anos de idade, o jovem pintor expôs seus primeiros trabalhos no Teatro Municipal de Figueras, obtendo uma crítica muito favorável. Dalí também fazia outras atividades paralelas à pintura, como colaborar na revista Studium, onde desenvolveu estudos sobre os artistas, que dizia admirar, como Monet e Degas. Passou a considerar-se um pintor impressionista, época em que travou conhecimento com o cubismo.

Reconhecendo o talento do filho para a pintura, o pai deu-lhe autorização para a ela se dedicar, desde que completasse o ensino básico e estudasse na Academia de Belas Artes de Madri, onde poderia assegurar o título oficial de professor. Aos 21 anos de idade, o pintor perdeu a mãe repentinamente, e mergulhou-se na arte para aliviar a sua dor, vindo a participar de vários concursos. Com a morte da mãe, seu pai casou-se com a cunhada Catalina Domenèch.

Dalí teve uma ineficiente formação básica, mas mesmo assim ingressou na Academia de Belas Artes, como queria seu pai. Ali teve contato com colegas de diferentes áreas, num grande troca de ideias e conhecimento. Tornou-se amigo íntimo de alguns nomes, que viriam a se tornar famosos no futuro: Luis Buñel, Federico Garcia Lorca, Pepín Bello e Pedro Garfias, entre outros. Era ávido por conhecimentos relativos à sua arte, acompanhando com interesse as modernas correntes europeias e o trabalho de pintores como Seurat, Picasso, De Chirico, Braque e Gris, na busca de um estilo pessoal. A leitura de A Interpretação dos Sonhos, de Sigmund Freud, aproximou o artista do surrealismo.

Ao viajar pela primeira vez a Paris, tendo como companhia a madrasta e a irmã, Dalí ficou conhecendo Pablo Picasso. Passou a fazer experimentações com o cubismo, recebendo importantes influências dos pintores Miró, De Chirico e Tanguy, dentre outros, criando um estilo quase fotográfico, associando dados das paisagens vistas em sua infância. O pintor aproximava-se do surrealismo, mostrando uma grande facilidade e rapidez para passar de uma influência a outra. O Enigma do Desejo – Minha Mãe, Minha Mãe, Minha Mãe e O Jogo Lúgubre são obras tidas como o marco de sua pintura surreal. Daí para frente, passou a fazer parte de suas telas elementos sexuais, oníricos e escatológicos, trazendo identidade a seu trabalho, chegando a declarar: “O surrealismo sou eu!”.

Em 1942, Salvador Dalí lançou sua autobiografia Minha Vida Secreta que, para os críticos, tinha apenas o objetivo de mascarar a sua real personalidade, pois tratava-se de um monte de “mentiras e omissões, ficções e exageros“. Ela era meramente promocional, direcionada pelo seu inflamado ego, sendo responsável pelo rompimento com seus antigos amigos, dentre eles Luis Buñuel e Breton. Muitos se perguntavam até que ponto a obra do pintor sobreviveria sem o personagem que ele criou para si. Segundo o crítico inglês, Brian Sewell, Dalí, além de fazer automasturbação, também sentia prazer em ver rapazes fazendo o mesmo em sua presença, estando ele entre esses.

Salvador Dalí recebeu influência de: Francisco Zurbarán, Sigmund Freud, Pablo Picasso, Giorgio de Chirico, Federico Garcia Lorca, Joan Miró, Luis Guñel, dentre outros.

Fontes de pesquisa
Dalí/ Coleção Folha
Dalí/ Abril Coleções
Dalí/ Coleção Girassol

18 comentaram em “Mestres da Pintura – SALVADOR DALÍ

  1. Mário Mendonça

    Lu Dias

    Segundo Freud, todos temos um pouco de narcisismo
    Dali “interpretava” em excesso. Não o vejo simplesmente como um pintor mas também como um grande pensador, que procurou mostrar que loucura também faz parte da vivência do ser humano. Mozart e Bethoven também eram doidos varridos, mas gênios

    Abração

    Mário Mendonça

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Mário

      Dalí era, sobretudo, muito arrogante.
      Penso que foi o maior responsável por sua fama, em vez de sua arte.
      Tudo fazia para aparecer.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  2. Patricia

    Ei Lu!

    Gosto muito da pinturas deste nosso artista não sabia que tinha “transtorno de personalidade”.
    De louco todos temos um pouco. Esta frase tem sido uma marca entre os grandes pintores.

    Um grande abraço

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  3. Glória Drummond

    Lu,

    Não gosto de Dalí. É viscoso… Mas gosto de certos pintores surrealistas, porque são oníricos ou mágicos. Você está “destrinchando” bem este ícone da modernidade.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Glória

      Também não gosto.
      Algo me desagrada nele.
      Talvez o fato de não ter sido leal a seus amigos.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  4. Julmar Moreira Barbosa

    Antes que o gênio se manifeste no ser humano, ele é apenas um ser humano .
    A genialidade de cada um, não subtrai a natureza cada um. Todos somos passíveis de erros e acertos, a história nos mostra isso através do tempo. Grandes gênios da arte, da literatura,da ciência, e etc e tal, eram egocêntricos e até mesmo rudes. Basta fazermos um autocrítica e incluirmos nela nossos pensamentos mais secretos e profanos, para entendermos mesmo sem compreender as atitudes e desejos de de Dalí e outros gênios da humanidade .
    “… que atire a primeira pedra…”

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Ju

      Você diz acertadamente:
      “A genialidade de cada um, não subtrai a natureza cada um.”
      A genialidade, muitas vezes, bota mais às claras a natureza humana.
      Embora não figure entre os meus artistas prediletos, reconheço que Dalí foi importante para a história da arte.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  5. Matê

    Para entender a obra das grandes figuras da arte, temos que levar em conta uma só
    palavra: talento. Analisar a vida pessoal, que geralmente foge dos padrões normais?
    Eles se destacam justamente por serem únicos, inovadores, e resistirem ao tempo e a “modernidades”. Gostar ou não gostar, já é outra história.
    Gosto não se discute, né?
    Abraço

    Matê

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Matê

      Do ponto de vista do caráter, não me simpatizo com Dalí.
      Mas é impossível negar a sua genialidade.
      O homem era mágico, principalmente no desenho.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  6. Mário Mendonça

    Lu Dias
    PARABÉNS ao Vírus da Arte por nos brindar com as loucuras do mestre Salvador Dalí; e digo loucuras porque era o que ele expressava, e que poucos no mundo tiveram a sua coragem de mostrar. Ele veio para mostrar o que talvez nem Freud ou outros jamais mostrariam ou entenderiam, a vivência de suas obras/arte.
    Egocêntricos, todos nós somos, infelizmente escondemos, ele não, e por isso foi taxado de maluco.

    Tenho certeza que os admiradores da arte ficarão felizes com sua narrativa sobre o artista que transitava entre os poderes como se eles estivessem aos seus pés e, que ele os esmagariam, quando quisesse.

    Abração

    Mário Mendonça

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Mário

      Em alguns pontos você ficará surpreso, talvez desencantado, com o comportamento de Dalí.
      Eu, pessoalmente, não nutro simpatia por ele.
      Vamos deixar o barco andar… risos.

      Abraços,

      Lu

      Responder
      1. Mário Mendonça

        Lu Dias
        Muita gente gosta de Nietzsche, Mozart, mas poucos falam de suas maluquices; o Dalí foi o artista que não fazia questão de esconder sua esquizofrenia.
        Entender Dalí, é para poucos, e, como diz o dito popular: nem Freud, explica!

        Abração

        Mário Mendonça

        Responder
        1. LuDiasBH Autor do post

          Mário

          Estou gostando da sua empolgação.
          Só quero ver se ela irá até o fim… risos.

          Grande abraço,

          Lu

    2. Pedrorui Rui

      Olá, não é uma personagem que eu adore. Desde o início da sua vida tudo começou torto começando pelo nome do irmão. Ele foi mais uma vítima das ações dos pais. É com pequenas, grandes ações que nós podemos mudar tudo.Temos que ser mais atentos.
      Rui Sofia

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      1. LuDiasBH Autor do post

        Pedro

        Também não morro de amores por Dalí.
        Ou seja, não me identifico com ele.
        Penso que o seu caráter não era o de um grande homem.
        Podia ter legado ao mundo, com a fama que tinha, bons exemplos.
        Mas não nego a sua genialidade.

        Abraços,

        Lu

        Responder

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