MOLEQUES DA CIDADE E DO MEIO RURAL

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Autoria do Prof. Rodolpho Caniato

Meus novos amigos eram garotos das famílias vizinhas, quase todos sitiantes de origem italiana.  Mudei dos cariocas de Copacabana para os moleques que nunca haviam estado em uma cidade. De Copacabana eu levara para o sítio um baú com os brinquedos acumulados em todos os natais.  Isso era um forte atrativo para meus amigos que nunca haviam visto nada igual: ficavam encantados.  Aos domingos, um dos programas era bater longos papos, sentados no pomar dos Ceolin. Primeiro colhíamos um monte de laranja-lima e laranja-cravo. Depois chupávamos laranja até não aguentar mais. Essa era a hora de grandes conversas. Hoje eu diria que foi um grato e útil encontro de diferentes culturas. Eu ainda não sabia nada das coisas familiares para eles: fazer e usar estilingues, arapucas, alçapões, bolas de meia e tantas outras coisas.

Eu nunca havia descascado uma laranja. Ali todos tinham seu canivete marca “Corneta” para isso.   Fazer as “necessidades” era sempre no “exterior”. Só havia uma privada em casa e ninguém voltava para casa para isso. Era só buscar um lugar um pouco mais discreto e “soltar o barro”. No lugar de papel higiênico sempre se usava algumas folhas. Quase todos, menos eu, tinham fezes secas e duras e nem folhas usavam. No começo, eu ainda levava do Rio a minha “amebiana” que sem qualquer medicação desapareceu. Por outro lado, eu tinha muito que contar e eles estavam ávidos por saber. Eu vinha da capital do Brasil: conhecia o mar, vira navios, aviões, autogiro, o futuro helicóptero e, sobretudo, vira várias vezes o “Zeppelin”. Era muito assunto. Todos nós aprendemos algo de novo, uns dos outros.

Nota: Extraído do livro “Corrupira”, ainda inédito, do autor.

Imagem: Jogo de Futebol em Brodósqui, obra de Portinari

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