O ARCO-ÍRIS E OS DOIS AMANTES

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Recontada por Lu Dias Carvalho

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Os índios brasileiros acreditam que o Bem e o Mal vivem em permanente luta, do modo que um tenta sobrepujar o outro desde o comecinho do mundo, sendo que ora um ganha, ora outro perde, numa infindável mudança de posições. É por isso que ninguém é feliz e tampouco infeliz o tempo todo.

Certa tribo do sul de nosso país, que vinha sofrendo perversamente com a visita constante do Mal, reuniu seus homens mais idosos, e, portanto, mais sábios, para que criassem um artifício para deter as investidas de ser tão cruel. Durante dois dias e duas noites, em permanente jejum, eles convocaram todos os bons espíritos da floresta para que lhes dessem sabedoria, a fim de encontrar uma saída, de modo a proteger seu povo. Sabiam que jamais seriam capazes de banir totalmente a maldade, mas poderiam, pelo menos, aquietá-la com mais frequência, recebendo a bondade mais assiduamente. E a iluminação tão ansiada chegou até eles, embora com ela viesse certa dose de sofrimento.

A chegada de cada primavera assinalava que uma das mais belas jovens da aldeia seria sacrificada, ou melhor, ofertada ao Mal em casamento. Ela tinha que ser casta, e nem mesmo seu olhar poderia fitar homem algum. Ao desposá-la, o Mal deixava a tribo em paz por algum tempo. Escasseavam-se as doenças, as secas, as enchentes, as tempestades nervosas, as pragas nas lavouras e a guerra entre as tribos rivais. A garota selecionada, portanto, via na sua escolha uma forma de ajudar sua gente. Aceitava seu sacrifício com heroísmo e benevolência.

Naquela primavera, a escolhida foi a primorosa filha do cacique. Ela sabia que tinha que devotar sua vida ao bem de seu povo, como fizeram tantas outras jovens antes dela. Restava-lhe, portanto, aguardar o dia do casamento, conforme os ditames do Mal, que exigia que fossem feitos muitos convites às aldeias vizinhas. E, assim, no dia que antecedeu as núpcias, os convidados começaram a chegar, ornados com suas maravilhosas pinturas. Dentre eles encontrava-se um vistoso guerreiro de uma tribo mais distante. Num relance, os olhos dos dois jovens cruzaram-se, nascendo daí uma paixão incapaz de ser domada até mesmo pela crueldade do Mal.

O casal, aproveitando o corre-corre na aldeia, refugiou-se nas margens do rio Iguaçu, onde, além de trocarem carícias, também planejaram a fuga na noite do casamento. Contudo, coitadinhos, o Mal estava a espreitá-los, deixando que os planos fossem feitos, para depois puni-los no flagrante. E assim aconteceu. Enquanto fugiam velozmente numa canoa, como se as águas do rio estivessem a ajudá-los, foram surpreendidos por uma gigantesca serpente, que desceu dos céus em direção às águas do Iguaçu. Ao cair no meio do rio, abriu uma cratera gigantesca, que engoliu a embarcação, e esparramou água por todos os lados, nascendo ali as Cataratas do rio Iguaçu.

O Mal ainda não estava satisfeito em sua vingança. Para completá-la, transformou a bela índia numa pedra, depositada em meio às espumas brancas da cachoeira, e o guerreiro numa palmeira, que ficava lá no topo das cataratas. Ele poderia vê-la, mas jamais tocá-la. Contudo, o Bem não permitiu que um amor tão lindo assim pudesse morrer. Deu ordem ao vento  para que, quando chegasse, sacudisse com força as folhas da palmeira, a fim de que ela enviasse mensagens de amor à pedra, e, quando fosse primavera, levasse suas flores até ela. E o Bem fez mais pelo casal, fato que acontece até os dias de hoje: quando o arco-íris visita as Cataratas do Iguaçu, ele une a palmeira e a pedra, momento em que esses dois elementos voltam a transformar-se em gente, como eram antes. Enquanto dura o arco-celeste, os dois amantes vivem momentos de grande paixão. E repetem doces juras de amor, aguardando a chegada de um novo arco-íris. E a lua, embevecida, comove-se com a ternura dos dois amásios.

Nota: imagem copiada de www.indoviajar.com.br

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