O ESTUPRO ATRAVÉS DOS TEMPOS

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Lu Dias Carvalho

estupro

Entre os seres humanos, o macho pode usar a coerção para obter sexo, quando certos fatores de risco alinham-se: quando ele é violento, insensível e irresponsável; quando é um perdedor, que não consegue atrair parceiras por outros meios; quando é um pária e tem pouco temor do opróbio da comunidade; e quando ele sente que os riscos da punição são baixos. (Steven Pinker)

Ao longo da história da humanidade, em todas as épocas e nos mais diferentes pontos da Terra, o estupro esteve presente e ainda continua flagrante na vida das mulheres, como um cancro de difícil extirpação. Esse ato abominável tanto pode acontecer como casos isolados ou em massa, em períodos de guerras civis ou entre países, mesmo em se tratando de povos tidos como civilizados. Apesar da crueldade deste tipo de crime, em que a mulher é forçada a praticar o coito, ela ainda sofre dupla penalização, principalmente nos  países teocráticos, onde é tratada como uma criminosa, responsável pelo que lhe aconteceu,  tendo contra si o Estado e a religião – seus carrascos.

Nem é preciso viajar muito no tempo que nos antecede, para ter uma visão mais pungente da tragicidade que era a vida de uma mulher submetida ao estupro. Livros religiosos de diferentes crenças apregoavam (alguns ainda persistem nesta estupidez) que uma mulher estuprada, se casada fosse, era responsável por ter cometido adultério, podendo ter, como castigo, o apedrejamento até a morte. Ao terror, à dor, à vergonha, ao trauma e à violação do corpo da vítima, juntava-se o menosprezo social e religioso. Em assim sendo, não causa espanto o número de mulheres que cometeram e ainda cometem suicídio em tais países, antecipando a morte punitiva que viria a seguir, em vez de receberem apoio emocional.

O escritor humanista Steven Pinker escreve em seu livro “Os Anjos Bons da Natureza Humana” que “o estupro era visto como uma ofensa não contra a mulher, mas contra o homem – seu pai, seu marido ou, no caso de uma escrava, seu proprietário. […] O estupro é uma prerrogativa do marido, do senhor, do proprietário de escravos ou do dono do harém. É visto como um legítimo espólio de guerra”. O mais cruel na história de certas culturas, fato que ainda acontece em muitas delas, é o código de conduta dispensado ao estuprador: se ele tomar a vítima como esposa, pagando certo valor por ela, estará eximido de qualquer culpabilidade.

Mesmo nos dias de hoje, a mulher tem dificuldade em dar credibilidade ao estupro sofrido, pois a justiça ainda tem um pé na Idade Medieval, mesmo com o crime tendo saído da esfera do pai ou do marido para cair nas mãos do Estado, que tem o dever de protegê-la. O machismo vigente em muitos países torna-a ré, em vez de vítima. Ela precisa reunir um cabedal de provas para comprovar a denúncia de que foi realmente forçada à conjunção carnal, e que não foi a grande “sedutora”.  Em suas pesquisas, Pinker relata que muitos juízes e advogados tomavam a acusação como falsa, alegando que “uma mulher não pode fazer sexo contra a sua vontade, pois não se pode enfiar uma linha numa agulha em movimento.”. E que a polícia era zombeteira e sádica quanto ao estupro, dizendo muitas vezes para a vítima: “Quem desejaria estuprar você?” ou “Uma vítima de estupro é uma prostituta que não recebe pagamento.”.

Em 2003 tivemos aqui no Brasil um ato abominável, quando um congressista, Jair Bolsonaro, responsável por zelar pelas leis de seu país, disse à sua colega e desafeta: “Eu só não te estupro porque você não merece.”. E, como prova de que nenhuma reprimenda foi-lhe aplicada, ele repetiu, em 2014, num português também vexamoso: “Não sai, não, dona Maria do Rosário, fica aí. Fica. Fica aqui para ouvir. Há poucos dias ‘tu’ me chamou de estuprador no Salão Verde, e eu disse que não ia estuprar você porque você não merece. Fica aqui para ouvir.“. E dessa vez também nada lhe aconteceu, embora tenha violado a Constituição brasileira, o Regimento Interno da Câmara e o Código de Ética Parlamentar. Enquanto isso, no mundo civilizado, a justiça criminal leva a sério os crimes de estupros ou a apologia feita aos mesmos.

Obs.: este texto é uma homenagem a todas as vítimas de estupro.

Sugestões de leitura:
Contra nossa vontade/ Susan Brownmiller
Os Anjos Bons da Natureza Humana/ Steven Pinker

Nota: imagem copiada de deniscaramigo.jusbrasil.com.br

2 comentaram em “O ESTUPRO ATRAVÉS DOS TEMPOS

  1. Rui

    Lu

    Infelizmente esse ato abominável acontece até mesmo em culturas democráticas. Triste é ver que por vezes a mulher leva o caso para tribunal,onde é ainda humilhada, dizendo que ela é que provocou o homem. É importante que haja pessoas como você, Lu, que metem o dedo na ferida.

    Aqui em Portugal, a mídia traz muitos casos desses. O certo é que quem comete esses crimes são soltos e tornam a cometê-los. Os homens ainda julgam que a mulher é sua propriedade, assim anda no século XXI, é muito triste.

    Um abraço querida amiga

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Rui

      Toda mulher deve denunciar tal crime. Como viu no texto, um deputado brasileiro chega a fazer apologia ao mesmo, sem receber nenhuma punição, o que muito nos envergonha, como brasileiros. Mas as coisas para ele estão ficando feias, agora que fez apologia à tortura.

      Abraços,

      Lu

      Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *