O MITO DO MAL PURO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

bode

Condenar muito é compreender pouco. (Lewis Richardson)

 A exceção dos monges jainistas, todos nós praticamos violência predatória, nem que seja só contra insetos.

 É recorrente em nossa cultura o mito do “mal puro”. E, sobretudo às religiões interessa esse mito, pois muitas delas incham em razão do medo que incutem em seus seguidores. Este mito também está presente nos filmes de terror, em certas mitologias nacionalistas, que dividem as pessoas entre seres do bem e do mal, nas coberturas jornalísticas, que trabalham com o mesmo viés das religiões arcaicas, conservadoras e desumanas que, sob a bandeira de evitar o “mal”, escondem seus objetivos escusos. Para não se ter dúvida de quão forte é esse mito, ele está presente até mesmo na literatura infantil, onde os personagens estão quase sempre definidos como do bem e do mal, a exemplo das bruxas (feiticeiras) e princesas. Até mesmo as demais espécies animais entram nessa dança, ao serem catalogadas como seres do bem e do mal, na própria literatura.

Voltando às religiões na questão do suposto “mal puro”, elas dedicam a seu hipotético mentor (Satã, Lúcifer, Belzebu, Mefistóles, Hades, Demônio, etc.) muito mais tempo do que ao pressuposto mentor do bem (Jeová, Deus, Alá, etc.). Muita gente conhece o degastado pensamento de que “É preciso pensar mais no mal, pois o bem, a qualquer hora que chegar, é sempre bem-vindo”. Como vimos em outros textos aqui no blog, o homem traz o bem e o mal dentro de si. E o que for melhor alimentado não resta dúvida de que ganhará um destaque maior, sobrepujando o seu par dual. E dentre esses que alimentam o seu “eu” com o mal estão os amorais, extremistas, ditadores, fanáticos, homofóbicos, fascistas, misóginos, racistas e agentes de sistemas políticos perversos, etc. Muitos deles deveriam estar trancafiados, fazendo tratamento médico, pois são verdadeiros psicopatas, impossibilitados de viverem em sociedade. Em relação a esses não é possível “banalizar o mal”, pois são perpetradores de ações que levam a consequências danosas para um povo e muitas vezes para o planeta como um todo. E sua grande maioria encontra-se no mundo da política, pois mostram-se uma coisa antes e outra depois de eleitos. Por isso, faz-se necessário olhar para o passado desses indivíduos, na tentativa de ver qual é o “eu” que eles alimentam mais, se o do bem ou o do mal.

As expressões “animalesco”, “selvagem” e “bestial”, por exemplo, são totalmente errôneas, quanto à comparação do homem com as outras espécies animais, pois esse tem lhes feito um mal sem limites. Enquanto no reino animal o “mal” segue as delimitações da cadeia alimentar, onde a predação acontece sem raiva ou ódio, no mundo dos homens ele é intencional. Segundo o humanista espanhol Fernando Savater, de todos os animais, o homem é o único que é cruel, pois premedita e maquina suas próprias maldades. Ele  acha que se encontra desgarrado das demais espécies, não tendo o mínimo respeito por elas. O humanista Steven Pinker conta em seu livro “Os Anjos Bons da Natureza Humana” que um agricultor aconselhou os amigos a castrar seus cavalos para que esses tivessem maior eficiência. Deveriam apenas fazer uso de dois tijolos para efetuar a castração. Mas ao ser questionado se aquilo não doeria, ele respondeu: “Não, se você deixar seus dedos fora do caminho.”, ou seja, o tal fazendeiro não foi capaz, em sua sensibilidade, de avaliar que a pergunta era extensiva à dor do animal, ao ter o saco escrotal dilacerado pelos tijolos, sem nenhum tipo de anestesia.

Todos nós temos que nos vigiar 24 horas por dia, de modo a alimentar o bem, em detrimento do mal. Esta é uma briga que não merece tréguas.

Fonte de pesquisa
Os anjos bons da natureza humana/ Steven Pinker

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