Pintores Brasileiros – ALBERTO DA VEIGA GUIGNARD

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Eterna criança grande, Guignard conservou a ingenuidade, o lirismo e a frescura da infância, como se a vida e o tempo tivessem por ele passado impunemente, deixando-o intacto. (Lúcia Machado de Almeida)

 Guignard sempre pintou o que estava perto, a realidade ao seu redor. Pintou os frutos sobre a mesa, as flores junto à janela, retratou amigos e visitantes, pintou os instrumentos de trabalho no ateliê, a música que ouvia, desenhou a mesa do bar que frequentava e, nos cardápios dos restaurantes, pintou a paisagem. Em Itatiaia pintou a serra e o vale, em Ouro Preto, a montanha e o casario. Mais: transformou essa mesma realidade. (Frederico Morais)

Guignard vale-se de um desenho insinuante e grácil, que possui importância ascendente em relação à cor, aplicada com leves dosagens ao suporte. (…) Ele se caracterizou, sobretudo, como paisagista, estimulado por alguns sítios e regiões, desde os seus primeiros tempos de retorno ao Rio, quando pintou quadros representando o Jardim Botânico. Salientam-se bem mais tarde ternas vistas com perspectiva aérea das cidades barrocas mineiras, envoltas num véu de fantasia. Os balões da noite junina apoderam-se do céu atrás das montanhas. Com sua linha de alta precisão e seus tons nuançados, valeu-se sempre de apurado senso decorativo. (Walter Zanini)

O pintor, professor, desenhista, ilustrador e gravador brasileiro Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) nasceu na cidade de Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro. O bebê Guignard nasceu com lábio leporino, o que trouxe grandes preocupações para seus pais. Quando ainda era criança perdeu o pai, vindo a mãe a contrair novas núpcias com certo alemão, bem mais jovem do que ela, que ostentava o título de barão, embora sem dinheiro. A família mudou-se para a Alemanha, quando Guignard contava com onze anos de idade. Ele permaneceu na Europa até os 33 anos. Segundo Frederico Morais, “Guignard provinha de uma família abastada, tendo tido uma infância e juventude bem tranquilas financeiramente falando, porém, ao retornar ao Brasil passou a viver sempre sozinho e com seus parcos recursos, morou, de início, em quartos e pensões, nunca permanecendo muito tempo em nenhum deles.”.

A fenda no palato do artista trouxe-lhe, ao longo da vida, grandes sofrimentos. Por não ter passado por uma cirurgia eficiente, ao comer, Guignard via certos alimentos serem expelidos pelas narinas, sem falar no corrimento nasal que o acompanhava permanentemente. Ele jamais escondeu essa deficiência, tanto é que ela aparece nos seus autorretratos. Ao retratá-la em algumas figuras de Cristo (ver pintura acima) e noutras pinturas religiosas, era como se comparasse o sofrimento desses com o seu.

Guignard teve uma boa formação, estudando na Academia de Belas-Artes de Munique, na Alemanha, e na Academia de Belas-Artes de Florença, na Itália. Teve como mestres dois nomes importantes: Herman Groeber e Adolf Engeler. Ao retornar ao Brasil, na década de 20, tendo concluído seu aprendizado técnico na Europa, foi morar na cidade do Rio de Janeiro, que pintou em muitas de suas obras. Tornou-se um nome importante ao lado de Candido Portinari, Ismael Nery e Cícero Dias. Em 1944, o artista foi convidado pelo prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, para criar um curso de desenho e pintura no recém-criado Instituto de Belas-Artes. Foi amor à primeira vista pela cidade, para onde mudou e adotou como sua.

O pintor tinha fascinação pelas montanhas de Minas Gerais, pelo seu céu e cores, que inúmeras vezes retratou em suas paisagens, e pela gente mineira. Teve um grande peso na formação de novos artistas, ao cortar os laços com a linguagem acadêmica, ajudando a firmar o modernismo nas artes plásticas do estado mineiro. Segundo o escritor Olívio Tavares de Araújo, em “A Poesia Intacta”, “É possível que, sem o retorno ao Brasil e sem a posterior mudança para Minas Gerais, a obra de Guignard não tivesse chegado às alturas que chegou.”, com sua pintura repleta de poesia. O artista também gostava de aformosear sua pintura, como relata a historiador da arte Rodrigo Naves: “Em sua pintura, o decorativo está presente nos retratos, nos arranjos florais, nas estampas das roupas e em toda ornamentação em torno de seus modelos femininos, além de tetos, painéis, móveis e objetos que pintou.”.

Guignard expandiu sua arte para todos os gêneros da pintura. Pintou paisagens, retratos, naturezas-mortas, pinturas de gênero e pintura religiosa, assim como temas alegóricos. Foi aquilo que se pode chamar “um artista completo”. Muitas vezes, empregava dois gêneros diferentes numa mesma obra, a exemplo de naturezas-mortas com paisagem em segundo plano. Alguns críticos de sua obra consideram que foi no gênero do retrato que ele foi mais fecundante e, que perfazem a maior parte de sua criação. Foi nesse gênero que recebeu, em 1940, o prêmio de viagem ao país, com a obra “As Gêmeas”. A tela retrata duas irmãs gêmeas, sentadas num sofá e, como não poderia deixar de ser, uma paisagem ao fundo, representando o bairro carioca de Laranjeiras.

Alberto da Veiga Guignard morreu em 1962, aos 66 anos de idade, tendo sido enterrado na Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto. Numa homenagem ao grande artista, a Escola Guignard, na capital mineira, leva o seu nome.

Nota: 1. autorretrato do artista; 2. Cristo, 1950, Coleção Mário Silésio

Fontes de pesquisa
Brazialian Art VII
https://www.escritoriodearte.com/artista/alberto-da-veiga-guignard/

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