Raízes da MPB – ADONIRAN BARBOSA

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Autoria de Lu Dias Carvalho duran12

Além de decalcar nas letras de seus sambas a pronúncia italiana e o linguajar caipira de tipos populares de São Paulo, de sua época, Adoniran também fez desta cidade um personagem constante em sua obra musical. (Carlos Calado, jornalista e escritor)

Nunca ninguém quis nada comigo. Ninguém me chamava para nada, eu é que ia atrás. Até para tomar café um chamava o outro e eu tinha é que segui-los. (Adoniran Barbosa).

O compositor, cantor, comediante e ator, Adoniran Barbosa, nasceu em Valinhos/SP, em 1910, e por muito tempo usou o seu nome de nascimento, João Rubinato, principalmente na época em que foi comediante e ator. Mas, como ele mesmo disse, “cantar samba com nome italiano não dá!” Portanto, Adoniran Barbosa é um pseudônimo.

Os pais de João Rubinato, Fernando e Emma Rubinato, vieram da Itália como imigrantes para trabalharem em Tietê, no interior paulista. Dali eles se mudaram para Valinhos, distrito de Campinas, onde nasceu Adoniran Barbosa (João Rubinato), o caçula dos seis filhos do casal.

Embora já recebesse cachês como cantor de rádio, nos idos da década de 1930, João Rubinato só foi consagrado compositor a partir da década de 1950. Trabalhou como ator, comediante de rádio, e também fez filmes de comédia e drama, mas foi como compositor de samba que se tornou popularíssimo. Quem nunca ouviu falar de Saudosa Maloca, Samba do Arnesto, Tiro ao Álvaro e do clássico Trem das Onze?

O pai de João Donato colocou-o para trabalhar cedo, ainda mais que o menino não era chegado aos estudos, já com tendência para a malandragem. Foi entregador de marmitas de um hotel, mas perdeu o emprego assim que os clientes começaram a reclamar que elas estavam chegando bulidas. Quando a família mudou-se para a cidade industrial de Santo André, João trabalhou em diferentes serviços: serralheiro, encanador, tecelão e balconista.

Quando estava com os seus 18 anos, optou por trabalhar como mascate. Seu itinerário eram os bairros pobres, onde vendia os produtos que comprava na cidade de São Paulo: meia, retalhos de tecido, botões, etc… Gostava de sair livre pelas ruas, cantando e conhecendo novas pessoas. Parecia até que o talento já fazia cócegas na pele.

João resolveu virar cantor no programa Calouros do Rádio, mas foi desclassificado na sua primeira tentativa. Esperto, fez amizade com o diretor que lhe deu outra chance, Acabou cantando semanalmente na emissora e ainda recebendo um pequeno pagamento, mas não tardou em ser mandado embora. Mas ele não era de se dar por vencido. Ao ouvir o locutor dizer que sua voz era “boa para acompanhar defunto”, concluiu que o erro estava no nome que carrega: João Rubinato. E assim nasceu Adoniran Barbosa, fusão de dois amigos que tinha. O fato é que Adoniran conseguiu espaço no elenco de cantores da Rádio São Paulo, e sua marchinha, Dona Boa, em parceria com J. Aimberê, foi campeã de um concurso de músicas carnavalescas.

Embora o universo do samba fosse dominado pelos cariocas, por ocasião do Quarto Centenário do Rio de Janeiro, foi um paulista, Adoniran Barbosa, quem venceu o concurso oficial de músicas carnavalescas, em 1965. A música premiada não poderia ser outra, senão Trem das Onze, na voz do conjunto Demônios da Garoa, gravado inclusive em outros idiomas.

Adoniran Barbosa jamais esqueceu as suas origens, sempre destacando a cidade de São Paulo em seu trabalho, quer através de suas ruas quer através de seus bairros ou de seus pontos turísticos (Rua dos Gusmões, Vila Esperança, Praça da Sé, etc.). Envolvido com as rádios, onde fez inúmeros personagens de humor, e com o cinema, ficou quase uma década sem compor. Popular e bem de vida, voltou a compor em 1945. E em 1951, compôs Saudosa Maloca, inspirado na situação de dois carregadores de feira conhecidos, mas que não foi sucesso na sua voz.

Os Demônios da Garoa eram um conjunto vocal jovem que gravou o samba Malvina, de Adoniran, que terminou ganhando o concurso para o Carnaval paulista. Daí para frente, o conjunto passou a gravar os sambas de Adoniran com grande sucesso, durante décadas.

Entusiasmado com a vitória do seu samba Malvina, o compositor paulista compôs, em parceria com seu amigo Nicola Caporrino, o Samba do Arnesto, que também não havia feito sucesso na sua voz. Mas os Demônios da Garoa trouxeram-lhe mais uma vitória com o samba Joga a Chave, vencendo o concurso carnavalesco daquele ano. E, quando o conjunto gravou no mesmo disco, o Samba do Arnesto e Saudosa Maloca, o sucesso foi acachapante, ultrapassando as fronteiras paulistas, chegando até o Rio de Janeiro.

Outro grande sucesso de Adoniran foi Trem das Onze, na voz do conjunto Demônios da Garoa, que também saiu vencedor num concurso oficial de músicas carnavalescas.

Adoniran Barbosa, já nos últimos anos de sua vida, viu suas composições serem gravadas por vários talentos da MPB. Morreu em 1982, aos 72 anos.

Nota
Acessem o link abaixo para ouvirem Trem das Onze
http://www.youtube.com/watch?v=XoUtxWU8lW8

Fonte de pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/ Folha de São Paulo

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