Raízes da MPB – ATAULFO ALVES

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Autoria de LuDiasBH baiana123

Certa vez, o poeta e cronista Paulo Mendes Campos perguntou a Ary Barroso qual seria o maior compositor brasileiro de música popular. O autor de Aquarela do Brasil, coerente com a singeleza da pergunta também não titubeou: – Ataulfo Alves (Hugo Sukman, jornalista e escritor)

O compositor, cantor e dirigente de entidade musical, Ataulfo Alves de Souza, nasceu em 1909, Minas Gerais. Diferentemente dos sambistas da época, oriundos do Rio de Janeiro e de São Paulo, Ataulfo Alves era mineiro da cidade de Miraí, outrora distrito de Cataguases, na Zona da Mata, para a qual cantou um de seus maiores sucessos: Miraí.

Cidade Miraiense/ te quero com devoção/ cidade miraiense/ torrão tranquilo e sereno/ tu cabes no meu coração/ torrão bendito por deus/ eu sinto-me tão pequeno/ ora ser um dos filhos teus…

Ataulfo Alves, filho de Severino Souza, também conhecido por Capitão Severino, nasceu pobre. Seu pai, violeiro, acordeonista e repentista trabalhava nas plantações de café para sustentar os sete filhos. E foi ele o mestre do filho na arte de versejar e cantar modinhas mineiras. Aos oito anos de idade, o menino já escrevia versos e trabalhava como leiteiro, engraxate, condutor de bois, entre outros trabalhos. Aos 10 anos de idade perdeu o pai. O mais engraçado no sobrenome de Ataulfo é que o acréscimo de “Alves” foi uma homenagem à família do patrão do pai.

É sabido que naquela época, o Rio de Janeiro era o celeiro do samba. E mesmo compositores, como Ary Barroso, mineiro de Ubá e Geraldo Pereira, de Juiz de Fora, acabavam deixando de lado as origens mineiras, “tornando-se” cariocas. Mas isso não aconteceu com Ataulfo Alves, provando que o samba também poderia surgir das Minas Gerais, contrariando o parecer de Orestes Barbosa de que “mineiro não dá pra samba”.

Ataulfo Alves, aos 18 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, berço do samba, até então música regional, que começava a transpor as fronteiras da então capital da república. Para ali foi acompanhando um médico de Miraí, para quem trabalhava como ajudante de farmácia. Na cidade, ele teve que passar por diversos empregos, para se manter. Aproveitou também para estudar um pouco de música e se aproximar do pessoal que criava samba, ou seja, a turma do Estácio. Tocava cavaquinho, bandolim e violão.

Bide, uma espécie de padrinho musical de Ataulfo Alves na cidade do Rio de Janeiro, levou-o para uma das grandes gravadoras da época: a Victor. O mineiro foi gravado por dois importantes nomes da época: Almirante e Carmen Miranda. Estava nascendo um dos maiores compositores da música nacional.

O sucesso de Ataulfo Alves era lento e firme. Carlos Galhardo, ainda no início de sua carreira, mas já com um bom nome no meio musical, começou a gravar suas músicas. Depois vieram outros grandes cantores como Francisco Alves, Orlando Silva e Sílvio Caldas. Vários grupos também passaram a gravá-lo. Ao ser gravado por Orlando Silva, o Cantor das Multidões, nas duas faixas de seu disco, consolidou-se a carreira musical do mineiro. Para culminar, no carnaval de 1940, seu samba, Oh! Seu Oscar, em parceria com Wilson Batista, na voz de Ciro Monteiro, foi vitorioso. Villa-Lobos e Pixinguinha faziam parte do júri.

Naquela época, havia excelentes cantores com vozes admiráveis. Havia uma clara distinção no mercado musical: compositores compunham e cantores cantavam. Raramente um compositor gravava uma de suas composições. Por isso, foi motivo de surpresa o pedido de Ataulfo Alves à gravadora Odeon para gravar um disco. A gravadora aceitou e Ataulfo gravou de um lado Alegria na Casa de Pobre e do outro, Leva Meu Samba, estreando na última faixa, como produtor e arranjador, o inesquecível Jocob Bittencourt (ou Jacob do Bandolim).

Ataulfo Alves consagrou-se como compositor e cantor, tornando-se muito popular. Grandes sucessos vieram como O bonde de São Januário. Mas Saudades da Amélia, em parceria com Mário Lago, viria a se tornar um clássico, que dividiu com “Praça Onze”, de Herivelto Martins, o primeiro lugar de melhor samba do carnaval de 1942, mudando, inclusive, o sentido da palavra “Amélia”, que passou a ser, segundo o Aurélio, “Mulher que aceita toda sorte de privações e/ou vexames sem reclamar, por amor a seu homem.”.

As pastoras compunham um coro afinadíssimo de vozes femininas, acompanhando o cantor principal, no caso Ataulfo Alves, que criou o conjunto musical Ataufo Alves e Suas Pastoras, vindo a fazer shows por todo o país, e até mesmo no exterior.

Ataulfo Alves morreu muito bem de vida, em 1969, deixando viúva sua esposa Judith e quatro filhos, e mais de 320 canções, sendo gravado por vários intérpretes da música popular brasileira.

Nota: Ouçam clicando o link abaixo: Ai que Saudades da Amélia
http://www.youtube.com/watch?v=Z7vV-HUXqfQ

Fonte de pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/ Coleção Folha de São Paulo

2 comentaram em “Raízes da MPB – ATAULFO ALVES

  1. LuDiasBH Autor do post

    Ed

    O mais interessante é que Ataulfo Alves jamais renegou sua origem mineira.
    É encantador o modo como ele fala de sua Miraí.
    Imagino que a cidade tenha por ele imenso carinho.

    Abraços,

    Lu

    Responder
  2. Edward Chaddad

    LuDias

    Sempre gostei de Ataulfo Alves. Ele tinha o samba no coração e o trazia para os pés e, é claro, para o coração de todos que o assistiam.
    Conheci-o através de discos. Depois na TV. E foi um encanto um show que assisti com ele, acompanhado do conjunto do Caçulinha. Naquele dia, ele fez um pout-pourri de músicas que compôs. Fiquei maravilhado.
    Busquei na internet e achei apenas um trecho do show:

    https://www.youtube.com/watch?v=LAOFlACg8Vk

    Uma beleza de texto, lembrando um dos maiores compositores do samba brasileiro.

    Responder

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