RAM MUNDA (3) – A METAMORFOSE

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Autoria de Lu Dias Carvalho Ramun III

Prometi a meus leitores que lhes faria um resumo das partes mais importantes do livro de Marc Boulet, Na Pele de um Dalit. No entanto, é bom lembrá-los de que os fatos, aqui narrados, aconteceram entre 7 de fevereiro de 1992 e 6 de janeiro de 1993. Mudanças podem ter acontecido de lá para cá. E é muito auspicioso que assim seja. Mas é bom investigar, pois tudo pode continuar como dantes no quartel de Abrantes. E dando continuidade aos fatos…

O escritor francês MB resolve se metamorfosear na figura de um dalit (intocável), indivíduo pertencente ao mais baixo patamar da escala social indiana, isso porque, enquanto o sistema de classes recompensa o mérito na vida atual, o sistema de castas aprisiona a pessoa, impedindo-a de alcançar qualquer tipo de ascensão social. É exatamente para vivenciar os horrores da intocabilidade que o autor adentra no cerne dessa monstruosidade, para vivenciar, na pele, o que se passa na vida daquela gente.

A família de MB, ao tomar conhecimento das imagens dos leprosos, mortos e crianças esqueléticas nas calçadas de Calcutá, tenta convencê-lo a mudar de ideia. Preocupa-se com a sua saúde e com suas condições psicológicas, ao final de seu  trabalho. Mas não consegue demovê-lo de seu intento. Ele está disposto a ir até o fim.

O escritor começa a preparar sua viagem com o aprendizado do híndi, a mais falada dentre as línguas indianas. Permanecerá 6 meses na França e mais 3 na Índia, a fim de dominar a linguagem coloquial e as gírias, antes de vestir a pele de um dalit. Apesar da certeza de que irá partir em direção à meta preestabelecida, sente que é preciso domar o medo da doença, da fome e da miséria que o incomoda. Não tem a mínima ideia de como reagirá a tantas limitações, sendo um habitante de um país rico, onde o conforto é visto como necessidade. Sabe que não será fácil viver em meio à indigência extrema, onde ser um intocável significa apenas possuir o próprio corpo. O que lhe dá forças é a certeza de que sairá enriquecido da experiência, além de tornar conhecida a vida dos dalits em todo o mundo e, assim, ajudá-los.

Um amigo dermatologista encarrega-se de escurecer sua pele. As soluções encontradas para atingir o seu objetivo são limitadas. Receita-lhe uma medicação que aumenta a quantidade de melanina na pele, usada para tratar portadores de vitiligo. Mas é preciso ter cuidado, visto que o seu uso prolongado pode levar ao câncer. Para adquirir a cor de chocolate, comum à pele indiana, sua pele deverá ser untada com nitrato de prata. Mas não deve perder de vista o fato de que a epiderme renova a cada três semanas. Com tudo pronto, sua esposa Gloire prepara as malas para acompanhá-lo na viagem. Sua função será fotografá-lo e filmá-lo durante todo o processo de suas transformações.

Seu voo é com destino a Nova Delhi. Como vizinho de poltrona, do seu lado direito, está um indiano de nome Basi, que é um kshatriya do Punjab, pertencente a uma das castas mais ricas da hierarquia hindu, a casta dos guerreiros. Mora na Inglaterra, mas há 17 anos que não retorna a seu país de origem. MB conversa com o vizinho de poltrona em híndi, na tentativa de testar a nova língua. Fala devagar, cometendo muitos erros linguísticos, mas se faz entender pelo senhor Basi. Fato que o deixa mais confiante. A aeromoça serve-lhe uma dose de bebida alcoólica. O vizinho recusa e opta por um refrigerante. Os indianos religiosos não tomam álcool, por considerá-lo uma bebida impura, mas podem fumar…

A seguir o capítulo 4…

Fonte de pesquisa:
Na Pele de um Dalit/ Marc Boulet/ Editora Bertrand Brasil

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