Ticiano – BACO E ARIADNE

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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              (Clique nas gravuras para ampliá-las.)

Ticiano era famoso por captar momentos cheios de intensidade psicológica, como acontece nesta obra. Ele foi o mestre renascentista da cor, e o brilho intenso desde quadro reflete seu tema apaixonado. (Robert Cumming)

Esta composição que conta a história mitológica de um grande amor foi encomendada a Ticiano pelo duque de Ferrara — Afonso d`Este — e fazia parte de um grupo de pinturas que tinha por finalidade decorar a sua casa de campo. O quadro trata de um tema mitológico: o encontro entre Ariadne — filha do rei Minos de Creta — e Baco, o deus do vinho, seguido de seu barulhento séquito de beberrões.

Ticiano pinta o exato momento em que Baco encontra Ariadne pela primeira vez, ficando os dois intensamente apaixonados. Ela fora deixada na praia por Teseu, enquanto dormia. O movimento toma conta de toda a tela: Baco saltando com seu manto flutuante; Ariadne indicando o mar onde navega a embarcação do amante traidor; os seguidores do deus do vinho tocando instrumentos musicais e dançando; o céu cheio de nuvens flutuantes, etc.

À primeira vista o grande número de personagens dispostos na tela pode levar o observador a pensar que o artista não foi cuidadoso com a sua composição, não se preocupando com a disposição dos mesmos. O que não é verdade, pois, se traçarmos duas diagonais na tela, observaremos que a mão direita de Baco está praticamente no centro do quadro, enquanto seus companheiros situam-se logo abaixo, na parte inferior  do retângulo, à direita da composição, enquanto Ariadne encontra-se sozinha no vértice do triângulo esquerdo.

Baco e Ariadne, o casal romântico da composição, estão inseridos no retângulo esquerdo do quadro. Embora Baco tenha os pés próximos de seus amigos, traz o coração e a cabeça próximos à amada. A sua figura é o ponto focal da composição, atraindo para si o olhar imediato do observador.

Baco, deus grego romano, é jovem e forte, e traz folhas de louro e videira nos cabelos, o que torna fácil a sua identificação. O manto rosa esvoaçante assemelha-se a um par de asas. Seu rosto demonstra grande surpresa e encantamento, mostrando-se imobilizado ao cravar os olhos na moça. Existe a sensação de que ele está saltando em direção a ela.

Ariadne é também bela e forte. Usa um manto azul drapeado, com uma faixa vermelha que lhe cinge o corpo e se arrasta pelo chão. A torção de seu corpo e a mão erguida demonstram que ela fitava o mar, mas virou a cabeça, surpresa, para olhar o deus romano. O manto rosa com que o deus do vinho cobre a sua nudez contrasta-se admiravelmente com a faixa vermelha usada por ela, e que chama para si a atenção do observador. O rosto de Ariadne demonstra medo e interesse simultaneamente.

A visível emoção presente no rosto de Ariadne e de Baco destaca-se no azul do céu, comprovando a dramaticidade do momento. Os dois guepardos, responsáveis por conduzir o carro de Baco, também se olham com intensidade (Ticiano substituiu os leopardos tradicionais por guepardos). No chão encontra-se uma urna que brilha ao sol, sobre o manto amarelo de Ariadne e onde se pode ler a assinatura do pintor (Ticianus F).

No centro da composição um jovenzinho sátiro (metade homem e metade bode) puxa a cabeça de um bezerro e dirige o seu olhar para o observador, como se estivesse a convidá-lo para se agregar ao grupo. É o único a olhar para fora da tela, visto na composição. Entre o sátiro e a cabeça do bezerro encontra-se uma flor de alcaparra, que é tradicionalmente tida como o símbolo do amor. No primeiro plano, próximo ao pequeno sátiro, um cachorrinho late para o grupo.

Um personagem musculoso, Leocoonte, encontra-se enlaçado por uma serpente que ele tenta dominar. Atrás dele encontra-se um personagem embriagado, empunhado na mão direita a perna de um bezerro, enquanto traz na esquerda um enorme cajado enfeitado com folhas de videira. Usa também uma coroa e cintos de videira.

No grupo de Baco encontram-se duas bacantes. A que se encontra mais próxima ao deus do vinho toca címbalos. Observem que ela tem a mesma pose de Ariadne. Uma segunda bacante toca um pandeiro e dirige seu olhar perdido ao personagem embriagado. Uma terceira mulher, postada ao lado direito do burro, toca uma corneta.

O homem idoso e gordo montado no burro e sustentado por outro é Sileno, pai adotivo de Baco e também chefe dos sátiros. O céu contém várias nuvens e oito estrelas que representam a coroa de Ariadne que foi lançada ao céu por Baco e transformada numa constelação.

Bem à direita da composição um personagem leva nos ombros um barril de vinho, lembrando a postura do mitológico Atlas. Ao fundo, à esquerda de Ariadne, está o barco de Teseu (amante da moça) que se afasta no horizonte. Ela traz o braço direito estendido em direção à embarcação. A pintura é magistralmente colorida, com predominância do azul ultramar presente no céu, nas montanhas, nas vestes de Ariadne e da mulher que toca címbalos.

Curiosidade:
Segundo a lenda, Ariadne foi abandonada por Teseu, a quem ajudou matar o Minotauro e a se safar do Labirinto onde vivia o monstro, ao dar-lhe um novelo com linha vermelha. Contudo, Teseu deixou-a sozinha nas praias gregas de Naxos, enquanto dormia. Mas ela acabou por encontrar Baco que por ali passava com o seu séquito. O amor entre os dois aflorou imediatamente. Ele lhe prometeu o céu, caso ela aceitasse se casar com ele. Após a sua resposta afirmativa, Baco pegou a coroa dela e a lançou para o céu. Imediatamente a coroa se transformou numa constelação.

Ficha técnica:
Data: 1520 -1523
Tipo: óleo sobre tela
Dimensões: 176 x 191 cm
Localização: National Gallery, Londres, Reino Unido

Fonte de pesquisa:
Arte em detalhes/ Robert Cumming
Isto é arte/ Sextante
Grandes pinturas/ Publifolha

4 comentaram em “Ticiano – BACO E ARIADNE

  1. Antônio Costa

    Lu

    É impressionante como a força mitológica e a história cristã foram fontes inspiradoras por tão longo tempo da arte pictórica, permitindo a revelação e sua evolução influenciando a economia, a política e o poder.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Antônio

      As obras com temática mitológica apareceram com grande intensidade no Renascimento, à medida que os artistas iam ousando intercalar os temas cristãos com os mitológicos, redundo em grande riqueza para a arte.

      Abraços,

      Lu

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  2. Marinalva Autor do post

    Lu
    Como existiram pintores fantásticos! Cada obra maravilhosa que estou conhecendo neste curso! Falando em pintor, Tiziano Vecellio foi um dos grandes mestres italianos do Renascimento. Na pintura mitológica “Baco e Ariadne”, ele mostra uma habilidade incrível. É uma composição alegre e animada, cheia de harmonia e equilíbrio. Usa a luz e rico brilho, unificando a cena em sua rica cor quente. Uma pintura estupenda em todos os seus detalhes.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Marinalva

      Ticiano foi um dos grandes mestres do Renascimento italiano. Esta composição que conta a história mitológica de um grande amor é sem dúvida alguma uma de suas obras-primas. O quadro que trata de um tema mitológico: o encontro entre Ariadne — filha do rei Minos de Creta — e Baco, o deus do vinho, seguido de seu barulhento séquito de beberrões, é de uma riqueza estupenda.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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