Turner – O NAVIO NEGREIRO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Se eu fosse reduzido a descansar a imortalidade de Turner em um único trabalho, eu deveria escolher isso. (John Ruskin)

No alto de todas as mãos, acerte os mastros superiores e despreocupe-os;/ Sol raivoso e nuvens de arestas ferozes/ Declare a vinda do Typhon./ Antes de varrer seus decks, jogue ao mar/ Os mortos e morrendo – não prestem atenção às suas correntes/ Esperança, esperança, esperança falaciosa! / Onde está o teu mercado agora? (poema inacabado de Turner que acompanhou a exibição do quadro em 1840)

O inglês Joseph Mallord William Turner (1775 – 1851) nasceu em Londres. Aos 14 anos de idade passou a trabalhar com o desenhista arquitetônico Thomas Malton que chegou a concluir que o garoto jamais seria um artista, sendo no mesmo ano aceito na Escola da Academia Real de Artes, em Londres, onde ganhou a admiração de seus colegas. Aos 15 anos, Turner expôs suas primeiras aquarelas na referida academia. Aos 25 anos já era Membro Associado, período em que visitou, pela primeira vez, outros países do continente europeu, estudando em Paris, no Louvre, os Antigos Mestres, dando destaque às paisagens holandesas e composições de Claude Lorrain. A visita de Turner a outros países, inclusive à Itália, mudou radicalmente seu estilo, quando passou para as criações visionárias, tornando sua arte cada vez mais abstrata. Ele se antecipou aos impressionistas no tratamento da luz.

A composição O Navio Negreiro é uma obra-prima do artista, um exemplo clássico de seu pendor para o abstracionismo. Esta pintura de paisagem marítima romântica demonstra que Turner foi um dos mais sensacionais inovadores da história da pintura, ao usar como tema os próprios elementos da natureza (mar, céu, montanhas, neve, vento, chuva, etc.) e criá-la em termos de cor e luz.  As cores que mais sobressaem na pintura são o vermelho do pôr-do-sol que penetra na água e também o navio e o marrom dos corpos e mãos dos escravos.

Nesta pintura, o artista usou muitas técnicas características dos pintores românticos. Suas pinceladas indefinidas têm por objetivo fazer com que a imagem pareça borrada, tornando objetos, cores e figuras indistintos, o que leva o observador a introduzir-se na cena através de sua imaginação. Ele expõe a força que a natureza possui e o poder que ela exerce sobre o ser humano.

Ao se deixar guiar pelo tema da obra, o observador poderá concluir enganosamente que o navio que navega em águas abertas ao longe, durante uma tempestade, mostrando a brutalidade humana, seja o ponto principal da composição. Mas não é. O grande astro é o sol poente no centro da tela, fonte de toda a luz, numa junção com o céu e o mar tempestuoso e a aproximação de um ciclone.

Em primeiro plano, os corpos dos escravos boiam na água. Alguns são devorados por peixes e monstros marinhos, como mostra a perna vista com a corrente ainda presa ao pé. Gaivotas sobrevoam o local. O artista, um abolicionista, tinha por objetivo impactar o observador com a crueldade humana. Era um chamado à sociedade para ver e sentir a bestialidade da escravidão, pois, apesar de a Inglaterra já ter acabado com tamanha degradação, ela ainda persistia em outros países.

O livro intitulado “A História da Abolição do Tráfico de Escravos”, do escritor Thomas Clarkson, serviu de inspiração para o artista. A obra relata um incidente, ocorrido em 1783, envolvendo um navio negreiro. Como muitos dos escravos a bordo se encontrassem doentes e o pagamento da companhia de seguros do capitão só pagaria pelos perdidos no mar, o capitão exigiu que todos os doentes e moribundos saltassem no mar, acorrentados. O título completo da obra de Turner é “O Navio Negreiro Jogando ao Mar os Mortos e os Moribundos”.

Ficha técnica
Ano: 1840
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 91,5 x 122 cm
Localização: Museu de Arte, Boston, EUA

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
http://britishromanticism.wikispaces.com/The+Slave+Ship
https://strengthoftheheart.wordpress.com/2017/07/26/an-analysis-of-slave-ship-by-william-
https://www.mfa.org/collections/object/slave-ship-slavers-throwing-overboard-the-dead-and

4 comentaram em “Turner – O NAVIO NEGREIRO

  1. Ana Gomes

    Lu

    Obrigada pelo blog maravilhoso. Penso que a data do quadro “Navio negreiro” de Turner é 1840.
    Parabéns e continue o seu ótimo trabalho!

    Ana

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Ana Gomes

      Sou eu quem agradece a sua visita e comentário generoso. Será sempre um prazer recebê-la aqui. Venha mais vezes. Quanto à data da obra de Turner você está correta. Já fiz a modificação. São tantas datas que acabo me confundindo.

      Beijos,

      Lu

      Responder
  2. Mário Mendonça

    Prezada Lu Dias

    Será que a arte ajudou a acabar com a crueldade da escravidão?

    Abração

    Mário Mendonça

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Mário

      A arte contribuiu ao colocar à vista os horrores da escravidão, contudo, as marcas da maldade fazem morada no coração de muitos seres humanos. É preciso uma limpeza profunda de dentro para fora. Nós, humanos, com nossa arrogância, somos o que de pior habita o planeta Terra.

      Responder

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