Vidas Secas – A AGONIA DE BALEIA (17)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Baleia mal se arrasta de um lugar para outro.
Está magrinha, com partes do corpo sem pelo,
com manchas escuras supurando nas costelas.
Moscas famintas lambem seu sangue e o pus.
A cachorrinha atina ter chegado a hora dela.

Baleia espera calma e piedosamente a morte.
A boca cheia de chagas e os beiços inchados,
impedindo-lhe o simples ato de comer e beber.
O coraçãozinho de animal sofrido avisa-lhe que
mesmo os bichos têm hora pra nascer e morrer.

Fabiano até pensou que fosse raiva, e amarrou
ao seu pescoço um rosário de sabugo tiçonado.
A pobrezinha vai de mal a pior na sua moléstia.
Coça-se nos paus do curral ou anda pelo mato,
buscando uma gota de sossego no seu calvário.

O que mais lhe incomoda são os cruéis mosquitos.
Enxota-os com as orelhas murchas e já sem força,
ou agita sua cauda pelada para afastar os bichos.
Quanto às dores, foram tantas em sua curta vida,
ao debandar com os seus de um pra outro nicho.

Passou por anos penosos ao lado de sua família:
sol fervente, terra queimada, pote seco, cuia vazia,
e nem um osso pra enganar o estômago famulento.
Só a devoção pelos meninos, seus irmãos de dor,
parecia ir crescendo coa massa do padecimento.

Agora, a partida se abeira pra nossa meiga Baleia.
Ela fora, anos a fio, a digna parceira dos sertanejos:
de solidão, caminhada, abarracamento e esperança.
Seu coraçãozinho enche coa imagem dos meninos
e ela brincando na caatinga e na areia do rio seco.

Lágrimas deslizam de seus olhos pequeninos.
Eu não sei responder, se Baleia sorri ou chora
pela curta vida batida no sofrimento e na seca.
A história perdeu a graça, a escritora a palavra.
Eu só sei que a bichinha não tarda a ir embora.

E neste meu poema roto, eu me diluo em lágrimas,
ao me despedir de minha terna e boa companheira,
musa de meus versos toscos perambulando ao léu.
Baleia não faz mais parte de minha vida e palavras.
Machucada, só me resta engolir minha choradeira.

Não chore, poeta, pois Baleia foi descansar no céu!

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