VISITANDO MANAUS – (Parte 2)

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Autoria de Beto Pimentel

onca

No texto anterior, falava eu de um passeio a Manaus, que agora retomo para contar mais um capítulo.

Cansados e famintos, avançamos por mais meia hora rio acima, e paramos para almoçar à moda  dos ribeirinhos, num  restaurante flutuante à margem do rio. Descanso necessário para podermos enfrentar a caminhada logo mais, a seguir por uma trilha, selva adentro.

Mal acabamos de almoçar num barco restaurante, atracado às margens do Rio Mar, quando o nosso guia nos chamou para iniciarmos a nossa aventura pela Selva Amazônica. A temperatura situava-se na marca de 42 ºC naquela tarde ensolarada de verão. Uma grande quantidade de turistas, em fila indiana, seguia o guia, a partir das margens do rio mata adentro. A trilha era sinuosa e estreita em alguns trechos, tornando-se mais larga em outros. Após caminharmos cerca de 20 minutos, paramos sob a sombra de uma grande árvore.

 – Esta árvore, senhores e senhoras, é um Mulateiro. Planta nativa das regiões tropicais da Amazônia, encontrada na proximidade dos rios, em áreas de várzea e em clareiras de solo argiloso. São também caracterizadas como plantas pioneiras. Esta árvore alcança de 25 a 30 metros de altura, sendo indicada também para o plantio em áreas degradadas. A sua casca é utilizada pelos indígenas para curar cortes, o seu córtex para infecções oculares e sua seiva é utilizada como antibacteriana, antioxidante, repelente e está sendo empregada em cosméticos para a eliminação de manchas de pele, cicatrizes e prevenção de rugas – explicava o nosso guia.

 Protegidos pela sombra das magníficas árvores, seguimos apreciando cada detalhe que a Natureza ia oferecendo aos nossos olhos fascinados, rumo ao nosso destino, que se tratava de um igarapé onde poderíamos apreciar quelônios, pássaros e as demais surpresas que a vida selvagem nos apresenta.

Eu caminhava quase no final da enorme fila, quando um barulho vindo da mata chamou a minha atenção. Olhando para a copa das árvores, percebi uma grande agitação. Eram macacos bugios que ruidosamente saltavam entre os galhos das grandes e altas árvores da Amazônia. Fascinado, fiquei parado, observando o comportamento dos grandes macacos por vários minutos. E, quando o bando de símios se afastou do meu campo de visão, fez-se um grande silêncio na mata. Nesse momento, dei-me conta que também pertencia a um grande grupo de Homo Sapiens, parentes do grupo em cima das árvores, e que necessitava voltar e seguir o meu caminho, junto com os outros da minha espécie. Olhei para todos os lados e não mais vi o grupo. Caminhei na trilha durante cerca de quinze minutos na esperança de encontrá-los. Podia ouvir o silêncio da mata. Mama mia! Havia me perdido!

Entretanto, esta não fora a primeira vez que eu passava por tal experiência. Assim, com passos acelerados na medida do possível, pois havia muitos obstáculos na trilha – restos de árvores cortadas, galhos caídos, etc. – fui caminhando instintivamente pela trilha. De repente, atingi uma clareira no meio da mata e o silêncio foi quebrado bruscamente por um barulho de vegetação seca e gravetos quebrados. Ufa, só pode ser o grupo de turistas!

– Olá, onde vocês estão? – falei em voz alta.

Nenhuma resposta. Olhei em volta da clareira e percebi que do lado oposto ao ponto onde terminava a trilha que me levara até ali, começavam três novas trilhas. E nesse momento, percebi que tinha somente duas opções: voltar pela trilha até o rio ou me aventurar através de um dos três novos caminhos e, com muita sorte, encontrar o grupo. E, foi nesse momento que, voltando os olhos para a direita, que levei um baita susto. A poucos metros, estava uma grande onça pintada. O magnífico felino, no topo da cadeia alimentar da selva, olhava fixamente na minha direção. Também imóvel e tremendo muito, fiquei ali parado, olhando para ele.

Sempre ouvi dizer que desgraça pouca é bobagem. Neste sentido, de repente, sai da mata um menino. Cerca de um metro de altura, cabelos ruivos e com os pés virados para trás. O Curupira. Lembrei-me de que os índios da Amazônia relatam o seu aparecimento para as pessoas que se perdem nas matas e, geralmente, nunca voltam para contar a sua experiência. Lembrei-me do relato de pessoas que passaram por experiências em que a sua existência, aqui neste mundo, ficara por um fio e dizem que a sua vida passara como um filme na  mente. Confesso que foi o que senti. Minutos pareciam segundos. Mas, de repente, ouvi um grande estrondo no céu, seguido por uma voz alta e grave.

 – Sou Tupã! Com um sopro, criei todas as formas humanas, dotando-as de espíritos do bem e do mal. Enviei o Curupira, entidade que defende os animais da caça e da pesca e protege as plantas da extração predatória do homem, para manifestar a minha ira em relação ao mal que os humanos estão fazendo ao planeta Terra. Ele é um ícone muito importante. É preciso começar a conscientizar  as crianças da importância da preservação  da Natureza. Esta entidade não tolera aqueles que depredam a Natureza,  caçam animais por prazer, e pode punir severamente, transformando caçadores em presas. Por outro lado, ajuda as pessoas de coração puro que estão perdidas ou em perigo.

E, como apareceu, a voz se foi. O deus do trovão nada falou sobre a onça. Ainda surpreso, esperava entender o porquê da presença também da onça.  Seria um julgamento! Sim, sem dúvida, o Curupira estava ali para me julgar. Quando garoto, gostava de caçadas – embora quase sempre sem sucesso, para alegria dos pobres  bichos. Agora seria caçado pela onça. Perdido, comecei a rezar alto. Foi quando senti uma forte sacudidela no ombro. Abri os olhos e vi o nosso guia e várias pessoas ao meu redor rindo.

– Acorda homem, estávamos muito preocupados com o seu sumiço. E você aí dormindo sob a sombra desta árvore, feito um bebê.

(*) Foto do autor, iniciando um processo de comunicação com a comadre onça.

Referência:
Projeto Curupira – http://www.kurupira.net/projetokurupira/foclore.php;
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_guarani

3 comentaram em “VISITANDO MANAUS – (Parte 2)

  1. Carlos A. Pimentel

    Lu,

    O calor era elevado e o cansaço tão grande que, até agora, eu não sei se dormi ou não! Quanto à onça, ela estava realmente petrificada! Talvez da vergonha que todos devemos ter da ação insana do homem, devastando a floresta Amazônica em níveis alarmantes por ganância. Infelizmente, podemos ver de perto o descaso e a inépcia daqueles que, por Lei, tem obrigação de fazer e não fazem, em muitos casos para coibir tais crimes ambientais. O mais chocante é vermos a floresta derrubada em muitos rincões da Amazônia e transformada em campos vazios – cheios de montes formados por cupins – para a criação de gado.

    Abraços,

    Beto

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    1. LuDiasBH

      Beto

      Tudo isso nasce da prepotência humana.
      O homem pensa que é dono de tudo e que viverá eternamente.
      E prepotentes são os governantes, responsáveis por fazer cumprir as leis.
      Passo mal, quando veja tanto descaso e omissão.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  2. LuDiasBH Autor do post

    Beto

    Quando você se perdeu na floresta, deixou-me em pânico.
    Harrison Ford perdeu nas trilhas das matas da Tijuca e morreu de medo.
    Estava ansiosa para saber como você saíria daquela situação.

    O fato de ter dormido ali é verdadeiro?
    Agora, aqui para nós, aquela onça que você enfrenta garbosamente é de pedra, não?
    A bichinha nem levanta as patas do chão, tamanho é o medo que tem de você.

    Abraços,

    Lu

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