A AULA DE DANÇA (Aula nº 85 A)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

À parte das falsas aparências no palco, Degas mostra todas as fealdades reais, a precocidade doentia das moças de fisionomias envelhecidas, bem magras, bastante audazes ou sonhadoras demais, sobre membros infantis. (Paul Lafond)

A composição intitulada A Aula de Dança faz parte das obras-primas do pintor impressionista e de uma série de pinturas com o mesmo tema. Edgar Degas era encantado pelo balé. Assistia tanto aos ensaios como às suas representações. Pintou inúmeras telas sobre o tema, captando em minúcias expressões e poses de cada bailarina, resultando num conjunto bem elaborado e no seu perfeito entrosamento com o espaço, o que o transformou no mais importante pintor de bailarinas.

Ao pintor não importava retratar a beleza dos corpos. Ele gostava de captar sobretudo o esgotamento, o cansaço, a dor extenuante e as lágrimas advindos de muitas horas de ensaio. Podemos dizer que ele mostrava a outra face da moeda, aquela que não era observada durante as apresentações, embora também pintasse tais momentos. Não lhe importava a emoção dos artistas e público, mas o aspecto plástico, a união entre luzes, sombras e figuras humanas.

Na composição A Aula de Dança um grupo de bailarinas faz um semicírculo em volta do professor, enquanto esse dá explicações à aluna que se encontra à sua frente. O rosto da garota expressa seu estado de concentração, encontrando-se numa postura de balé clássico. As demais alunas aproveitam para descansar ou para treinar alguns passos. Elas usam faixas com cores vivas e fitas pretas no pescoço.

Degas traz a ilusão de movimento na pintura, ao individualizar as bailarinas que se encontram em diferentes posturas e gestos. É interessante notar a maestria do pintor, ao criar a ilusão de profundidade, como ao pintar tábuas diagonais com suas nítidas linhas pretas e as colunas verticais de mármore preto que criam fortes verticais e levam o olhar do observador para o fundo da tela, onde se encontra uma garota consertando o seu colar.

Um cãozinho terrier aparece cheirando as pernas da bailarina de laço verde e sapatilhas cor de rosa, postada em primeiro plano e de costas para o observador. À sua esquerda uma bailarina está assentada sobre o piano, coçando as costas, enquanto abaixo dela, quase oculta, outra ajeita seu brinco. Debaixo do piano encontra-se um regador verde-escuro, onde o pintor assinou seu nome. A presença de tal objeto na pintura lembra que ele é usado para umedecer as tábuas empoeiradas do salão. Cãozinho e regador dão um toque de leveza ao rigor da composição.

O coreógrafo que também usa sapatilhas encontra-se de pé no meio do salão, com os braços apoiados no seu bastão de madeira que serve para marcar o compasso. Ele é a figura central da composição. Trata-se do famoso bailarino e coreógrafo Jules Perrot. No fundo da sala um grupo embevecido de mães observa suas filhas, enquanto as garotas mostram-se à vontade nas mais diferenciadas posições.

Na composição o observador parece fazer parte da cena, assim como o pintor, mas sem ser notado. Ele apenas olha sem ser observado. As bailarinas estão voltadas para o mestre ou para si mesmas, enquanto as mães observam-nas.

Curiosidades

  • Durante a Belle Époque a capital francesa fascinava os artistas impressionistas com a dança, sobretudo com o balé.
  • Embora o balé fosse um tipo de dança muito apreciado naquela época, não se tratava de uma atividade respeitável, de modo que muitas bailarinas tornavam-se prostitutas, sendo cobiçadas pelos burgueses ricos. Como mudam as coisas!

Ficha técnica
Ano: 1873-1876
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 85 x 75 cm
Localização: Museu D’Orsay, Paris, França

Fontes de pesquisa
Degas/ Coleção Folha
Degas/ Abril Coleções
Arte em Detalhes/ Publifolha

4 comentaram em “A AULA DE DANÇA (Aula nº 85 A)

  1. Hernando Martins

    Lu

    Assim como o Renoir tinha fixação por guarda chuvas em em suas obras, o impressionista Edgar Degas tinha por bailarinas, inclusive tinha amizades com coreógrafos e todo o métier da dança em razão de sua admiração pelo ballet. Vale ressaltar que Degas também era fotógrafo, o que talvez tenha ajudado na sua técnica muito precisa de captar o momento da cena. Ele preferia pintar os movimentos do ballet no palco e nos intervalos, assim conseguia movimentos e trejeitos espontâneos, como podemos verificar nessa obra. Esta é uma característica ímpar do Impressionismo – captar o momento,como se fosse uma fotografia.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Hernando

      Você anda cada vez mais afiado nos comentários relativos aos textos, trazendo sempre informações precisas e interessantes. A relação que faz sobre a criação das pinturas com a fotografia é muito interessante. Tem tudo a ver. Parabéns!

      Abraços,

      Lu

      Responder
  2. Adevaldo R. Souza

    Lu

    Os pincéis foram os bastões nas mãos de Edgar Degas para reger com maestria essa bela composição que impressiona com seu realismo em um cenário antigo, permitindo uma verdadeira interação com o público visual. O ritmo das cerdas desses pincéis foram os responsáveis pela perfeita união entre as expressões e emoções das bailarinas com as luzes, sombras e figuras humanas, mostrando o talento do artista, ao criar uma ilusão de profundidade com as demarcações das tábuas do piso em diagonal e colunas verticais com cores escuras.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Adevaldo

      O que falar diante da descrição tão bonita e sensível que você fez dessa obra de Degas? A cada dia sua suscetibilidade em relação às obras de arte aumenta mais. Parabéns!

      Abraços,

      Lu

      Responder

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