Vidas Secas – A CACHORRA, O PREÁ E A FAMÍLIA (4)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

cap baleia

Os retirantes perdidos no deserto queimado,
aferram-se à vida que se escorre coo tempo.
Somam juntos suas desgraças e os pavores,
pois, a existência pra eles é só tormento.

Um abraço afadigado aconchega o casal
debaixo dos molambos espalhados no chão,
mas resistem à fraqueza do desejo secreto,
apartando-se envergonhados na tribulação.

Não há ânimo pra tolerar de novo a luz dura
de mais um dia que não tardará a despontar,
mas não se pode miserar a crença animadora,
que afugenta a morte pra outra embocadura.

Os pixotes morgam. O casal inicia a madornar.
Baleia avizinha trazendo um preá nos dentes.
Arribam-se todos em contagioso aprazimento,
pois, a caça miúda mais um dia aliviará.

A mulher beija a cara sangrenta da cachorra,
que lambe seu sangue e se delicia coo agrado.
Não se perde dengues em tempos tão difíceis,
quando a morte em cada curva joga o dardo.

Os meninos apanham uma haste de alecrim,
pra mãe fazer o espeto do milagreiro achado.
Baleia olha tudo com olhos úmidos e tristes,
esperando, paciente, sua parte no butim.

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