Postado por LuDiasBH
O caminhão levava quarenta humanos,
no seu útero fétido e inchado de agonia.
Um silêncio, com ua catinga de desgraça,
era sentido pelos caminhos da triste via.
A carga permanecia muda e carrancuda,
pois o medo e a repulsão não têm nome.
Uns, cambaleantes da noite mal dormida,
falavam sozinhos numa loucura insone.
Corpos trombavam uns contra os outros
no ventre do caminhão avariado e vulgar,
carregando o medo de não voltarem vivos
das fornalhas chamejantes daquele lugar.
Alguns acarretavam olhos enlouquecidos;
outros, olhos de espanto ou de amargura.
Todos alimentados coa poeira da estrada,
embalados pelo viver torpe e sem sentido.
O caminhão parou para despejar seu fardo.
O lugar era um inferno de brasas apagadas.
Uma massa acinzentada de seres humanos,
embaralhava-se ao carvão a ser empilhado.
A fumaça espalhava uma fuligem pegajosa,
a encobrir aqueles corpos nus enegrecidos.
Bebês magriços, em seus berços de hulha,
aguardavam calados suas mães escravas.
Os mais velhos ostentavam ossos visíveis e
os garotos, faces rubras e bocas salivantes.
Apesar de silenciosos, os olhos imploravam
que Deus ouvisse suas preces suplicantes.
Minha crença partiu diante daquele inferno.
A ferida chocante na alma nunca cicatrizou.
Não mais fiz orações aos céus ensurdecidos.
A minha fé no pó da carvoaria se enterrou.
Lu,
Triste porque verdadeiro. Um abraço.
Ana
Aninha
Acabo de ler uma reportagem na National Geographic, dizendo que as carvoarias proliferam na Amazônia.
E além da escravidão, ainda destroem nossa floresta.
Beijos,
Lu