Autoria de LuDiasBH
Estou sozinha, vazia e amarga,
limitada às divisas de minha pele,
enquanto o tempo passa na estrada.
No velho bar, bebo o meu pranto etílico,
observo os indivíduos de minha espécie,
todos ávidos de amor em meio ao vício.
Já na rua, com as pernas cambaleantes,
ouço o convite da cigana maltrapilha,
que insiste em me predizer a sorte:
“A vida é alomorfia de imagens e sensações.
Não se vive aquém das próprias fronteiras.
Solte-se das estrelas e olhe pros oceanos.
Bem e mal são frutos do mesmo homem.
Há mil caminhos pra um mesmo destino.
Os sonhos são as artérias da ilusão e
só o agora deve ser plenamente vivido.
A dualidade é uma característica do ser,
pois não existe harmonia no mundo.
Jamais chore por alguma paixão.”
Nada encontrei de novo em sua fala,
que pudesse amainar o doído pesar,
que ora carrego embutido na alma.
Eu continuo caminhando trôpega,
por entre cães, mágoas e mendigos,
sem um momento de paz ou calma.
Perguntei à cigana onde me encontro.
Respondeu-me que em mim mesma.
Mentira!
Nunca estive tão ausente de mim,
pois há muito se foi minha alma.
Nota: Mulata de Vestido Verde – Di Cavalcanti