A DEPRESSÃO E AS CÉLULAS CINZENTAS

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Lu Dias Carvalho

Pode-se imaginar a depressão assim: o córtex cerebral formula um pensamento abstrato negativo e consegue convencer o restante do cérebro de que esse pensamento é tão real quanto um fator de estresse físico. (Robert Sapolsky)

O aviso de perigo – real ou imaginário – faz com que reajamos a ele com mais veemência do que se recebêssemos uma informação muito afortunada, pois sempre que nos vemos ameaçados, o nosso corpo entra em sinal de alerta, alimentado pelos hormônios do estresse, como o cortisol. Ao colocarmos em segundo plano tudo aquilo que nos causa prazer, concentrando-nos em salvar a própria pele, passamos a lidar com o instinto primário de sobrevivência que nos é muito útil. Uma vez passado o perigo, a vida volta ao normal, pois não há mais motivo para se ter medo.

Na pessoa depressiva, porém, a volta aos trilhos não acontece com tanta facilidade. Não se trata mais de perceber o perigo, mas de imaginá-lo e com ele conviver um tempo sem limites, como se real fosse. E pior, ela possui a capacidade de criar detalhes elaborados sobre supostos perigos que na prática jamais virão a acontecer.

Ao remoer mil e um detalhes imaginários, o depressivo cria cenários medonhos – frutos unicamente de sua mente doentia –, passando a viver prisioneiro de si mesmo. A sua imaginação sem limites ou bom-senso acaba por torná-lo cada vez mais infeliz. Os hormônios do estresse tornam-se permanentes, vindo a fustigá-lo mais e mais.

O que se mostra como algo sem importância, totalmente irrelevante para um indivíduo sadio, transforma-se num bicho de sete cabeças para a pessoa depressiva. E quanto mais infeliz ela se torna, mais hormônios ruins são liberados por seu corpo, transformando-se num círculo vicioso que a coloca, na maioria das vezes, num quarto escuro, tornando a depressão cada vez mais aguda, se não tratada.

O biofísico Stefan Klein explica: “Quando a depressão é muito prolongada, a substância do cérebro é afetada. Em outras palavras: a depressão não apenas está associada a um desequilíbrio dos neurotransmissores como danifica as conexões permanentes entre os neurônios. Ainda ignoramos até que ponto seus estragos são reversíveis. A plasticidade do cérebro, isto é, sua capacidade de modificar-se, torna-se reduzida. Nesse sentido, a depressão é um estado de enrijecimento, pois vai minguando a nossa disposição para agir e enfrentar os desafios da vida. A melancolia então ganha consistência e consolida-se”.

Ainda segundo o biofísico, “À medida que a sensação de desesperança aumenta, degradam-se os tecidos do cérebro que se encontra constantemente inundado de hormônios do estresse, prejudiciais aos neurônios. Quando esse estado persiste por um tempo excessivo, as consequências podem ser terríveis: as células cinzentas (a substância cinzenta, matéria cinzenta ou massa cinzenta é um importante componente do sistema nervoso central. Contém o corpo celular do neurônio.) acabam se atrofiando e as faculdades mentais se reduzem progressivamente”.

Daí a necessidade de buscar ajuda médica o mais rápido possível, pois à medida que tais células voltam a desenvolver-se, os sintomas que tanto atormentam a pessoa depressiva vão aos poucos desaparecendo. A depressão é uma doença.

Nota: ilustração – Manhã, obra de Edvard Munch

Fonte de pesquisa:
A Fórmula da Felicidade – Stefan Klein – Editora Sextante

2 comentaram em “A DEPRESSÃO E AS CÉLULAS CINZENTAS

  1. Hernando Martins

    Lu

    “O cérebro é um detetive que tenta descobrir um crime que ele mesmo cometeu”

    O homem está no topo da pirâmide evolutiva, dotado de um cérebro com uma capacidade imensurável e o único das espécies que possui um prosencefalo desenvolvido. É também o único que possui mãos, por isso é chamado de humano. Tem uma mente capaz de formular conceitos e criar muitas possibilidades e mãos capazes de processar e materializar suas criações.

    Desde os primórdios, quando o homem era apenas um caçador e coletor na natureza, já havia o estresse no sentido de preservação da espécie. Quando tinha que fugir de predadores na selva, havia uma produção de cortisol, hormônio necessário para aumentar o fluxo sanguíneo e deixar os músculos em alerta, para aumentar a possibilidade de fuga. É um mecanismo inteligente que o cérebro desenvolveu para a autopreservação do ser.

    Houve muitas mudanças no estilo de vida ao longo dos milhares de anos. Hoje o homem não vive mais na selva primitiva e ,sim, na selva de pedra. Os problemas mudaram de roupagem e agravaram com a complexidade de seu estilo de vida. Podemos verificar que quando dirigimos, ficamos muito estressados com o trânsito, principalmente quando outro carro nos fecha ou cria alguma dificuldade de passagem. Produzimos o cortisol e jogamos adrenalina na corrente sanguínea para nos alertar sobre o perigo iminente, como na época primitiva, pois essa parte do cérebro primitivo continua com os mesmos reflexos de outrora, não consegue diferenciar o leão do carro, quando se conscientiza, já está estressado.

    Esta analogia é para mostrar como a mente pode nos enganar! A depressão é uma batalha interna entre emoção × razão, em que a emoção sempre ganha o jogo. O melhor remédio é o autoconhecimento como forma de nos prevenir para não entrarmos em batalhas desnecessárias, que não chegam a lugar nenhum e deixam consequência desastrosas. Conhecendo as nossas virtudes e limitações seremos capazes de evitar batalhas desnecessárias, porque nesta vida o importante é vencer a guerra e, para isso, precisamos de um cérebro equilibrado.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Hernando

      Eu sempre afirmo para os meus leitores que conhecimento é poder, pois leva a uma compreensão maior dos fatos, levando a pessoa a optar por esse ou aquele caminho com maior isenção. É exatamente aí que reside o equilíbrio de que tanto precisa nosso corpo. Quanto maior for a ignorância sobre esse ou aquele assunto, mais nos sujeitamos a ele, ou seja, nós nos tornamos seus servos. Esta compreensão e a racionalidade devem permear os mais diferentes ângulos de nossa vida. Como diz um velho e sábio ditado: “Quando a cabeça não pensa, o corpo padece”.

      Você comenta:

      “Houve muitas mudanças no estilo de vida ao longo dos milhares de anos. Hoje o homem não vive mais na selva primitiva e ,sim, na selva de pedra. Os problemas mudaram de roupagem e agravaram com a complexidade de seu estilo de vida.”

      Se o homem não tomar conhecimento disso, será engolido pela selva de pedra em que vive.

      Um grande abraço,

      Lu

      Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *