A LIBERDADE GUIANDO O POVO (Aula nº 79 B)

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Autoria de Lu Dias Carvalho                                                       (Clique na ilustração para ampliá-la.)

Abordei um tema moderno: as barricadas. E se não lutei por meu país, pelo menos terei pintado por ele. (Delacroix)

Essas pessoas do povo possuem um grande propósito, o que lhes dá dignidade e ajuda e que desperta a dignidade adormecida dentro das suas almas. (Heinrich Heine)

A composição de Delacroix intitulada A Liberdade Guiando o Povo é uma de suas mais famosas obras e a mais conhecida imagem da Revolução de Julho de 1830 em Paris, que pôs fim à monarquia dos Bourbon. O rei Carlos X, na busca por restaurar a monarquia absoluta, acabou violando a Constituição francesa, fato que levou à insurreição sangrenta do povo francês, quando lutaram homens, mulheres, jovens e crianças. Presume-se que a barricada imortalizada pelo pintor seja retratada na praça de San Antonio – a atual praça da Bastilha. Assim como esta, muitas das pinturas do artista foram inspiradas por um acontecimento político.

O quadro que tem por base um triângulo equilátero, com a bandeira tricolor francesa a tremular no alto da pirâmide. Nele existe uma mistura de realidade e fantasia. O objetivo do pintor é demonstrar a capacidade que o povo francês tem de superar suas tragédias. A cena simboliza a derrubada das barricadas pelos rebeldes republicanos, atrás das quais lutaram pessoas de diferentes estratos sociais. O povo avança destemido em direção ao observador, caminhando em meio a mortos e feridos. Apesar do número relativamente pequeno de figuras representando o povo, as nuvens de pó e pólvora ao fundo, insinuando o contorno de armas, repassam a impressão de que há uma grande multidão sendo motivada pela figura da Liberdade.

No primeiro plano encontram-se, à direita, os corpos de dois soldados mortos e, à esquerda, o corpo seminu do revolucionário tombado, trazendo uma única meia nos pés. Dois dos corpos dominam quase que inteiramente o primeiro plano. O levante não levou apenas os trabalhadores e burgueses descontentes às ruas, mas também mendigos organizados e criminosos do submundo de Paris. Alguns estudiosos do quadro justificam que a presença do homem nu na composição indica que ele teve suas vestes roubadas.

Mais acima, à esquerda, empunhando armas, encontram-se: um operário com a camisa aberta, segurando um sabre e trazendo uma arma no cinto; um burguês com chapéu de copa, casaco e gravata borboleta, segurando com força um rifle de caça; um rapazote, abaixo dos dois, de arma em punho, que parece observar o morto à sua frente. Ao fundo, um chapéu de dois bicos indica a presença de um aluno politécnico.  Alguns estudiosos acham que o burguês tem como modelo o próprio pintor que queria reafirmar seu entusiasmo liberal.

A mulher no centro com os seios nus, usando na cabeça um barrete jacobino (barrete vermelho usado na França ao tempo da primeira república), carregando as três cores da bandeira francesa e uma baioneta, simboliza a Liberdade e a França. Em tamanho bem superior ao dos demais personagens, ela se posiciona como o bem maior do povo daquele país. A bandeira, erguida por seu braço direito, simboliza a pátria francesa e o rifle a necessidade de lutar para preservar a liberdade da pátria. A cabeça voltada para trás convoca o povo a segui-la. Sua postura, assim como suas vestes, denota movimento. Seu passo é largo e decidido, significando que os rebeldes não possuíam líder, mas tinham apenas a Liberdade para guiá-los. Ela está personificada na composição como uma deusa da Antiguidade.

À frente da Liberdade, um jovem mal vestido que mais se parece com um menino, carrega duas pistolas. Ele representa a juventude francesa. O trabalhador, ajoelhado aos pés da Liberdade, traz nas roupas as mesmas cores da bandeira. Ao fundo, à esquerda, é possível ver uma bandeira, já aos farrapos, tremulando. À direita, também em segundo plano, ainda é possível ver uma parte da catedral de Nostradamus com a bandeira francesa em meio à fumaça pardacenta que vai se espalhando e o clarão dos tiros.

As cores predominantes na composição são o branco, o vermelho e o azul – cores da bandeira do país. O vermelho da bandeira está pintado sobre uma parte do céu azul, o que torna o tom ainda mais vibrante. Delacroix demonstra sua destreza no domínio do claro-escuro na obra.

A pintura denominada A Liberdade Guiando o Povo incluía-se entre os mais de 40 quadros expostos no Salão parisiense que tinham por tema “os dias de glória”, ou seja, a vitória dos rebeldes.  Esta composição foi muito aclamada pela crítica e pelo público, levando Delacroix a ganhar a Cruz da Legião de Honra.

Curiosidades:

  • Os artistas românticos estavam exigindo liberdade na arte, na vida cotidiana e na política. No entanto, poucos foram para às barricadas em 28 de julho de 1830. A maioria deles ficou em casa, sob os mais diversos pretextos. Jornalistas liberais também escreveram proclamações incendiárias contra a arbitrariedade do Estado, na segurança de seus escritórios, mas eles não eram homens de ação, apenas de palavras. No entanto, os jovens românticos ouviram os artistas e os jornalistas e estavam entusiasmados e dispostos a lutar e a morrer. Dos 1.800 rebeldes mortos, a maioria era de jovens. O escritor romântico Victor Hugo ergueu-lhes um monumento em seu romance Os Miseráveis, 1862. Talvez o escritor tenha se inspirado no quadro de Delacroix – uma tela de força arrebatadora e de claro compromisso político – que se tornou uma obra fundamental do romantismo francês. (Taschen)
  • Presume-se que a postura da Liberdade (mulher) tenha servido de inspiração para o escultor francês Frédéric-Auguste Bartholdi, ao desenhar a Estátua da Liberdade, um presente da França para os Estados Unidos – nos anos de 1880.

Ficha técnica
Ano: 1830
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 260 x 325 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa
Delacroix/ Coleção Folha
Delacroix/ Abril Coleções
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
Los secretos de las obras de arte/ Taschen

6 comentaram em “A LIBERDADE GUIANDO O POVO (Aula nº 79 B)

  1. Marinalva Autor do post

    Lu
    O pintor Delacroix pintou com maestria uma cena histórica da época, retratando suas ideias livremente, com emoção, paixão e drama. Mostra a realidade com boa dose de fantasia. Usa com maestria a técnica do claro/escuro, numa combinação harmônica e perfeita das cores. É um trabalho que impressiona e que leva o observador à compreensão imediata do significado de sua simbologia. Uma perfeição desse pintor espetacular do Romantismo francês.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Marinalva

      Esta é uma das obras-primas do pintor Delacroix e do estilo Romântico. Não há quem não se curve diante deste quadro cheio de paixão e drama, como bem escreve você.

      Abraços,

      Lu

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  2. Hernando Martins

    Lu

    Que obra grandiosa essa do pintor francês, Eugene Delacroix. Ela é o ícone do romantismo francês pela sua sensibilidade e realismo na retratação dos acontecimentos da época, muito importantes com referência universal para outros povos. Interessante é a predominância do tom marrom, com um pouco de azul do céu, e a bandeira francesa (azul,branca e vermelha) em evidência. A mulher operária lidera o movimento revolucionário, simbolizando a liberdade, com a presença de corpos mutilados e outros ausentes de vida. Nesse período a França encontrava se em conflitos permanentes em virtude da situação caótica que vivia seu povo, especificamente a classe baixa, o povo pobre e oprimido. Sabemos,que a liberdade geralmente não vem de graça, ela é conquistada diariamente. Muitas vezes para se conseguir a paz é necessário ir para a guerra enfrentar as batalhas.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Hernando

      Esta pintura é um realmente um ícone para o povo francês, povo esse que sempre lutou em prol da liberdade, um exemplo para todas as nações, como bem afirma você. Enquanto isso, em pleno século XXI vemos tiranos fazer o que bem querem de uma grande nação, cujo povo cruza os braços, aceitando todas as imposições.

      Abraços,

      Lu

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  3. Adevaldo R. Souza

    Lu

    A LIBERDADE GUIANDO O POVO – significante obra de Eugène Delacroix, expressando em suas pinceladas a importância das cores em uma visão romântica. Interessante o fato de a liberdade ser representada por uma figura feminina, numa época em que as mulheres ainda não podiam exercer cargos públicos ou o direito do voto. Curiosamente o artista não sofreu críticas à época por esse motivo, talvez prevendo o surgimento de várias líderes femininas após a queda do rei francês Carlos X.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Adevaldo

      O povo francês sempre se destacou na luta pela liberdade, como prova esta belíssima obra de Delacroix, uma das mais representativas do estilo Romântico. A Liberdade é simbolizada pela figura de uma mulher numa alusão à figura da mãe. A Liberdade é vista aqui como a mãe do povo francês. Realmente trata-se um passo muito importante em relação aos direitos da mulher, ao colocá-la em evidência.

      Abraços,

      Lu

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