Autoria de LuDiasBH
A maluca penetrou na saleta rezando,
mas nenhum deles lhe voltou o rosto.
O embeleco continuou mais animado
entre a fogosa rapariga e o tal moço.
Sua doença não tem mais relevância.
A família já não procura tratamento.
Os pensamentos dela são voltívolos,
como folhas mortas jogadas ao vento.
Sua demência expande-se a cada dia,
e o raciocínio em areia se desmancha.
nada do que ela apalavra tem sentido,
embora exteriorize forças estranhas.
Não carrega mais mentiras escondidas,
tampouco suas certezas estão expostas.
O verbo da doidice, pela louca expelido,
é ora tido por todos como letra morta.
Sua palavra é repelida no nascedouro,
antes mesmo de ser por ela proferida.
Ninguém supõe que em sua louquice,
possa encontrar sabedoria escondida.
Agora ela é feiticeira, sibila e pitonisa,
que entrevê o destino de cada homem,
desvendando suas mentiras e ardilezas,
exteriorizando as verdades sem nome.
A rapariga transmutou-se em desejos.
O moço, sôfrego, abocanhou seus seios.
A louca, de soslaio, rosnou entre dentes:
– Irmãzinha, você deveria ter receios!
Nenhum dos amantes deu-lhe atenção.
A demente continuou falando sozinha:
– Este varão maledicente é esposado,
mas faz de minha irmã sua putinha!
Nota: Obra do pintor russo Wallily Kandinsky
Lu,
Esta sua poesia, inusitada, é absolutamente arrebatadora. Muito bem bolada e melhor ainda construída. Parabéns! Vai ver, a louca nem tanto é. Verdadeira, talvez. Expor realidades, pode significar insanidade. Pena, não?!
Abração, Alfredo Domingos.
Alf
Não seria a loucura uma maneira de fugir das agruras que vemos acontecer na vida?
Penso que seja o que acontece com as pessoas extremamente sensíveis.
Existem pessoas que não aceitam ouvir verdades, pois se colocam acima delas.
É realmente uma pena.
Abraços,
Lu