Autoria de LuDiasBH
Um vento gélido adentra pela janela de minha alma,
embora lá fora o céu quede-se azulzinho como safira.
Folhas secas esparramam-se pelo chão. Desencanto.
O sol douro segue justo no seu trajeto. Despropósito.
É inverno lá fora e invernia no meu coração em luto.
O flanco da sinuosa montanha foi engolido pelo surto.
Árvores e mais árvores tombam pra dar lugar ao luxo.
Os arranha-céus vão tomando forma e engolindo tudo.
As argentárias construtoras, ávidas, computam o lucro.
O meio ambiente tudo pranteia, impotente e mudo.
O bicho homem destrói a vida em todas as suas formas.
Vindima a amizade, mata ou debilita o companheirismo,
violenta sua espécie ou lhe ajeita, maldito, sua cova rasa,
dizima florestas, bichos, rios e ainda envenena as águas.
Destrói a esperança. É besta fera. Fera macabra.
E, assim, grandes nacos são tirados da Serra do Curral.
O cimento engole o flexível verde e cospe dureza bruta.
A Serra se contorce em dor e agonia, vertendo sangue,
mas a sensibilidade entorpecida esconde a torpeza da
alma humana, carcomida pela voracidade estúpida.
Pudera eu, na vida, ter podido nascer flor de vida curta,
ou inda mesmo folhagem de textura frágil e vida breve,
ou um galho que se languesce e lasca no seco inverno,
ou tosco tronco amargoso e áspero de cascas grossas,
para que minha alma, desta dor, esvair-se possa…
Quiçá pudesse eu ter nascido entidade de mata virgem,
versada nos segredos das estrelas e da argentada lua, e
tivesse por mestres o sol, o murmúrio das águas, o olor
das plantas, o canto das aves e a brancura das nuvens.
Mas nasci gente! Quão dolorosa é a minha dor.
Lu
Sua poesia tem tema pra lá de oportuno. Antes, porém, é muito bem feita. Além do todo, aproveitei o trecho “um galho que se languesce e lasca no seco inverno”. Lembrei-me, então, de um comentário radiofônico sobre a escassez da garoa paulistana. O analista culpava o aquecimento da cidade, principalmente devido às edificações, pela falta do chuvisco, tradicional em tempos atrás, que chegou a denominar São Paulo.
Tudo isso tem a ver com a questão ambiental tão desprezada.
Meus cumprimentos pelo relato em forma de poesia.
Abraço,
Alfredo Domingos.
Alf
Dá pena ver tanta beleza dizimada, para dar lugar a prédios de luxo, de alto padrão.
É verdade, São Paulo deixou de ser a terra da garoa.
E tudo está ligado ao lucro… em detrimento da natureza.
Obrigada pelo elogio.
Abraços,
Lu