A TEORIA DO “INSTANTE DECISIVO”

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Autoria de Lu Dias Carvalho ind.1

O homem que fotografou a eternidade (Sartre sobre HCB)

Fotografia de Henri Cartier-Bresson, 1932, feita na Praça Europa, Paris, França, também conhecida como Atrás da Estação de Saint-Lazare, que mostra exatamente o momento em que um homem dá um salto sobre uma área alagada. Ele ainda se encontra no ar.

O fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004) começou seu trabalho como pintor, vindo a publicar seu primeiro trabalho fotográfico em 1932, foi também assistente do cineasta Jean Renoir (filho do pintor Renoir). Por ocasião da Segunda Guerra Mundial, ele foi convocado pelo exército francês para cobri-la, mas acabou caindo nas mãos dos nazistas. Depois de ficar 3 anos preso, após duas frustradas tentativas de fuga, acabou conseguindo lograr seu intento. Continuou no seu trabalho de fotógrafo até 1970, viajando e fotografando vários lugares do mundo, quando então retornou à pintura, nela permanecendo até sua morte. Cézanne era um dos seus pintores prediletos e na literatura admirava Proust.

Henri Cartier-Bresson foi um fotógrafo incansável, com um faro incomum para os acontecimentos, o que o levou a várias partes do planeta. Ele tinha o que chamamos de sexto sentido para captar um momento único, numa fração de segundos. Esse momento foi definido por ele como o “instante decisivo”.

Muitos livros mostrando o trabalho de Henri Cartier-Bresson já foram lançados, sendo o mais famoso deles “Images à la Sauvette”, publicado em língua inglesa com o nome de “The Decisive Moment”.

Uma curiosidade sobre Henri Cartier-Bresson: ele detestava ser fotografado. Sua imagem só foi capturada em raríssimas ocasiões.

O instante decisivo
(Artigo de Henri Cartier Bresson)

Na fotografia existe um novo tipo de plasticidade, produto das linhas instantâneas tecidas pelo movimento do objeto. O fotógrafo trabalha em uníssono com o movimento, como se este fosse o desdobramento natural da forma, como a vida se revela. No entanto, dentro do movimento existe um instante no qual todos os elementos que se movem ficam em equilíbrio. A fotografia deve intervir neste instante, tornando o equilíbrio imóvel.

O olhar do fotógrafo está constantemente avaliando. Um fotógrafo pode captar a coincidência de linhas simplesmente ao mover a cabeça uma fração de milímetro. Pode modificar a perspectiva com um leve dobrar de joelhos. Ao colocar a câmara próxima ou distante do objeto, o fotógrafo pode desenhar um detalhe – ao qual toda a imagem  pode ficar subordinada ou ainda que tiranize quem faz a foto. De qualquer modo, o fotógrafo compõe a foto praticamente na mesma duração de tempo que leva para apertar o disparador, na velocidade de um ato reflexo.

Algumas vezes acontece de o fotógrafo paralisar, atrasar, esperar para que a cena aconteça. Outras vezes, há a intuição de que todos os elementos da foto estão lá, exceto por um pequeno detalhe. Mas que detalhe? Talvez alguém repentinamente entrando no enquadramento do visor. O fotógrafo, então, acompanha seu movimento através da câmara. Espera, espera e espera, até que finalmente aperta o botão – e então sai com a sensação de que captou algo (embora não saiba exatamente o quê).

Mais tarde, no laboratório, ele faz uma ampliação da foto e procura nela as figuras geométricas que aparecem à análise e o fotógrafo se dá conta, então, de que a foto foi feita no instante decisivo. O fotógrafo instintivamente fixou um padrão geométrico sem o qual a foto estaria sem forma e sem vida.

A composição deve ser uma das preocupações do fotógrafo, mas no ato de fotografar isto só acontece a partir da sua intuição, já que ele está ali para captar o momento fugidio e todas as relações dos elementos que compõem a cena estão em movimento.

Ao aplicar a “Regra dos Terços”, o único compasso que o fotógrafo tem são seus próprios olhos. Qualquer análise geométrica, qualquer redução da foto a um esquema, só pode ser feita – pela sua própria natureza – depois que a foto já foi tirada, revelada e ampliada. E aí, ela só pode ser usada para um exame “post-mortem” da cena.

Espero nunca ver o dia em que as lojas de equipamentos fotográficos vendam esquemas geométricos para colocarmos nos visores de nossas câmaras; ou a “Regra dos Terços” colada nos nossos óculos. Se um fotógrafo começa a cortar uma boa foto, isto representa a morte à correta relação geométrica das proporções entre os elementos que compõem a imagem. Além do que, raramente ocorre de uma má foto, que tenha sido mal composta, seja salva pela reconstrução de sua composição no laboratório, pois a integridade da visão do fotógrafo não estará mais lá. Há muita conversa sobre os ângulos da câmara, mas os únicos ângulos válidos existentes são os ângulos da geometria da composição e não naqueles fabricados pelo fotógrafo que se deita no chão, ou coisa que o valha, para encontrar seu enquadramento.

Nota: Tradução livre e informal do inglês por Paulo Thiago de Mello de trecho do livro The Decisive Moment, New York, 1952. Copyright 1952 Cartier Bresson, Verve and Simon and Schuster.

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