Antonello da Messina – SÃO JERÔNIMO EM SEU GABINETE

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Lu Dias Carvalho

O quadro São Jerônimo, obra do pintor italiano Antonello da Messina, encontra-se entre as suas obras mais admiradas, podendo ser notada a preocupação que o pintor tinha com a profundidade da composição.

O quadro mostra as partes de uma edificação sagrada, com todos os atributos de uma igreja, tendo São Jerônimo, ainda jovem, sentado ereto e distante do espaldar da cadeira, com um livro às mãos, como a única figura humana presente na composição. Trata-se de uma obra de arquitetura austera que é equilibrada com a figura central de São Jerônimo em meio a seus livros, rodeado por animais e plantas e também pela paisagem que se vê através das janelas.

Em primeiro plano o observador depara-se com um arco de pedra que emoldura a maior parte da composição, elemento influenciado pela pintura flamenga. Um piso de azulejos, cujas linhas afluem à distância, tem por objetivo intensificar a profundidade por meio da perspectiva, técnica muito comum empregada no Renascimento. Uma grande nave vem a seguir, onde se encontra o local de trabalho do santo. À direita e à esquerda desta, os olhos do observador caminham por espaços abobadados, passando pelas janelas e adentrando numa imensa paisagem semelhante à de Messina. O pintor realçou o tamanho e a largura do espaço com o uso da luz e da sombra.

Antonello coloca as mãos de São Jerônimo e o livro exatamente no ponto em que as linhas dos azulejos centrais possivelmente convergiriam, se não encontrassem uma obstrução na perspectiva central. Para lá também afluem as diagonais das janelas, colocando em destaque o estudo do santo. Proporcionalmente ao tamanho do quadro, o santo é bem pequeno, o que parece distanciá-lo ainda mais do observador. Em primeiro plano destacam-se o muro exterior, depois o espaço com os azulejos e a cela dentro, vindo o santo a seguir. Na prateleira superior da pintura é possível divisar os vasos de cerâmica de procedência holandesa.

O estúdio visto na obra de Antonello traz as características do estilo flamengo, numa exuberância de pormenores, características da escola do norte, onde tudo se encontra modelado com perfeição: plantas, recipientes, caixas, livros (em pé ou deitados), pano, dedos entre as folhas do livro, etc. Contudo, os vãos nas laterais direita e esquerda da composição correlacionam com o ideal do renascimento italiano. Portanto, o artista une duas diferentes tendências estilísticas em sua composição.

São Jerônimo traz na sua simbologia a figura de um leão, sendo muitas vezes representado a curar a ferida desse animal, ou o tendo sentado perto de sua mesa de leitura. Porém, no quadro de Antonello o animal encontra-se distante do santo, no espaço vazio às suas costas, com uma das pernas levantadas, na qual se encontra a pata ferida.

No quadro são vistos quatro tipos de animais em destaque: leão, gato, perdiz e pavão-real. Além desses, através de uma das janelas, é possível ver outras aves e dois cavalos. O leão faz parte da lenda e o gato pode representar o guardador dos livros, ao devorar os ratos que os roem. Não é possível decifrar com precisão a simbologia da perdiz e do pavão-real. Seria o último a lembrança do paraíso ou o símbolo da vaidade, embora não esteja com a cauda aberta? A vasilha à sua frente significaria uma fonte batismal, capaz de limpar todos os pecados?

O artista elaborou com esmero a vista que se descortina através das janelas: à esquerda, vê-se uma cidade, onde algumas pessoas remam, outras montam a cavalo e passeiam, árvores, flores, edifícios, montanhas e muralhas, enquanto à direita, existem apenas árvores e montes, um possível contraste entre a cidade e o campo, entre a diversão e o isolamento. São Jerônimo via nas cidades a perdição da alma e no campo a salvação. E, como o simbolismo religioso estava presente na pintura da época, a parte direita da composição pode estar representando a morada do Espírito Santo e a da esquerda a da perdição. O que significa que o santo encontra-se entre Deus e o diabo, entre o bem e o mal.

Ficha técnica
Ano: entre 1460 e 1475
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 46 x 36,5 cm
Localização: National Gallery de Londres, Grã-Bretanha

Fontes de pesquisa
Los secretos de las obras de arte/ Taschen
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
Arte/ Publifolha

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *