Autoria de LuDiasBH
Eu me levanto bem cedo,
ainda ao raiar da aurora.
O orvalho da madrugada,
nas lâmpadas inda chora.
Transito ágil feito menino,
pra pegar um ônibus cheio.
Aperto-me entre as pessoas,
carregado de sono e anseio.
Na obra entrego-me ao ofício.
Arrisco-me fazendo a proteção,
levanto andaimes, faço o bolo,
varo pregos pra “paginação”.
Carrego no corpo mil mãos,
de tudo fazendo um pouco:
sovo massa, espalho reboco,
boto janelas, portas e vãos.
Músculos torturados pelo eito.
Pulmões pelo cimento atrofiados.
Mãos calejadas de sangue negro,
tatuadas pela colher de pedreiro.
Numa sacola de plástico fosco,
carrego sem desprezo a matula,
o invariável “rango” de todo dia:
feijão, arroz, macarrão e ovo.
EU sou o operário da vida.
O barro que esculpiu Adão.
O verdadeiro filho da Terra.
O artífice das construções.
Que dá forma ao que toca,
e que dá vida ao que talha,
levanta casas pros outros,
e pra si levanta choças.
Viverei eternamente nas obras
que agora me consomem, inda
que a posteridade jamais saiba,
deste operário o pobre nome.
Eu serei como os escravos, que
continuam vivos nas pirâmides,
quando, há muito tempo, Gaia
já desintegrou seus faraós.
Sou o filho da gentil mãe Terra,
que todos os dias feliz a acaricia,
com suas mãos rudes e calejadas,
e, que um dia se agregará a ela.
Certamente se lembrará de mim,
e me dará um naco de seu torrão,
onde possa adormecer os ossos,
bem coladinhos a seu coração.
Nota: Segunda Classe, obra de Tarsila do Amaral
Lu,
aos trabalhadores nossos eternos agradecimentos e aplausos.
Beijos
Pat
Eles merecem todo o nosso aplauso, é verdade.
Abraços,
Lu
Perfeito! Digno de uma grande poetisa! Digno de ser musicado!
Segue um abaixo um poema musicado pelo mineiríssimo Zé Geraldo:
Momento que aponta e revela
a cor da poesia
Ainda resta um pedaço da noite
Teimosa empurrando a barra do dia
Já se ouve os primeiros pardais
afinando a orquestra
É o início do dia de dor e de festa
Retrato inverso da Ave Maria
E eu prometo aderir ao sistema
Olhar a vitrine, o cartaz do cinema
Trocar minhas rugas de preocupações
pelo céu de Ipanema
Prometo viver a intenção do passado
Manter este corpo faceiro ao meu lado
O ar de menina sapeca e levada
do cabelo molhado
Falta pouco pra seis horas da manhã
É gente correndo atrás do destino e da compensação
Daqui a pouco são seis horas da manhã
Cada um no seu canto
vivendo do canto,
do acordo e do não
E eu prometo aviar a receita
do bolo da sorte, da boa colheita
Matar a angústia dessa juventude
Tão insatisfeita
Prometo trilhar o caminho mais certo
Cidadão comportado
ordeiro e correto
Dividir minha cama com a mulher amada
no momento deserto.
Ju
O Zé Geraldo é mesmo um CIDADÃO (letra de Lúcio Barbosa), comprometido com seu povo, ao contrário dos RCs da vida.
Esta música é um verdadeiro poema.
Você é a segunda pessoa a me dizer que deveria mandar musicar meu poema.
Talvez alguém o encontre aqui e o faça.
Obrigada pelo carinho,
Lu
O nariz de cera “todo trabalho é digno” é a maior verdade.
Se tão poucos, em relação aos parasitas sociais, fizeram tanto, já pensou se pelo menos fossem valorizados enquanto viveram ? Os operários da construção sempre são lembrados, quando se fala de Trabalho…Por quê? Foram eles que deram vida à criatividade dos engenheiros e arquitetos de todos os tempos… É só olhar em torno das cidadelas, cidades, marcos da civilização: em tudo, misturado à argamassa o fluido vital dos trabalhadores anônimos.
Ai daqueles que nada fazem, exploram outros seres, impedem o sonho, o crescimento, a prosperidade! Ai dos corruptos metendo a mão no PIB das nações…
Um reconhecimento às mulheres que ficaram na retaguarda do Progresso, cuidando dos seus lares, filhos, maridos e que o feminismo do século passado tratou como “objeto de cama e mesa”, inferiorizando-as ou lançando-as na luta inglória da dupla, tripla jornada de trabalho, sem o devido preparo e as novas condições da mulher século XXI. Que o trabalho doméstico, ao longo dos séculos, seja valorizado. Que esse feminismo que se tornou “Gênero”, “Chapa Branca” cuide de uma aposentadoria digna para aquelas que forneceram (e fornecem) os recursos humanos para a nação, sem deixarem suas casas, abrindo mão se seus talentos e projetos.
Na cadeia da produção, que todos, inclusive os animais de tração, a laboriosa abelha, o bicho-da-deda, as forças da Natureza, de Gaia sejam lembrados. Inclusive os operários da informação, da notícia… poetas, escritores, professores. Enfim, TODOS! Menos os que exploram o trabalho alheio na tentativa falsa, gananciosa de acumular bens e poder. Que hoje nos lembremos que atrás de toda grande fortuna, há sangue, saque, roubo, no início da sua origem.
Abraços e ternura a Todos os trabalhadores! Nenhuma serragem, só compaixão. O pior ao coração dos escravocratas modernos, ditadores, corruptos, executivos executores de si mesmos, “espertos” … representando, infelizmente,os que trabalham.
Muito bom o seu poema, LU! Desculpe o tamanho do comentário. Preciso ser mais Web. É uma obra de caridade ser mais concisa num dia de 16 horas e não mais 24….
Glória
O que dizer diante de um comentário tão brilhante, a não ser concordar com tudo e repetir consigo:
“Ai daqueles que nada fazem, exploram outros seres, impedem o sonho, o crescimento, a prosperidade! Ai dos corruptos metendo a mão no PIB das nações…”
Beijos,
Lu
LuDias
Toda a produção é sustentada pelo trabalho. Mesmo hoje, com o advento de máquinas, os trabalhadores são insubstituíveis. Estarão sempre na base que promove toda a produção. Sem eles, não teríamos alimentos e sequer lugar para morar. Sem eles, não teríamos água e energia. Tudo está enraizado no trabalho para que a árvore do progresso humano possa existir.
Dou e sempre darei ao trabalhador – sempre fui um deles – máxime os que desempenham os trabalhos mais humildes – pois basta um dia de greve de garis para se ver o quanto a sociedade paga o preço deste trabalho simples, mas importante para todos, inclusive para a própria saúde pública.
Hoje é O Dia do Trabalho para que possamos refletir e muito sobre a importância dos trabalhadores. Não podemos voltar a viver o tempo da escravidão, o tempo da Idade Média, embora, infelizmente, isto exista entre nós, embora em situação bem melhor que algum tempo atrás.
Viva o trabalhador!
Parabéns pelos seus versos que nos mostram o valor extraordinário do trabalhador, renito, principalmente, os que executam os mais humildes labores.
Ed
Os trabalhadores são a mola mestra da Terra.
Sem eles, nada iria adiante.
Estão à frente de tudo, em todos os campos.
Todo país precisa valorizar seus trabalhadores, se quiser progredir.
Grande abraço,
Lu
Lindo, lindo!
Amei o poema. E mais:
“Viverei eternamente nas obras
que agora me consomem, inda
que a posteridade jamais saiba,
deste operário o pobre nome.”
TT
Quanta saudade!
Fico muito feliz sempre que a vejo por aqui.
E muitas são as suas obras, menina…
Abraços,
Lu