AS BALSEIRAS DO RIO AMAZONAS

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Autoria de Lu Dias Carvalho

balseiras

Na década de 1940, quando a madeira passou a ser a principal força econômica de algumas áreas, o hábito das ribeirinhas de sair em canoas para pedir aos passageiros de barcos de grande porte algum presente intensificou o complexo mundo das trocas de mercadorias por relações afetivas. As teias e os sentidos desses comportamentos não são facilmente identificáveis. (Agenor Sarraf Pacheco)

 Os cargueiros cruzam diariamente a bacia amazônica, e alguns de seus tripulantes aproveitam para trocar óleo diesel por dinheiro e alimentos com os ribeirinhos. Nas trocas também pode entrar o contato íntimo com as mulheres, moradoras das margens dos rios.

Não é fácil a vida dos ribeirinhos, que vivem praticamente da venda de açaí, mas, quando chega a estação das chuvas, no final do ano, período que eles chamam de inverno, as palmeiras cessam de produzir o fruto tão necessário à vida daquela gente. É a época em que muitos se dedicam ao comércio ilícito de óleo diesel, tão necessário para alimentar os geradores e produzir eletricidade, numa região tão esquecida pelos governantes deste país, principalmente os responsáveis pelo destino de cada Estado, onde vivem os ribeirinhos.

As balseiras são as mulheres que navegam pelos rios da bacia amazônica, em seus rústicos barcos, vendendo açaí, camarão, tapioca e refrigerantes para os cargueiros. Elas ancoram suas canoas próximas aos cargueiros e sobem neles. Muitas delas deixam as embarcações com uma semente plantada no ventre, e nas mãos trazem insignificantes presentes. Essa relação não é vista como prostituição, mas como necessária ou tolerável, como se fizesse parte da vida silenciosa daquelas mulheres no seu universo tão solitário e cheio de necessidades. O fato é visto com tanta naturalidade que, em certas famílias, é possível encontrar três gerações de mulheres vivendo desse trabalho.

A “Lenda do Boto” é conhecida em toda a região amazônica. Ela narra que o boto deixa o rio para seduzir as jovens e, após engravidá-las, volta para as águas de onde saiu. Os filhos gerados passam a ser os filhos do boto. Os homens que vêm nos navios cargueiros, assim como o boto, exercem certa magia nas mulheres ribeirinhas, as balseiras, que sonham com uma vida diferente da que levam ali. Elas querem que um “príncipe encantado” leve-as para longe, onde possam ter uma vida sem tanto sofrimento. E os filhos gerados através deles, passam, de certa forma, a ser também filhos do boto ou filhos do rio, uma vez que a maioria deles jamais conhecerá o pai.

É principalmente a esperança de uma vida melhor que leva as balseiras a buscarem um relacionamento amoroso nos cargueiros de linha. Com o tempo, os tripulantes vão se tornando conhecidos, de modo que cada mulher sabe qual é o seu homem. Enquanto ele estiver na área onde ela vive, terá que se manter fiel. Existem também aqueles, que passam por ali esporadicamente, portanto, não há cobranças de fidelidade nas relações amorosas.

É nesse vai e vem pelos rios da bacia amazônica, que crianças nascem, sem conhecer o próprio pai, sendo muitas delas de uma mesma mãe, mas de pais diferentes. Tomara Deus que um dia as coisas mudem, e que essa realidade tão penosa venha a se tornar apenas uma lenda. A lenda das balseiras da Região Norte brasileira.

Fonte de pesquisa:
Revista National Geographic/ Novembro de 2012

Nota: Imagem copiada de viajeaqui.abril.com.br

3 comentaram em “AS BALSEIRAS DO RIO AMAZONAS

  1. Beto

    Lu,

    A exploração de mulheres de regiões carentes, algumas ainda adolescentes, ocorre em várias regiões do país, inclusive nas periferias dos grandes centros urbanos. É só percorrer certas estradas, onde meninas se oferecem aos viajantes, às vezes só a troco de um prato de comida. A diferença é que na Amazônia, as estradas são os rios e os “caminhões”, os barcos. Porém as causas do problema da exploração das mulheres carentes são as mesmas de norte a sul desse nosso país continente, que todos conhecemos.

    Considero que de todas as regiões que conheço, a situação das relações entre homens e mulheres na Região Norte é a mais complexa. Existe ainda uma forte influência cultural que por séculos norteia a vida dos povos da Amazônia – inclusive os que vivem nas cidades implantadas em plena selva – e que, aos poucos, começamos entender quando temos a oportunidades de conversar com eles e observar de perto os seus hábitos, filosofia de vida, etc. E o seu texto reflete essa realidade quando menciona que “Essa relação não é vista como prostituição, mas como necessária ou tolerável, como se fizesse parte da vida silenciosa daquelas mulheres no seu universo tão solitário e cheio de necessidades.”

    É mesmo difícil de entender e avaliar à distância, somente através das mídias disponíveis e seus “filtros” direcionados para os mais variados interesses.

    Parabéns pelo texto.

    Abraços,

    Beto

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  2. Edward Chaddad

    Desconhecia essa situação.
    É realmente um drama que teria de ser divulgado, tratando-se, mais uma vez, de exploração de mulheres, que ficam indefesas ao machismo, onde o homem imagina que não tem limites em relação à mulher.
    Gostei muito desta matéria, onde revela, mais uma vez, que a situação da mulher ainda continua, em nosso País, em algumas regiões, muito mal protegida.

    Parabéns!

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Ed

      É realmente uma situação muito triste a das balseiras do Amazonas.
      A vida não é fácil para aquelas mulheres.
      Possuem, geralmente, um número de filhos muito grande.
      A luta para criá-los não é fácil, ainda mais sem a ajuda do pai.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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