Dalí – A MADONA DE PORT LLIGAT

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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A sua mostra de catolicismo parece aos olhos de todos uma verdadeira brincadeira. Ninguém crê, ninguém pode crer que haja um grão de sinceridade religiosa nas suas abordagens à Santa Igreja Romana. (Edward James em carta a Dalí)

É como se um caixeiro viajante que oferece sempre ‘nus artísticos’ tenha, improvisadamente, mudado a sua mercadoria para santinhos em miniatura. (Osbert Lancaster)

Após regressarem dos Estados Unidos, em 1948, Dalí e Gala foram morar em Port Lligat, no litoral da Catalunha, onde o casal encontrou-se pela primeira vez. Foi nessa época que, levando em conta a invenção da fotografia instantânea, o pintor concluiu que a pintura moderna estava antiquada, só havendo uma maneira de ela continua existindo: a volta ao uso da técnica usada pelos grandes mestres do Renascimento.

Na sua composição A Madona de Port Lligat, cujo estilo foi denominado de “místico-nuclear”, Dalí, impressionado com as descobertas científicas, principalmente no campo da física nuclear e da energia atômica, tentou recriar a fissão nuclear desmaterializando figuras e objetos, que vagueiam no espaço, demonstrando a inexistência de gravidade e a divisão da matéria.

A Madona de Port Lligat é um quadro gigantesco em que Gala, figura central, serve de modelo para a Virgem Maria, sob um arco. Com as mãos em posição de prece, ela observa o Menino Jesus levitando em seu colo, com a cabecinha baixa e os braços abertos. Tanto o tronco da Virgem Maria quanto o de Jesus estão ocos, sendo possível enxergar a linha do horizonte através deles. No tronco do Menino também flutua o pão da Eucaristia. De uma enorme concha, acima da cabeça da Virgem, desce um fio que segura um ovo, e divide o quadro em duas partes iguais, de modo que o Menino e o pão situam-se exatamente no centro da composição.

Na cena, quase todas as coisas são flutuantes, como comprovam as sombras abaixo delas, como se tudo acontecesse em outro plano. Dalí funde religião, ciência e arte. O altar, feito de um pesado móvel que também flutua, tem sobre si elementos terrenos, que permanecem imóveis: banda de um ouriço-do-mar, flor de amendoeira, pano, oliva, peixe e cesto de pão. Como nos quadros renascentistas, Dalí apresenta em sua composição vários símbolos religiosos: o peixe, que simboliza o cristianismo; o fruto de oliveira que simboliza a perseverança; o meio ouriço que é uma alusão à concha do peregrino.

A grande concha acima da cabeça da Virgem tanto pode estar ligada à pia batismal como pode aludir à fertilidade feminina. O ovo simboliza a origem da vida, o mundo e a perfeição. Pode representar, também, o renascimento de Dalí como pintor. Duas noivas levitantes também possuem o rosto de Gala. Três sépias (uma espécie de molusco) também têm a forma de Gala, como anjos. O rinoceronte tanto pode ser uma alusão ao unicórnio, que simboliza a pureza e a força, só podendo ser tocado por uma virgem, como a seu chifre, elemento fálico. Outros detalhes são elementos constantes na pintura de Dalí. A paisagem refere-se à baía de Por Lligat. Gala, ao representar o papel da Virgem Maria, simboliza a esposa, companheira, musa e salvadora do pintor.

O quadro menor trata-se da primeira versão do quadro em que a Madona de Por Lligat (1949) encontra-se dentro de um espaço renascentista. Tudo se encontra em estado de desintegração por falta de gravidade. A concha e o ovo simbolizam a origem da vida. Na tela estão reunidos elementos clássicos, místicos e atômicos.

Ficha técnica
Ano: 1950
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 366 x 244 cm
Localização: Fukuoka Art Museum, Fukuoka, Japão

Fontes de pesquisa
Dalí/ Coleção Folha
Dalí/ Abril Coleções
Dalí/ Coleção Girassol

6 comentaram em “Dalí – A MADONA DE PORT LLIGAT

  1. Patricia

    Oi, Lu!
    Linda esta pintura. É flutuante, leve.
    Talvez no momento desta pintura Dalí estivesse livre de suas neuroses… rsrsr.
    Beijos

    Responder
  2. Pedro Rui

    Olá Lu, as obras que não conhecia são excelentes; houve um comentário de que possivelmente o papa não devia ter aceito. A obra é um pouco excêntrica, a religião católica possivelmente não aceitou, por esse motivo, Dalí é um desenhista maravilhoso e suas obras não passam despercebidas.
    Cumprimentos Lu
    Rui Sofia

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Rui

      Dalí era mesmo um grande desenhista.
      Suas obras eram perfeitas.
      É sempre muito bom conhecer um pouco da história desses homens.

      Grande abraço,

      Lu

      Responder
  3. LuDiasBH Autor do post

    Mário

    Procure não ignorar os fatos, por admirar Dalí.

    Ele nunca foi homem de agradar ninguém, porque não se preocupava com o pensar dos outros.
    Ao contrário, como narcisista que era, tinha o ego muito inflado.
    Dalí passava de um estilo para outro na maior facilidade.
    Quando tomou conhecimento da teoria atômica, ele se sentiu mexido.
    Também voltou-se para a religião, inclusive denunciando seu amigo Buñel que era ateu. Eles se tornaram inimigos.
    Visitou o papa duas vezes, uma delas na companhia de Gala.

    O Cristo de São João da Cruz é uma de suas obras mais lindas.
    Já está pronto para ser mostrado.
    Era um gênio, sim, mas não tão adiantado como pensa.
    Nada fez em prol da humanidade, mas só de si.
    Bajulava os ricos para ser aceito, como fez em Hollywood.
    Verá a diferença em Picasso.

    Abraços,

    Lu

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  4. Mário Mendonça

    Lu Dias
    Acho que ele fez esta obra para agradar alguém e alguns que andavam descontentes com suas extravagâncias (a primeira, dizem que foi enviada ao Papa, será? E a segunda, foi? Se foi será que o Papa aprovou?) Existem muitas diferenças entre a primeira e a segunda. Chego a pensar que ele se arrependeu da primeira versão.

    Beleza todo mundo gostou, e pergunto: Será que ele mudou um pouquinho o estilo? Claro que não, porque em seguida manda CRISTO DE SAN JUAN DE LA CRUZ (desculpe antecipar) em que Ele se julga o próprio Deus, olhando seu filho crucifixado.
    Dali fazia tudo pensado e fazia questão de provocar o status quo atrasado e míope da época.
    Era um gênio com a cabeça em outra época, e não é a nossa.

    Abração

    Mário Mendonça

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